29 abril, 2014

O TESTAMENTO. Artigos publicados por E. N. no jornal «Novidades». A respeito do testamento de Sua Magestade el-rei D. Fernando. Com uma introducção pelo editor. Lisboa, Typographia das «Novidades», 1886. In-8.º (18 cm) de 48 p. ; B.
1.ª edição.
Em 1869, D. Fernando II casou-se pela segunda vez, morganaticamente, com Elise Hensler, feita Condessa d'Edla, que era uma cantora de ópera e mãe solteira, a quem deixaria como herança as suas propriedades situadas no concelho de Sintra, incluindo o Palácio da Pena, o Castelo dos Mouros, etc. Essas disposições testamentárias provocaram espanto e indignação geral. O presente opúsculo reproduz a polémica que deu brado na época.
"A publicação do testamento de el-rei D. Fernando produsiu uma fortissima impressão de doloroso espanto.
Que nos lembre, nunca se estabeleceu uma corrente tão acentuada e tão unanime. Os aulicos lamentam a desconsideração feita á familia real, os pobres o esquecimento das suas amarguras, e todos os que uma vez foram á Pena - isto é, toda a gente! - não se poderem conformar com a idéa de vêr aquella maravilha passar a mãos estrangeiras...
Porque a verdade é esta. O que escandalisou o publico não foi que o sr. D. Fernando contemplasse no seu testamento a sua esposa morganatica. Foi que lhe destinasse a Pena, que todos queriam que fosse da familia real, com o pensamento reservado e em parte justissimo, de ser um pouco para cada um de nós. Assim, passando para uma estrangeira, parece que nos tiraram a todos alguma coisa que nos pertencia. Quando foi conhecida essa parte do testamento sentimos a sensação dolorosa e irritada de quem se vê subitamente roubado! [...]
D. Fernando é desculpado por uns e accusado por outros. Todos, porém, são accordes, em julgal-o sob o predominio d'uma influencia funesta."
(Excerto da introdução)
"Eu, rei D. Fernando, faço este meu testamento cerrado, e disposição da minha ultima vontade, nos termos seguintes:
Professo a religião catholica-apostolica-romana, na qual sinceramente creio e com cuja fé professo morrer.
Declaro que nasci em Vienna (Austria), e que sou filho do duque de Saxe Coburgo Gotha e da duquesa Antonia de Saxe Coburgo Gotha (princesa de Kohary); que fui casado em primeiras nupcias com a rainha de Portugal, D. Maria II. [...]
Declaro que em segundas nupcias sou casado com a senhora D. Elysa Frederica Hensler, condessa d'Edla, tendo tido llogar o nosso consorcio no dia 10 de junho do anno de 1869, na capella real da serenissima senhora infanta D. Izabel Maria, em Bemfica, não tendo precedido contracto ante-nupcial. [...]
Portanto, constituo a minha muito amada esposa a senhora condessa d'Edla legataria de tudo de que per lei posso dispôr. Quero que nos bens que couberem a minha esposa se comprehendam os seguintes: moveis, objectos de arte, pratas, loiças, quadros, etc., que se acham nos aposentos occupados pela minha esposa, ou todo ou parte, á sua livre escolha, todas as minhas propriedades situadas no concelho de Cintra, taes como, palacio da Pena e pertences, incluindos os chalets, castello dos Mouros, quinta da Abelheira e pertences, S. Miguel e pertences, as tapadas ultimamente compradas, incluindo a tapada nova dos Capuchos, assim como a mobilia, prata, loiças, e mais recheio do palacio da Pena, dos chalets e das outras casas acima mencionadas. [...]
Tendo durante a minha vida dado quanto me foi possivel para fins de beneficiencia, não deixo economias, por isso, para não prejudicar os meus herdeiros não posso contemplar com legados quaesquer estabelecimentos ou instituições, o que sinceramente sinto, pela grande e leal dedicação e verdadeira affeição, que sempre consagrei a esta nação, á qual sou immensamente grato pelo modo como me acolheu e sempre me tratou."
(Excerto do Testamento de D. Fernando II)
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Muito raro.
Indisponível

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