SERRÃO, Arnaldo - ASTRÉA : episodio historico. Lisboa, [Edição do Autor]. Composto e Impresso na Imprensa de Manuel Lucas Torres, 1915. In-8.º (21,5x14 cm) de 211, [5] p. ; E.
1.ª edição.
1.ª edição.
Romance em que a história se confunde com a lenda, cuja acção decorre desde o período da fundação da nacionalidade até à morte de D. Afonso Henriques, e tem como tema principal a contenda pela "posse" de Erycina (cujo nome de baptismo seria Teresa ou Sancha) entre Sancho Nunes de Barbosa e Gonçalo (Fernão?) de Bragança, também conhecido pelo "Braganção", sendo uma das versões da sofrida vida desta irmã do primeiro rei português, por ele repudiada, com sua mãe, após S. Mamede.
O autor não nutre particular simpatia pelo monarca, que reputa de bárbaro e ardiloso, entre outros epítetos, e propõe-se, com este livro, "iniciar um genero esquecido de litteratura: a litteratura do antigo".
Obra rara e muito interessante, por certo com tiragem reduzida. Pouco foi possível apurar acerca de Arnaldo Serrão, a não ser que, além de Astréa, tem outro livro registado em seu nome na BNP: Vida passada, publicado em 1914 (1 exemplar de cada).
"A avalanche passou.
E dos casebres escuros saiu ao caminho a pobre gente dos campos, tremula, silenciosa, com o susto na face e o assombro no olhar, deixando-se ficar a fazer o signal da cruz e a vel-os ir, a vel-os ir lá ao longe, cada vez mais longe, tempestade que se afasta, legião de demonios que vôa, com pragas, com gritos, com uivos, levando diante de si a morte e deixando ficar atrás de si a sombra do pavôr.
Tropel de cavallos e tinidos de armas perturbam a serenidade dos campos e a avalanche de ferro, onda devastadora, segue impetuosa como o cyclone, terrivel como a tormenta, sinistra como a ira dos deuses. [...]
Quem são estes guerreiros negros que como Mucio Scevola não temem a morte e escarnecem da dôr?
Cavalleiros de Christo.
Pelotões cerrados de selvagens, d'estes que não dão nem recebem quartel aonde vão?
Á conquista.
Quem os guia?
Uma creança!
Uma creança, sim, creança loura, imberbe, de olhos azues, muito azues, quasi candidos, creança com hombros de gigante e todas as proporções de um athleta, que vae lá adiante, adiante de todos, a sorrir-lhes, a attrahil-os, a leval-os á morte. [...]
E seguem, como matilha de cães raivosos, o seu guia, o seu chefe, o cavalleiro imberbe que lhes sorri e com o olhar scintilante os arrasta atrás de si. [...]
E a creança sorrindo sempre, incita os seus cavalleiros, os seus bandidos, chama-os, leva-os, e bello, grandioso, audaz, brada:
- Por S. Thiago!... Por S. Thiago!... Avante!
A este appello responde um rugido de mil gargantas:
- Por Affonso! Avante!"
(Excerto de I - O abutre)
Indice:
Prefacio | Introducção | I - O abutre. II - O sonho de Erycina. III - São Mamede. IV - Alma negra. V - Um voto. VI - Campo de Ourique. VII - Condestavel! VIII - Tres vezes perdida! IX - Badajoz. X - Astréa! | Notas.
Encadernação em percalina com ferros gravados a ouro na lombada. Conserva a capa de brochura frontal.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Pastas manchadas.
Raro.
45€
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