02 novembro, 2024

ANTUNES, Nuno Alvaro Brandão -
PORTUGAL NA GRANDE GUERRA - O 9 de Abril de 1918 e o Marechal Hindemburgo.
[Por]... Capitão do Grupo de Batarias a Cavalo
. Lisboa, J. Rodrigues & C.ª Editores, 1924. In-4.º (24,5 cm) de 116 p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Processo de reparação iniciado pelo autor - oficial português de artilharia - após a "desconsideração" do Marechal Paul von Hindenburgh - comandante das forças alemãs durante a conflagração - que no seu livros Mein Leben ("Minha vida"), apreciou desfavoravelmente o comportamento das tropas portuguesas do C. E. P. durante a batalha de La Lys, sugerindo que retiraram desordenadamente aquando do ataque germânico, abandonando as suas posições e os aliados.
Obra rara, com indubitável interesse histórico - a mais completa que sobre este assunto se publicou. Para além do fac-símile da carta de von Hindenburgh retratando-se, inclui as considerações estratégico-militares do autor relativas aos antecedentes da batalha e o decorrer da mesma, em que participou, bem como correspondência diversa e felicitações de camaradas de armas pela sua iniciativa.
Livro ilustrado com o retrato do Cap. Nuno Antunes na folha de dedicatória.
"Fiz parte da missão de artilharia que em dezembro de 1916 partiu para França. Dissolvida esta, passei para a segunda bataria do grupo de obuzes, que depois passou a ser a 4.ª bataria do 2.º G. B. A. Dissolvido este, após o 9 de abril, pertencia à 3.ª bataria do 6.º G. B. A. e a esta bataria pertencia quando, em março de 1919, regressei definitivamente a Portugal.
Na missão, com poucos soldados lidei porque só havia os impedidos conôsco. Foi na 4.ª bataria do 2.º G. B. A. que conheci todo o grande valôr do nosso homem, durante os longos mezes que com eles estive na frente. É para esses, principalmente, que vae todo o meu pensamento. [...]
Quando me entrego a essas recordações, vejo perpassar, como num «écrain», todos os episodios da nossa vida em comum, sob a ameaça constante da morte. Vejo aqueles nossos belos homens olharem-nos com uma fé enorme quando eramos bombardeados; lia-lhes nos olhos a confiança sem limites que em nós depositavam. Tenho a certeza de que nenhum fanatico sentirá uma crença mais  sincera e mais profunda ao prostrar-se deante dos seus idolos, do que a que eles experimentavam quando a nós se chagavam nos momentos de perigo, como se constituissemos uma protecção invulneravel. São olhares que jamais podemos esquecer; são atitude que jamais poderão apagar-se da nossa memoria.
Vejo-os sempre alegres e bem dispostos, apezar do excessivo labor a que estavam sujeitos, encherem sacos e terra, transportarem carris, construir abrigos, sempre na melhor das disposições.
Vejo-os na escuridão da noute, olharem anciosos na direcção da frente, quando ouviam a metralhadora crepitar nervosamente, esperando os sinaes de S. O. S., a que eles queriam responder com a maxima presteza, para assegurarem a protecção ao seu camarada infante pondo, nos olhos primeiro, nos actos depois, todo o ardor o seu sangue generoso e heroico que um coração sublime impulsionava. [...]
Vejo-os, enfim, belos no conjunto, admiraveis no detalhe e deles conservo a mais dôce recordação, mixto de ternura e admiração.
Foi n'eles que encontrei força moral para escrever a minha carta; foram eles que, pela sua atitude, me impuzeram a tentativa feita. Com soldados destes, quem se não sentiria com força para enfrentar alguem, mesmo que esse alguem fôsse o mais famoso cabo de guerra adverso?!"
(Excerto da explicação)
Exemplar brochado, por abrir, em bom estado de conservação.
Raro.
Com interesse histórico.
45€

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