CORRÊA, Antonio Augusto Mendes - O GENIO E O TALENTO NA PATHOLOGIA (esboço critico). Porto, Imprensa Portugueza, 1911. In-8.º (20 cm) de [6], 184 p. ; il. ; E.
1.ª edição.
Importante ensaio dedicado à análise das capacidades artísticas evidenciadas por pacientes internados em instituições consagradas às doenças do foro psiquiátrico, e outras patologias que, não se enquadrando nessas, eram tratadas como tal.
Primeira obra do autor, tendo servido de dissertação final ao curso de Medicina na Escola Médico-Cirúrgica do Porto.
Livro ilustrado com 17 figuras, sendo a maior parte em página inteira, reproduzindo trabalhos de doentes, os mais variados: desenho; pintura; artefactos de madeira, partituras, etc., produzidos em Rilhafoles, mais tarde Hospital Miguel Bombarda (Lisboa), e no Hospital do Conde Ferreira (Porto).
"São velhos e banaes os conceitos de que «não ha grandes homens para os seus creados de quarto» e de que creaturas de mentalidade superior «não teem o juizo todo». A não ser que uma idolatria apaixonada, motivada as mais das vezes por uma conformidade de opiniões, venha suspender um tal criterio depreciativo, a cada passo de apontam, a meia voz e entre risinhos ironicos, excentricidades, manias bizarras, singularidades intimas, extravagancias ridiculas de creaturas notaveis, o que se leva tudo á conta de perturbações de saude mental. [...]
O medico moderno abandonou o papel restricto dos seus antecessores e, firmado na somma enorme de conhecimentos que a sciencia lhe fornece, entrou de alargar legitimamente o seu campo de acção. A medicina hoje tem, por exemplo, um importante aspecto social e ao medico exige-se em muitos casos que seja doublé de sociologo. Na hygiene, em medicina legar, etc., o medico não é o physico antigo, o remoto cirurgião, o humillimo curandeiro archaico, mas um verdadeiro sociologo, que põe em jogo factos sociaes e intervem poderosamente na vida colectiva das sociedades humanas.
Um campo novo se lhe abriu tambem na psychologia. O fôro da consciencia era antigamente quasi do exclusivo dominio do ministro da religião. A actividade do espirito não era devassada habitualmente pelo medico; nas proprias perturbações mentaes, nos casos de loucura, chamava-se o padre para com bençãos e exorcismos expulsar o espirito maligno do desventurado possesso, ou, com um pittoresco optimismo e uma crendice suprema, cuidava-se - noutras épocas - de adorar as victimas de taes perturbações como se uma inspiração divina sobre ellas tivesse baixado."
(Excerto de A medicina e a critica)
Matérias: A medicina e a critica. | Conceitos do genio e do talento. | A historia da questão da morbidez do genio e do talento. | As doutrinas de Moreau ( de Tours) e de Max Nordau. | A doutrina de Lombroso. | O genio e o talento nos alienados. | Conclusões.
António Augusto Esteves Mendes Correia (1888-1960). "Antropólogo português, nasceu a 4 de abril de 1888, no Porto, e morreu a 7 de janeiro de 1960, na cidade de Lisboa. Licenciou-se em Medicina em 1911 e foi nomeado assistente de Ciências Biológicas na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, onde começou a ensinar Antropologia. Dois anos mais tarde, em 1913, fez provas públicas nesta mesma faculdade, apresentando a dissertação: "Os Criminosos Portugueses (Estudos de Antropologia Criminal)".
Apesar de ser licenciado em Medicina, António Mendes Correia dedicou-se sobretudo ao ensino e à investigação científica. Foi professor de Geografia e Etnologia na Faculdade de Letras do Porto e Professor Catedrático da Faculdade de Ciências da mesma cidade. Para além da docência, Mendes Correia ocupou diversos cargos diretivos, tendo sido Diretor do Instituto de Investigação Científica de Antropologia da Faculdade de Ciências do Porto (1923), Diretor da Escola Superior Colonial, que mais tarde se veio a chamar Instituto Superior de Estudos Ultramarinos (1946), e Presidente da Sociedade de Geografia de Lisboa (1951), entre outros.
António Mendes Correia ajudou ainda a fundar diversos institutos, sociedades, museus e laboratórios científicos tais como o Museu Antropológico do Instituto de Antropologia da Universidade do Porto e a Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia. No âmbito da política, foi Presidente da Câmara Municipal do Porto de 1936 a 1942 e Deputado da Assembleia Nacional a partir de 1945.
António Mendes Correia foi um dos nomes mais importantes da Antropologia portuguesa do século XX. Para além de professor de Antropologia, Mendes Correia soube acompanhar as mais relevantes correntes do seu tempo e contribuir para a sedimentação desta ciência em Portugal.
Conhecedor de múltiplos saberes, Mendes Correia publicou inúmeros estudos no âmbito da Antropologia, Arqueologia, Criminologia e História. Da sua vastíssima obra destacam-se as seguintes publicações: 1911, O Génio e o Talento na Patologia; 1913, Criminosos Portugueses; 1915, Crianças Delinquentes; 1915, Antropologia; 1919, Raça e Nacionalidade; 1921, Homo; 1924, Os Povos Primitivos da História; 1925, A Antropologia nas suas relações com a Arte; 1931, A Nova Antropologia Criminal; 1932, Origens da Cidade do Porto; 1934, Da Biologia à História; 1940, Da Raça e do Espírito; 1946, Uma Jornada Científica na Guiné Portuguesa; 1954, Antropologia e História.
(Fonte: infopédia)
Encadernação em meia de percalina com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado de conservação.
Raro.
Indisponível
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