NEVES, Orlando - TROVAS MEDIEVAIS OBSCENAS. Cantigas de mal dizer. [Lisboa], Matéria Escrita, 1998. In-8.º (22 cm) de 114, [2] p. ; il. ; B.
Interessante subsídio para a divulgação das Cantigas de mal dizer, género literário satírico galaico-português. Contém no final, em "Notas Biográficas", um brevíssimo resumo da vida dos principais contributores medievais para estas Cantigas, portugueses e galegos, incluindo o rei de Castela e Leão Afonso X, o Sábio.
Livro ilustrado ao longo do texto com reprodução de sugestivas gravuras antigas.
"As cantigas trovadorescas galego-portuguesas são um dos patrimónios mais
ricos da Idade Média peninsular. Produzidas durante o período, de cerca
de 150 anos, que vai, genericamente, de finais do século XII a meados
do século XIV, as cantigas medievais situam-se, historicamente, nas
alvores das nacionalidades ibéricas, sendo, em grande parte
contemporâneas da chamada Reconquista cristã, que nelas deixa, aliás,
numerosas marcas. Tendo em conta a geografia política peninsular da
época, que se caracterizava pela existência de entidades políticas
diversas, muitas vezes com fronteiras voláteis e frequentemente em luta
entre si, a área geográfica e cultural onde se desenvolve a arte
trovadoresca galego-portuguesa (ou seja, em língua galego-portuguesa)
corresponde, latamente, aos reinos de Leão e Galiza, ao reino de
Portugal, e ao reino de Castela (a partir de 1230 unificado com Leão)."
(Fonte: https://cantigas.fcsh.unl.pt/sobreascantigas.asp)
"Rodrigues Lapa publicou, em 1965, pela primeira vez, na Editorial Filolóxica, o acervo completo das Cantigas d'Escarnho e Mal Dizer dos Cancioneiros Medievais Galego-Portugueses, em transcrições feitas a partir da sua consulta directa às fontes.
A obra, pelo seu volume (cerca de 800 páginas, em grande formato) não teve divulgação, afora dos meios eruditos.
Mas, para esse desconhecimento, outros factores contribuíram, entre os quais, a existência da Censura e a imposição obscurantista da ditadura de Salazar.
Dir-se-ia que tal ocultamento se romperia com o 25 de Abril. Não aconteceu assim.
Mais fortes do que a liberdade de editar e de estudar essas cantigas foram, continuam a ser, o preconceito moral e a pudicícia convencional que não se desarreigaram do modo de ser lusitano.
Têm-se editado antologias da poesia trovadoresca galaico-portuguesa, para uso escolar e não só. Mesmo colectâneas literárias, organizadas por escritores prestigiados, sonegaram uma das mais importantes secções dessa poesia, no caso, uma larga parte das cantigas de mal dizer, porque, ainda hoje se considera que, certas, desatremam dos conceitos morais vigentes. Mais objectivamente: as cantigas obscenas foram, sistematicamente, ocultadas. [...]
A poesia galego-portuguesa (fecunda entre 1200 e 1350) é, mais ou menos, conhecida tão-só através das cantigas de amor e amigo, belíssimas, sem dúvida, em grande parte dos casos. Mas poucos saberão que muitos dos poetas seus autores (quase todos, dir-se-ia), capazes de exprimir o amor cortês na mais alta qualidade poética, são, também, os autores de trovas desbocadas, desbragadas, escabrosas, escatológicas, como, por exemplo, Estevão da Guarda, Pero da Ponte, João Airas de Santiago, Pero Garcia Burgalês, João Garcia de Guilhade, João Soarez Coelho ou Martim Soarez, indiscutivelmente dos maiores poetas da língua portuguesa.
Essa prática poética licenciosa em nada os empequeneceu. Porque é na má língua de tais cantigas - algumas de inegável mérito literário - que mais dados se encontram para o estudo da sociedade medieval e dos seus costumes, permitindo-nos conhecer o outro fervilhar vital existente fora dos salões dos castelos ou dos saraus palacianos da nobreza. Como, da mesma forma, se ignora que esses autores eram, muitos deles, fidalgos de estirpe, frequentadores da corte portuguesa e castelhana, a começar pelo rei de Castela e Léon, Afonso X, o Sábio, que, a par das Cantigas de Santa Maria, em louvor da Virgem, escreveu sátiras violentas e trovas de uma pornografia brutal.
Essas são as faces do homem medieval: o suave e delicado lirismo, lado a lado com o realismo obsceno mais rude e cru."
(Excerto do preâmbulo, Breve nota)
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Esgotado.
Indisponível
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