1.ª edição.
Edição original desta obra invulgar, porventura das menos conhecidas do autor, que inclui duas novelas.
"Este livro é um livro de verão. Fez-se para ser lido á
sombra de uma arvore copada, á hora do meio dia, quando póde prestar-se apenas á
leitura uma vaga attenção, e quando portanto se querem livros de enredo ligeiro
e risonho, que nem resolvam problemas, nem arripiem os nervos.
As Astucias de
Namorada estão escriptas ha largo tempo. As aventuras do seu manuscripto
davam assunto a outro romance. Teem de curioso o ser o seu entrecho baseado sobre
um facto succedido realmente em Lisboa. Ha de haver leitores que o taxem de
inverosimil, pois saibam que é verdadeiro. Mais uma vez tem razão Boileau.
Le vrai peut
quelquefois n’etre pas vraiseblable.
O romance que fecha o volume, e que se intitula Um melodrama em Santo Thyirso, ponho-o
aqui a titulo de curiosidade archeologica. Foi a minha estréia no jornalismo.
Fundára-se a Gazeta de Portugal. Eu
tinha conhecimento pessoal do seu proprietario, Teixeira de Vasconcellos.
Procurei-o para lhe lêr o romance. Elle ia sair.
- Deixe-me vêr alguma coisa que lhe pareça melhor, disse-me
elle.
Li-lhe tremendo a scena em que Eduardo descreve as physionomias
dos litteratos lisbonenses. Teixeira de Vasconcellos rio-se, e tirou-me das
mãos o manuscripto.
- Il y a quelque chose
lá, continuou elle, isto para estreia basta. O seu romance ha de ser
publicado.
E foi. Estava eu baptisado folhetinista."
(Excerto do Prólogo)
"Havia baile, ou antyes sarau dançante n'uma casa em Almada.
N'um pequeno jardim, que se espraiava até á beira dos rochedos pendurados sobre o rio, vinham os grupos dos convidados descançar um pouco das polkas e das valsas, respirar, e relancear os olhos pelo delicioso panorama do Tejo, em cujas aguas traçava a lua como uma estrada argentea.De quando em quando enchia-se o jardim de risos, de segredinhos; a lua illuminava por entre as folhas roupas alvantes, que passavam fulctuando como o véo dos sylphos; depois pelas janellas abertas da sala saía uma bafagem de harmonia, proveniente dos primeiros compassos d'uns lanceiros... [...]
N'um dos intervallos das polkas, e quando o jardim se povoava de novo com os fugitivos do baile, um par, mais fatigado talvez que os outros, veio sentar-se n'uma especie de caramanchão, que ficava na extremidade do jardim, mais proximo da orla do rochedo, e por conseguinte quasi suspenso, como um ninho de gaivotas sobre as aguas. Devo rectificar o que disse; não foram ambas as pessoas indispensaveis para formarem um par, não foram ambas as pessoas, que se sentaram; só o fez uma senhora de vinte e cinco annos talvez; alta, elegante, morena e viva, de olhos rasgados e cabellos negros, que scintillavam como o ébano á luz brilhante da lua cheia.
O cavalheiro ficou de pé, apesar de sua gentil companheira lhe ter visivelmente proporcionado um logar junto de si..."
(Excerto de Astucias de namorada - Cap. I)
Manuel Pinheiro Chagas (1842-1895). "Escritor português nascido a 12 de Novembro de 1842, em
Lisboa, e falecido a 8 de Abril de 1895, na mesma cidade, Manuel Joaquim
Pinheiro Chagas foi também um célebre polígrafo da segunda metade do
século XIX, jornalista, poeta, novelista, historiador, dramaturgo,
crítico literário e tradutor (de Ponson du Terrail, Alexandre Dumas,
Octave Feuillet, Alfred de Vigny e Jules Verne, entre outros autores).
Interessou-se pela política, tendo-se notabilizado como orador e tendo
exercido os cargos de deputado pelo Partido Regenerador e de ministro da
Marinha, em 1883. Ocupou, entre várias funções, o cargo de professor no
Curso Superior de Letras, para o qual concorreu com Teófilo Braga. Em
1865, publicou o Poema da Mocidade, cujo posfácio, assinado por
António Feliciano de Castilho, seu amigo, viria a suscitar a Questão
Coimbrã, na qual Pinheiro Chagas tomou parte, com o opúsculo Bom senso e bom gosto. Folhetim a propósito da carta que o sr. Antero de Quental dirigiu ao sr. A. F. de Castilho, onde defendeu Castilho, contestando a novidade e a substância das ideias literárias sustentadas por Antero. Em 1869, publicou A Morgadinha de Valflor,
que o notabilizaria como dramaturgo. Em 1871, interveio a favor do
encerramento das Conferências Democráticas do Casino. Fundou, em 1876, o
Diário da Manhã, mas colaborou em variadíssimos jornais e revistas, entre os quais O Panorama, Arquivo Pitoresco, Gazeta de Portugal, Jornal do Comércio, Diário de Notícias, A Ilustração Portuguesa, Revolução de Setembro e Artes e Letras.
Neles assinou numerosos artigos de crítica literária, em parte
recolhidos nos volumes Ensaios críticos e Novos ensaios críticos, de
1866 e 1867, respectivamente. Conhecido hoje em dia sobretudo pelo
conservadorismo das posições assumidas contra a Geração de 70 e pelo
convencionalismo da sua obra literária, excessivamente marcada pelo
ultra-romantismo, Pinheiro Chagas mereceria porventura uma releitura,
principalmente no tocante à sua produção como crítico literário.
Pinheiro Chagas deixou-nos livros magníficos, onde demonstra as suas
imensas faculdades intelectuais, de entre os quais ressaltam títulos
como A Flor Seca, Os Guerrilheiros da Morte, O Terramoto de Lisboa e A Mantilha de Beatriz."
(Fonte: Wook)
(Fonte: Wook)
Encadernação coeva inteira de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado de conservação, com um ou outro pico na lombada.
Exemplar em bom estado de conservação, com um ou outro pico na lombada.
Raro.
20€
Sem comentários:
Enviar um comentário