14 dezembro, 2020

TABERNAS DE LISBOA.
Luis Pavão: fotografias. Mário Pereira: texto
. Lisboa, Assírio e Alvim, 1981. In-4.º (24x21 cm) de 34, [3] p. ; [94] p. il. ; B.
1.ª edição.
Importante monografia sobre as tabernas da capital com indubitável relevância cultural, etnográfica e sociológica.
Livro impresso em papel de superior qualidade, muitíssimo ilustrado com 98 belíssimas fotografias a p.b. de Luís Pavão ao longo de 94 páginas separadas do texto.
"Lisboa regista na segunda metade do séc. XIX uma grande modificação que acabará por marcá-la profundamente: a industrialização. A sua natureza e função, tradicionalmente comercial e administrativa sofrerá o impacto dos surtos industrializantes com as consequentes repercussões urbanísticas e demográficas. A capital, que, aquando do anterior grande enquadramento urbanístico que foi a baixa pombalina, tinha o seu termo em sítios como: Portas de Santa Apolónia, Convento de Arroios, Arco do Cego, S. Sebastião, Penha de França, Mirante da Ajuda e Campo de Ourique, até à fábrica da Pólvora em Alcântara, começa, a partir de meados do séc. XIX, a estender-se ao longo do Tejo e a crescer para Norte. [...]
Há bairros "bem arejados", que fornecem os passeantes do "Passeio Público", que fornecem os frequentadores das corridas de cavalos em Belém e as "coquettes" do S. Carlos, Coliseu e D.ª Maria, que fornecem ainda o dandismo que invade os cafés lisboetas, bem como os cafés-concerto que faziam as delícias da ostentativa burguesia da cidade... a esses bairros contrapõem-se os deploráveis e insalubres bairros operários (as "Vilas"), povoados por uma desenraizada população, sempre pronta a afogar no álcool a miséria, a incerteza e as frustrações. [...]
Mas o que é uma taberna?
Para um erudito do séc. XVIII (padre Raphael Bluteau), tabernas eram as casas "onde se vende vinho e algumas coisas de comer"; no entanto, como actividade económica, a taberna lisboeta manteve até aos nossos dias uma dependência onde se vendia carvão, que era uma fonte energética que vinha de fora (Coruche, Benavente e Santarém) e que era descarregado (no séc. XVIII) naquilo que hoje seria o terminal petrolífero, mas que na época era o "Cais do Carvão". Se a taberna tinha um interesse económico que as circunscrevia praticamente a estes dois produtos, a importância social e o interesse da taberna não se esgotam num petisco, num meio quartilho ou num saco de carvão. [...]
Esta é a realidade sociológica da taberna: um espaço de convívio, um espaço de contacto cuja autenticidade proporciona vivências excepcionalmente ricas. Os tipos de relações que se estabelecem assumem algo de proibitivo, algo que as estruturas mentais dominantes não aceitam como normal, assemelham-se a uma transgressão da ordem de valores dominantes. [...]
A taberna proporciona(va) um convívio diferente, único pela ambiência da marginalidade, limitado a uma (sempre renovável) noite de boémia, que poderia eventualmente ser interrompida por uma rusga."
(Excerto de A taberna : um espaço social)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capa apresenta pequena falha de papel na margem inferior.
Muito invulgar.
Com interesse histórico e olisiponense.
Indisponível

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