AMORIM, Francisco Gomes de - ODIO DE RAÇA. Theatro de... Socio da Academia Real das Sciencias de Lisboa, Conservador da Bibliotheca e Museu Naval. Lisboa, Typ. Universal de Thomaz Quintino Antunes, 1869. In-8.º (17x11,5 cm) de 368, [4] p. ; B.
1.ª edição.
Peça emblemática da produção literária do autor, reporta ao problema do esclavagismo, sendo esta uma das suas mais apreciadas obras.
Relativamente à peça, e às suas motivações, com a devida vénia a Silvia Cristina Martins de Souza, reproduzimos um excerto da sua comunicação apresentada ao 31.º Simpósio Nacional de História, RJ, 2021, intitulada: “É gente que fala muito em liberdade e negoceia em escravatura - Um modo de ler ódio de raça de Francisco Gomes de Amorim":
"A passagem pelo Brasil deixou marcas em Gomes de Amorim. Segundo ele
próprio, foi em Belém que teve contato pela primeira com a escravidão. Foi lá também
que começou a “envergonhar-se por não saber ler” e transformou-se num obstinado
autodidata. [...] Com o apoio de Garrett ele dedicou-se às letras e acabou por tornar-se poeta,
romancista, folhetinista e dramaturgo. [...] Na dramaturgia, Gomes de Amorim ingressou em 1851, com o drama Gighi. Na
sequência vieram a comédia A Viúva; o provérbio dramático O casamento e a mortalha
no céu se talha, e o drama Ódio de Raça. Este último foi escrito por incentivo de
Garrett, após este lhe dar para ler o projeto de lei do Marquês de Sá da Bandeira para
extinguir a escravidão dos domínios portugueses. Garrett lhe teria sugerido escrever
“um ou mais dramas” que ´pusessem em relevo os horrores da escravidão que Amorim
conhecera de perto no Brasil, proposta que foi por ele acatada e posta em prática."
"No anno de 1854 foi apresentado ao conselho ultramarino um projecto de lei para a extincção da escravidão nos dominios portuguezes. Não era já sem tempo que Portugal pretendia lavar da sua historia a nodoa infamante de ter sido o iniciador do trafico de negros, e o auctor do projecto, movido pelas idéas generosas que inspiraram Pitt, Wilberforce e Canning, queria que a sua patria não fosse a ultima nação que pagasse esta divida de honra á humanidade opprimida. Vinte annos antes a liberal Inglaterra, em harmonia com o elevado pensamento que a tinha feito proclamar a abolição do trafico, despejára o seu erario e fizera homens dos tresentos mil escravos das suas colonias. A França republicana seguira-lhe o exemplo em 1848; e, desde então, a Hespanha e Portugal tornaram-se, na Europa, os unicos responsaveis perante Deus e os homens pelo crime do captiveiro dos pretos. [...]
Ao leitor portuguez pçoderão parecer exageradas algumas das scenas do Odio de raça; affirmo-lhe, porém, que não houve encarecimento na pintura; copiei do natural. Sendo a escravidão o maior e o mais odioso de todos os crimes, tudo n'ella é possivel. Disse Peel, n'um relatorio escripto em 1829, que se reconhecera conter um navio negreiro a maior somma de crimes, tormentos e profanações humanas que se podem accumular n'um determinado espaço. Imagine-se pois que resultados dará a esse contrabando de carne humana, esse comercio inspirado pela mais desenfreada cubiça, essa infamia das infamias! A morte é o menor dos males para as tristes victimas de tão ignominioso negocio. Os miseros são caçados pelos seus similhantes como feras bravas, amarrados, encurralados nos porões dos navios, e felizes d'elles se um cruzador de guerra dá caça ao negreiro! Para tornar a embarcação mais veloz na fugida, alija-se carga pela borda fóra, e semeia-se o oceano de cadaveres."
(Excerto de Introducção)
Francisco Gomes de Amorim (Avelomar, Póvoa de Varzim, 13 de agosto de
1827- Lisboa, 4 de novembro de 1891). "Poeta, jornalista e dramaturgo
português, emigrou com dez anos para o Brasil, tendo sido caixeiro, em
Belém do Pará. Vítima dos maus tratos de patrões portugueses, Gomes de
Amorim fugiu para o sertão amazónico, onde por acaso encontrou, na
cabana de uma família indígena, o poema Camões, de Almeida Garrett,
episódio que dá início à sua vida de poeta, conforme relata no prefácio
autobiográfico de Cantos Matutinos (1858). De volta ao Portugal, em
1844, depois de dez anos de ausência, estreita a relação de amizade que une
Gomes de Amorim a Almeida Garrett, que tendo publicado o Romanceiro e
Cancioneiro Geral, em 1843, irá influenciar o amigo e discípulo na
valorização da cultura popular. A essa primeira influência soma-se a das
Conferências Democráticas do Casino Lisbonense, em 1871, que irão
desembocar no movimento nacionalista de valorização do mundo rural,
enquanto repositório das raízes da Nação. É nesse contexto impregnado de
amor à Pátria e de preservação das tradições populares que desponta As
Duas Fiandeiras, “romance de costumes populares”, publicado por Gomes de
Amorim em 1881 (embora escrito em 1866), pela prestigiosa editora de
David Corazzi de Lisboa, dentro do selo “Horas Românticas”. A
dedicatória da obra, evocação da paisagem amazónica, e a geografia da
narrativa, a Avelomar natal, configuram as duas pátrias às quais o autor
dizia pertencer. Retratados com fidelidade e verosimilhança, os tipos
humanos que povoam As Duas Fiandeiras vêm ao encontro da caracterização
regionalista nos quadros do realismo-naturalismo, ao mesmo tempo em que
respondem pela idealização de uma ruralidade mítico-simbólica, com a
qual se inicia a narrativa: “Ainda lá não chegaram os esplendores e os
vícios da civilização, que ilustra e corrompe tudo (...)”.
(Fonte: Biblioteca Digital)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis com defeitos e pequenas falhas de papel. Apresenta tosco restauro na capa.
Raro.
25€
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