02 dezembro, 2022

CAVACO, Faustino - VIDA E MORTES DE FAUSTINO CAVACO. Organização de: Rogério Rodrigues. Lisboa, Euroclube, 1988. In-8.º (21,5 cm) de 516, [4] p. ; C.
1.ª edição.
Memórias de Faustino Cavaco, conhecido assassino, assaltante de bancos, que na sua fuga da cadeia de alta segurança de Pinheiro da Cruz (Grândola), em 1986, deixou atrás de si um rasto de mortos e feridos.
"A 29 de Julho de 1986 [...] seis perigosos reclusos tinham conseguido fugir da cadeia de Pinheiro da Cruz, a vinte quilómetros de Grândola, deixando para trás três guardas prisionais mortos e outros dois feridos com alguma gravidade. [...] No interior do edifício, destruíram o rádio para impedir comunicações com o exterior e arrombaram o armeiro de onde tiraram quatro G3 e cinco pistolas. Três guardas que tentaram travar a fuga foram abatidos a sangue-frio e outro ficou ferido. Outros três foram feitos reféns e usados como escudo pelos cadastrados para chegarem ao exterior. [...] Pinheiro da Cruz demorou meia hora a alertar o posto da GNR mais próximo, situado a 25 quilómetros, por só haver uma linha telefónica. [...] No final do dia, havia uma certeza: aquela era a fuga mais sangrenta na história das prisões portuguesas."
(Fonte: https://observador.pt/especiais/faustino-cavaco-a-fuga-da-prisao-que-parou-o-pais/)
Inclui no final um glossário dos termos utilizados pela banditagem entre si.
"José Faustino Cavaco é o anti-herói. Ninguém que mereça a nossa piedade nem o nosso respeito. É o que foi um jovem que matou seis pessoas, por revolta, por medo, por vezes, gratuitamente.
Condenado à pena máxima pelos tribunais portugueses, marcado por humilhações, vexames e mesmo violências insuportáveis por parte do sistema prisional português, um universo contraditório e, com frequência, arbitrário, José Faustino Cavaco, encerrado, durante meses, na solitária de Coimbra, começou a escrever as suas memórias (curtas mas intensas), um morrer diário com vidas de ontem.
Com uma grande capacidade narrativa, capas de criar situações e desenvolver instantes e gestos com uma intuição e facilidade que não deixam de nos surpreender, este livro, a que eu tive acesso em primeira mão, num original de letra esguia, azul, angustiada, é um ajuste de contas com a vida, uma certa predisposição para não-viver.
Os seus protagonistas são crápulas e vulgares, volúveis e venais, sem gestos de honra nem actos de coragem, sem códigos nem organização, agindo sob as necessidades de momento.
Faustino Cavaco fez parte e um bando comummente conhecido por FP-27 que realizou mais assaltos a bancos, em Portugal, que qualquer outra quadrilha.
Mas não se pode dizer que pertencia a uma organização complexa, com núcleos estanques e apurados estudos de alvos a atingir.
Faustino Cavaco era um operacional de caçadeira de canos serrados. Fazia parte de um pequeno grupo que quatro ou cinco elementos, expressões nocturnas e excepcionais, de jovens perdidos na comunidade portuguesa, emigrada em França.
Foi por casualidade que o original me veio parar às mãos. Mais tarde encontrámo-nos na cadeia de Coimbra. E falámos sobe o livro. Faustino Cavaco parecia desejar muito pouco a vida. Era sua  obsessão que, dia mais dia menos, pode ser abatido. A sua única referência futura é o futuro da sua filha, a sua paixão,o único elo que o liga à vida. [...]
Não me compete emitir juízos de valor. Que cada um faça os seus. Penso, isso sim, que este desfilar de misérias, de sofrimento e grandes carências de toda a ordem, é um apelo à sensibilidade do leitor, à descoberta de um tempo quase único - de brusquidão, de ternura mortal, de infância às tiras, num universo onde só cabem os sobreviventes.
Mas as palavras de Faustino Cavaco falam por si.
Este é o seu último assalto, com tiros que não matam, mas doem."
(Excerto de Nota explicativa)
Índice:
Introdução. | A minha infância. | A minha ida para França. | A morte da minha mãe. | Um carrasco na pele da madrasta. | O «irmão» da minha ruína. | Regresso ao Algarve. | Regresso do meu pai. |! A morte do meu filho. | O princípio do meu fim. | O Pires chega de França. | Assalto ao banco de Beja. | A morte do Laginha e dos guardas-fiscais. | A GNR sem pistolas. | Assalto nas barbas da PJ. | Prisão do Michel. | Os últimos assaltos. | Dois de Janeiro de 1985 - O dia em que morri. | Pela primeira vez na prisão. | Entrada na Penitenciária. | O inferno de Pinheiro a Cruz. | A fuga para a morte. | Perseguição e captura. | As últimas horas. | Glossário.
Encadernação cartonada do editor.
Exemplar em bom estado de conservação.
Muito invulgar.
Com interesse histórico e criminal.
35€

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