16 abril, 2024

HERCULANO, Alexandre - EURICO. Por... Precedido de uma apreciação litteraria por J. M. Velho da Silva. Rio de Janeiro, Imprensa Industrial, 1877. In-8.º (15,5x10,5 cm) de XV, [1], 287, [1] p. ; E.
1.ª edição brasileira.
Estamos em presença, cremos, da primeira edição brasileira de Eurico o Presbítero, lançada poucos meses após a morte do historiador. A "apreciação literária" de Velho da Silva data de 9 de Novembro de 1877, tendo Herculano falecido a 13 de Setembro do mesmo ano. Existe uma edição deste romance impressa no Brasil com o título completo - Eurico, o Presbytero - algo que não acontece na presente ("Eurico" apenas) - com data de 1907, e a seguinte inscrição na f. rosto: "1.ª edição brasileira (cuidadosamente revista)". Raro. Não existe menção ou referência bibliográfica a este livro, quer em Portugal quer no Brasil.
"Os applausos e as censuras os escriptores vivos, pódem vir de origem duvidosa. Os assombros por sublimidades apparentes, as lisonjas que a mediocridade sóe empregar para engrandecer-se á sombra da grandeza de um nome, ou as invejas maldizentes pelas primazias que se admiram e o desejo parvo dos que desejam levantar-se sobre ruinas magestosas, pódem erigir altares ás divindades rusticas dos gaulezes e apedrejar como os iconoclastas ao Jupiter de Phidias ou á Venus de Praxiteles.
A personalidade litteraria de Alexandre Herculano é hoje historica porque a posteridade apoderando-se de seu nome já o estampou no livro dos seculos."
(Excerto da Apreciação litteraria)
"No reconcavo da bahia que se encurva ao oeste do Calpe, Carteia, a filha dos phenicios, mira ao longe as correntes rapidas do estreito de devide a Europa da Africa. [...] Debaixo do governo de Witiza e de Ruderico a antiga Carteia é uma povoação decrepita e mesquinha, a roda da qual estão espalhados os fragmentos da passada opulencia, e que, talvez, na sua miseria, apenas nas recordações, que lhe suggerem esses farrapos de louçainhas juvenis, acha algum refregerio ás amarguras de malfadada velhice.
Não! - Resta-lhe ainda outro: a religião de Christo.
P presbyterio, sityuado no meio da povoação, era um edificio humilde, como todos que ainda subsistem alevantados pelos godos sobre o sólo de Hespanha. [...]
O presbytero Eurico era o pastor da pobre parochia de Carteia. Descendente de uma antiga familia barbara, gardingo na côrte de Witiza, tiuphado ou millenario do exercito wisigothico, vivêra os ligeiros dias da mocidade nos deleites de opulente Toletum. Rico, poderoso, gentil, o amor viera, apesar disso, partir a cadêa brilhante da sua felicidade. Namorado d'Hermengarda, filha de Favila duque de Cantabria, e irman do valoroso e depois tão celebre Pelagio, o seu amor fôra bem infeliz. O orgulhoso Favila não consentira que o menos nobre gardingo pusesse tão alto a mira dos seus desejos. Depois de mil provas de um affecto immenso, de uma paixão ardente, o moço guerreiro vira submergir todas as suas esperanças."
(Excerto de II - O Presbytero)
Alexandre Herculano de Carvalho Araújo (1810-1877). "Natural de Lisboa é, a par de Almeida Garrett, figura fundadora do Romantismo em Portugal. Historiador, ensaísta, ficcionista, jornalista, político, polemista e poeta na fase de juventude, estudou Humanidades, fez estudos práticos de Comércio, de Diplomática (Paleografia) e de línguas. Liberal, envolveu-se na revolta do Regimento de Cavalaria 4 (1831) contra o regime absolutista, o que o levou ao exílio em Inglaterra, depois em França. Em 1832 segue rumo aos Açores, para integrar o contingente de tropas leais a D. Pedro que vêm a desembarcar no Mindelo. Após a vitória foi nomeado bibliotecário na Biblioteca Pública do Porto (1833-36). Data desse período o texto relativo à situação da Literatura portuguesa em geral Qual o estado da nossa literatura? Qual o trilho que ela pode seguir? e Poesia - Imitação - Belo - Unidade publicados no «Repositório Literário» (1834-35). Já em Lisboa publica A Voz do Profeta (1836-37) com propósitos panfletários anti setembristas, funda e dirige «O Panorama», revista literária do primeiro romantismo português em cujas páginas dá à estampa O Bobo (1843 - em livro só em 1878) e O Pároco da Aldeia (1844) e dirige o «Diário do Governo». Nomeado bibliotecário-mor das bibliotecas da Ajuda e das Necessidades em 1839, desenvolveu intensa investigação documental que deu origem a História de Portugal (1846-53) e a História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal (1854-59). Foi deputado pelo Partido Cartista (1840-41) e, em 1856, integrou o grupo de fundadores do Partido Progressista Histórico. Entretanto havia-se batido contra a censura da imprensa (1850), escreveu e dirigiu jornais - «O País» (1851), «O Português» (1853). Entre 1860-1865 participou na redação do 1º Código Civil Português o que lhe valeu uma das grandes polémicas que manteve com o clero. Em 1867, casou-se e retirou-se para a sua quinta em Vale de Lobos (Santarém) dedicando-se à produção de azeite e trabalhando nos Portugaliae Monumenta Histórica."
(Fonte: https://acpc.bnportugal.gov.pt/colecoes_autores/n86_herculano_alexandre.html)
José Maria Velho da Silva (Rio de Janeiro, 1811-1901). "Foi um romancista, orador, poeta, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, mordomo da Casa Imperial, superintendente da Imperial Fazenda de Petrópolis e professor brasileiro. Segundo José Veríssimo, na sua História da literatura brasileira, pertenceu como poeta à primeira fase romântica brasileira, embora, como teórico fosse afeito ao estudo da retórica, vinculada à estética antecedente. É autor de um único romance, Gabriela (Rio, Imprensa Industrial, 1875), comparado às Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antonio de Almeida. A segunda edição é do ano seguinte. Sua extensa obra se divide ainda em livros didáticos, biografias, discursos e estudos variados. Foi nomeado conselheiro."
(Fonte: Wikipédia)
Encadernação coeva em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada, Sem capas de brochura. F. rosto alvo de restauro.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Cansado, com pequenas falhas e defeitos.
Muito raro.
Com interesse histórico e bibliográfico.
Sem registo na BNP.
75€

Sem comentários:

Enviar um comentário