06 novembro, 2024

VARELA, A. -
UM EPISODIO DO REINADO DE D. JOÃO V : romance historico. Por...
Lisboa, Typographia Progressista, 1874. In-8.º (16x11,5 cm) de 204, [4] p. ; B.
1.ª edição.
Interessante romance histórico, dedicado pelo autor a João Pereira Forjaz.
"Á obsequiosa condescendencia de dois amigos devo a publicação d'este livro. Um, que me deu a ler a chronica inedita, propriedade sua, d'onde extrahi a parte historica, é cavalheiro amador das letras, natural do Porto. O outro, que me abonou as despezas de impressão, igualmente cavalheiro amador e cultor das letras, é abastado proprietario no Fayal e residente em Lisboa."
(Excerto de Nota)
Obra rara e muito curiosa, com fundo verídico, por certo, com tiragem reduzida.
"Corria o decimo primeiro mez do anno 1706, ulltimo do reinado de D. Pedro II, cognominado O pacifico.
Este rei, apesar do cognome, não tivera a paciencia de ver a mulher que amava, ou julgava amar, pertencer como esposa a seu irmão D. Affonso VI, e por isso, usurpando-lhe o reino para lhe usurpar a esposa, ou a esposa para lhe usurpar o reino, tratou de desterrar o irmão para o castello da ilha Terceira, ficando elle, D. Pedro, regendo Portugal até ao fallecimento do infeliz rei que, depois de ter sido transportado da Terceira para Cintra, ali morreu quasi subitamente, minado de desgostos e decepções.
D. Pedro II governou frouxamente o reino até 8 de dezembro de 1706, e cheio de remorsos, certamente pelo que fizera a seu irmão; quando estava in extremis, depois de ser exhortado pelo padre jesuita, Sebastião de Magalhães, que lhe assistiu aos ultimos momentos, a que morresse em bom catholico, respondeu: «E eu, por meus peccados, sou menos que nada, mas ainda que sou grande peccador, estou com muita confiança na piedade Divina, que me ha-de perdoar.»
Depois d'isto mandou chamar o principe D. João, seu filho, ao diante D. João V, e fez-lhe um discurso moral e philosophico, segundo as suas forças intellectuaes, que commoveu, e arrancou lagrimas a todos os cortezãos presentes."
(Excerto do Cap. I - A taberna da Lebre Assada)
"Andreza ficando só, disse comsigo, depois de ver a morosidade com que o marido caminhava a executar as suas ordens:
- Ah! que se Deus me tivesse feito homem...
E não acabou a phrase, porque n'este momento alguem bateu á porta da rua.
Andreza não perguntou logo quem batia, para fazer a seguinte reflexão:
- Olá! quem será que bate tão tarde?! É decerto mais algum valdevinos. Pois não lhe abro a porta, ha-de esperar os seus camaradas na rua.
Ainda ella não terminára esta idéa, quando bateram de novo e com mais força.
Andreza exasperou-se do atrevimento e pertinacia do recem-chegado, sobre tudo a horas mortas como ella lhe chamava, porque sendo apenas dez horas da noite, n'aquella época correspondia á madrugada de hoje, que apenas se veem pelas ruas raros transeuntes, os quaes as atravessam rapidamente, para irem gosar nos leitos as delicias proporcionadas por Morpheu, ou então que cessaram de as gosar, para se entregarem aos trabalhos da vida."
(Excerto do Cap. II - Zé das Lebres)
A. J. Pereira Varela (?-1878). Romancista e dramaturgo português. Pouco se sabe a seu respeito, a não ser a paternidade de algumas obras que constam da base de dados da BNP, sobretudo pequenas comédias teatrais. Com alguma dimensão literária importa salientar o romance social em 2 vols Os miseraveis da aristocracia (1864), o "policial" Um processo-crime (1870) e o romance histórico Um episodio do reinado de Dom João V (1874).
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Aparado à cabeça. Capas frágeis com defeitos, oxidação e falha de papel no canto superior direito.
Muito raro.
75€

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