COELHO, Trindade - OS MEUS AMORES. (Contos e Balladas). 3.ª edição, muito augmentada. Paris-Lisboa, Livraria Aillaud & Cia, 1901. In-8.º (19 cm) de 423, [1] p. ; [1] f. il. ; E.
Conjunto de pequenos contos de inspiração rural (23), distribuídos por três "categorias": Amores Velhos; Amores Novos; Amorinhos. Trata-se talvez da obra mais apreciada do autor, a par de In Illo Tempore (recordações dos seus tempos de estudante, em Coimbra).
Título traduzido para castelhano e francês, e multiplamente reeditado entre nós. Inclui no final do livro a apreciação literária de Os meus amores pela crítica espanhola.
Livro ilustrado com o retrato de Trindade Coelho impresso em heliogravura, por Dujardin (Paris).
Edição substancialmente aumentada relativamente às duas que a precederam (o dobro), composta por textos rústicos, muito belos - a prosa cuidada e castiça - a fazer lembrar outro mestre contista português - Teixeira de Queiroz.
Exemplar muitíssimo valorizado pela dedicatória autógrafa do autor.
"Quando atravessou a povoação, rua abaixo, com o rebanho atraz d'elle, era ainda muito cedo. Ao longo das ruas tortuosas, as portas conservavam-se fechadas, e não vinha das habitações o mais insignificante ruido. Dormia-se a somno solto por todas aquellas casas. Apenas algum cão, subitamente acordado em sobresalto pelo chocalhar do rebanho, ladrava do alto dos escadorios de pedra onde ficára de sentinella, ou de dentro das curraladas, onde levára a noite fazendo companhia aos novilhos. D'onde em onde, gallos madrugadores entoavam matinas sonoras, que eram como risadas vibrantes de bohemios, n'alguma esturdia, a deshoras...
Mas passadas as ultimas casas, o silencio condensava-se para toda a banda, núma grande pacificação de templo adormecido. Nem viv'alma pela ladeira que levava ao rio, por um caminho em zig-zags. [...] Nem um balido de ovelha em todo o rebanho que se ia submissamente á mercê do pequeno pastor, parando se elle parava a colher as amoras frescas dos silvados, recomeçando a marcha se de novo elle se punha a caminhar.
Quando passou rente ao meloal da fidalga, ouviu-se o ruido de um tiro, que o echo levou para longe."
(Excerto de Idyllio Rustico)
"Noite velha, sahia o Antonio Fraldão de casa da Alonsa, quando viu, a curta distancia, escoar-se um vulto que parecia de gente.
O Fraldão sahia á esconsa e por isso não se affirmou: - mas ainda que se affirmasse, provavelmente não conhecia quem era, pois já não havia luar áquella hora, e as estrellas, ao alto, esmoreciam. Demais, os dois seguiram em sentido contrário; elle a metter-se em casa, e o outro, se era gente, direito á cóva dos castanheiros, onde se internaria na treva densa.
Aquillo, a principio, não deu que pensar ao Fraldão; - mas ao chegar a casa pouco depois, no extremo opposto da pequena aldeia, já com a mão da aldraba da porta suspeitou:
- Ora quem seria o melro?! Se teremos historia?!..."
(Excerto de Antonio Fraldão)
Indice:
Amores Velhos: Idyllio Rustico; Sultão; Ultima Dadiva; Preludios de Festa; Typos da Terra; Vae Victoribus; Maricas; Para a Escola; Abyssus Abyssum; Mãe.
Amores Novos: Terra-Mater; Luzia; A Choca; Á Lareira; Vae Victis; Antonio Fraldão; Manhã Bemdita; Mater Dolorosa; Manoel Maçores.
Amorinhos: O conto das três maçãsinhas d'oiro; O conto da infeliz desgraçada; O conto das artes diabolicas; Parabola dos sete vimes.
«Mis Amores» e a Critica.
José Francisco Trindade Coelho (1861-1908). "Escritor.
Natural de Mogadouro, a sua obra reflete a infância passada em Trás-os-Montes,
num ambiente tradicionalista que ele fielmente retrata, embora sem intuitos
moralizantes. O seu estilo natural, a simplicidade e candura de alguns dos seus
personagens, fazem de Trindade Coelho um dos mestres do conto rústico
português. Fiel a um ideário republicano, dedicou-se a uma intensa atividade
pedagógica, na senda de João de Deus, tentando elucidar democraticamente o
cidadão português. Era um homem inconformado. Nem a fama de magistrado, nem o
prestígio de escritor, nem a felicidade conjugal conseguiam fazer de Trindade
Coelho um cidadão feliz. À medida em que avançava no tempo mais se desgostava
com a vida, pelo que o desespero o levou ao suicídio em 1908. Deixou uma
obra variada e profunda, distribuída por quatro vertentes. Jornalismo, carácter
jurídico, intervenção cívica e literária. Algumas obras: «Manual Político do Cidadão Português», o «ABC do Povo»,
o «Livro de Leitura». A série «Folhetos para o Povo», onde se incluem, entre
outros: Parábola dos Sete Vimes, Rimas à Nossa Terra, Remédio contra a Usura,
Loas à Cidade de Bragança, e Cartilha do Povo, A Minha candidatura por
Mogadouro. Como obras literárias deixou: «Os Meus Amores» (1891) e já inúmeras
reedições de «In Illo Tempore» (livro de memórias de Coimbra-1902)."
(Fonte: Wook)
Belíssima encadernação em meia de pele com cantos, e com ferros gravados a ouro nas pastas e na lombada. Conserva as capas de brochura, ainda que a capa frontal tenha sido alvo de restauro.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Aparado e carminado à cabeça. A pasta anterior apresenta falha de revestimento junto à lombada.
Raro.
60€
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