16 setembro, 2013

CAMPOS, João Caetano da Silva – NOITES DE VIANNA. I : O Segredo do Lavrador [e II : O Assassino]. Vianna do Castello, Livraria Progresso de João Baptista Domingues, 1877. 2 vols in-8º (16cm) de XIII, [1], 81, [1] p. e 106 p. ; E. num único tomo
Conjunto de duas novelas campesinas. Impressas em Viana do Castelo, na Typ. de António José da Silva Teixeira, na Rua da Cancela Velha, 62, por conta da Livraria Progresso.
“As noites de Vianna!
Na grandeza, e mais que na grandeza, na monotonia, não ha noites iguaes em parte alguma.
A gente chega a pasmar-se de que volvidas trezentas e sessenta e cinco noites, estiradas como a eternidade, aborrecidas como o infortunio, do anno que se despede, ainda tenha vigor e tenha fôlego para entrar no novo anno que desponta.
Chega o inverno.
Estrepita a chuva nas vidraças. Zune o forte vento melancolico nos braços nús dos arvoredos.
Passam no céo, como celeres vagões do infinito, as nuvens negras da procella.
Cantam no rio os maçaricos e a sua voz sentida e melancolica parece queixar-se amargamente das asperidões da natureza.
Descem do monte as aguas turvas, precipitam-se dos fraguedos alcantilados em espadanas sussurrantes, e vão depois, descrevendo rapidas curvas caprichosas, inundar a planicie arida e triste.
Ao longe as cristas colossaes da serra d’Arga corôam-se d’um manto de nevoas pardacentas, a que a corrente dos ventos variaveis dá um aspecto phantastico a cada instante.
A noite vem cahindo a pouco a pouco. Esbatem-se na indecisa luz crepuscular os recortes caprichosos do horisonte.
Baixam as sombras lentamente, cobrem de manso os valles todos e cerram-se depois impenetraveis como os mysterios do destino.
E a cidade dorme. No repouso somnolento das longas noites invernosas, cerra as palpebras pesadas logo ao soar d’Ave Marias.”
(excerto da introdução – A quem lêr)
João Caetano da Silva Campos (1852-1929). “Foi um homem diferente da maioria dos da sua terra, no seu tempo; não se guindou ao destaque que merece através de cargos políticos, de falsa erudição, de dádivas vultuosas, de vistosas iniciativas. Essencialmente homem de letras, recorta-se como fino estilista, jornalista sem polémicas, orador de verbo fluente, conversador fácil, inteligente e afável. Foi escrivão e notário em Viana; o seu cartório situava-se na praça da República, onde hoje está o Café-Bar.
Na sua principal faceta, a literária, é quase impossível descrever toda a acção que teve. Foi redactor do «Distrito de Viana», (fundado em 1875, do qual saíram apenas 4 números), com Manuel Roças e Júlio de Lemos. Foi director da velha «Aurora do Lima», o 5.º que esta teve, continuando depois seu colaborador.
Em verso escreveu um opúsculo dedicado à Espanha, que lhe mereceu uma condecoração do país vizinho. É da sua autoria a letra do Hino dos Bombeiros Voluntários.
Em prosa, em 1877, deu aos prelos, em dois pequenos volumes, duas novelas de ambiente regional abrangidas pela designação comum de «Noites de Viana» - «O segredo do lavrador», dedicada a Mateus Barbosa e Silva, e «O assassino», dedicada a Camilo Castelo Branco (Viana, na Livraria Progresso, fundada em 1871, editor João Baptista Domingues).”
(gib.cm-viana-castelo.pt)
Encadernação coeva em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação.
Dedicatória manuscrita (autor?) no verso da f. anterrosto – parte foi suprimida quando aparada.
Raro.
Indisponível

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