15 dezembro, 2020

CEBOLA, Luiz - A MENTALIDADE DOS EPILEPTICOS. Lisboa, Livraria Editora Viuva Tavares Cardoso, 1906. In-8.º (21,5 cm) de 172 p. ; [7] f. il. ; B.
1.ª edição.
Tese de final de curso do conhecido médico alienista Luís Cebola, discípulo de Miguel Bombarda (1851-1910), eminente médico e político republicano.
Com ilustrações intercaladas no texto reproduzindo sete desenhos de pacientes que integram o estudo.
"O ribombo da nuvem que faiscava na amplidão do ceu, o sibilo do vento ramalhando atravez das florestas colossaes, o marulho da onda encapelada e turva e outros phenomenos cosmicos aterravam o homem primitivo. Desconhecendo o seu determinismo, prostrava-se em oração ante esses factos que se lhe deparavam como phantasmas enigmaticos. Era o alvorecer das religiões, creadas pelo medo que o mysterio gerava. [...]
Com o advento da edade media e pathologia do Diabo attinge a maxima plenitude.
Os conventos guardam fervorosamente reliquias e tradições inuteis. Explora-se a crendice popular sob intuitos religiosos e politicos.
Os que não crêm nos designios supremos são torturados nos carceres ou queimados nas fogueiras. Alastram n'um crescente epidemico os delirios de hystero-demonopathia. Contra Belzebú proclama-se remedio efficaz o exorcismo. [...]
N'estas epocas d'obscurantismo, os alienados são perseguidos, atirados para masmorras infectas e por vezes entregues ao carrasco ou abandonados á sua miseria e inconsciencia. [...]
E ainda hoje, a despeito de tanyas maravilhas scientificas, o Prodigio e a Chiromancia assentam arraiaes nos meios mais requintados de progresso... [...]
Todavia, já muito se tem conseguido no campo da verdade. [...]
Com effeito a interpretação scientifica dos milagres e dos delirios fatidicos fez emmudecer os espiritos de segunda vista, explicando-se as convulsões diabolicas, as palavras interiores e as visões mysticas. Cavalgando o Sobrenatural, a Sciencia rasgou, emfim, o espantalho do Maravilhoso.
O cerebro, no emtanto, esconde ainda muitos segredos no fundo das suas circumvoluções. É preciso sonda-los, aprehende-los e traze-los a lume. O seu conhecimento da-nos o conhecimento do homem. [...]
Infelizmente as doenças nervosas tende a augmentar cada vez mais. Na sua etiologia avulta a intensidade da vida actual. Por seu turno, a syphilis e o alcoolismo ateiam a devastação organica dos esgotados que vemos todos os dias, em grande numero, baixarem aos manicomios.
Ao medico incumbe o dever d'investigar os motivos das aberrações physicas, fixar as diversas entidades morbidas e aconselhar aos profanos os preceitos da hygiene da alma. Inquirir, curar e moralisar. Eis o verdadeiro medico - psychologo, therapeuta e moralista."
(Excerto do preâmbulo)

Luís Cebola (Alcochete, 1876 - Lisboa, 1967). "Médico alienista, estudou no Colégio Almeida Garrett, em Aldeia Galega (actual Montijo), onde completou os três primeiros anos do curso liceal, sendo depois transferido para o Liceu Nacional de Évora. De 1895 a 1900, realizou a preparação para os estudos médico-cirúrgicos na Escola Politécnica de Lisboa. Estudou na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa de 1899 a 1906.
A decisão de seguir a especialidade de doenças nervosas ou psiquiatria surgiu, segundo Cebola, durante o 4.º ano do curso, após a leitura do livro, Les psychonévroses et leur traitement moral (1904), do neuropatologista suíço Paul Charles Dubois (1848-1918). Em 1906 defendeu a sua tese inaugural, A Mentalidade dos Epilépticos, sob a orientação do Professor Miguel Bombarda no Hospital de Rilhafoles. O objectivo do seu trabalho consistiu em investigar se havia alguma lei psicopatológica nos escritos e obras artísticas (desenhos, cartas, livros, etc.) dos epilépticos aí internados. Para além disso, pôs em causa a tese defendida por César Lombroso (1835-1909), médico legista italiano, na sua obra O Homem de Génio (1889). Nesta afirmava que o génio era uma condição mórbida, e resultava de uma psicose de natureza epiléptica. Cebola considerava que o maior erro desta tese era o de defender que a inspiração criativa apenas ocorria nos espíritos superiores. Segundo Cebola, o acto de inspiração artística obedecia aos mesmos processos em todos os homens, podendo apenas haver diferença de grau. Concluiu que o génio não era sinónimo de degeneração epiléptica, ou nas suas palavras, o homem de génio “é progresso e não degenerescência”. Foi publicado a 26 de Agosto de 1906, um artigo dedicado a este capítulo da tese de Luís Cebola, na revista dirigida por Miguel Bombarda, A Medicina Contemporanea."
(Fonte: wikipédia)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capa apresenta falha de papel no canto superior esquerdo. Mancha ténue de humidade atinge a capa e a f. anterrosto. A numeração das páginas não estará correcta; às primeiras 16 páginas (inumeradas), que inclui as folhas de rosto, anterrosto e preâmbulo, seguem-se as restantes com início na página 29, o que indicia encontrarem-se em falta 12 páginas do livro, desmentidas no entanto pela sequência lógica da obra, que aparenta não existirem faltas, mas sim numeração errada.

Muito raro.
Com interesse histórico e clínico.
Sem registo na BNP.
Indisponível

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