ALMEIDA, Julia Lopes d' - A VIUVA SIMÕES. Lisboa, Antonio Maria Pereira - Editor, 1897. In-8.º (16,5 cm) de 210, [2] p. ; B.
1.ª edição.
Romance de costumes brasileiro cuja acção decorre no Rio de Janeiro. Originalmente saído dos prelos em livro pela mão do editor António Maria Pereira (Lisboa), foi anteriormente publicado como folhetim na Gazeta de Notícias (Rio, 1895). A obra da autora - Júlia Lopes de Almeida - insere-se na corrente literária do Realismo/Naturalismo, e foi "reconhecida pelos críticos coetâneos como a primeira romancista brasileira, uma profissional das letras".
"Em uma de suas obras mais relevantes, A viúva Simões, Júlia Lopes de Almeida enfatiza as prescrições às mulheres brasileiras, o que se dá pela representação de uma viúva e o ressurgir de uma paixão há tempos esquecida. Telles (2008) resume a narrativa dizendo que:
[...] temos mãe e filha da alta burguesia apaixonadas pelo mesmo homem.
No conflito, a mãe experiente e conhecedora das artes da sedução e a filha
inocente e ingênua, as duas enlouquecem e permanecem encarceradas nos
anseios e culpas de uma vida sem nenhuma perspectiva, a não ser a regra
social do casamento (Telles, 2008, p. 438).
No conflito, a mãe experiente e conhecedora das artes da sedução e a filha
inocente e ingênua, as duas enlouquecem e permanecem encarceradas nos
anseios e culpas de uma vida sem nenhuma perspectiva, a não ser a regra
social do casamento (Telles, 2008, p. 438).
Conforme a estudiosa destaca, a transgressão da personagem acaba punida, revelando, portanto, o destino daquelas que ousavam transgredir os papéis impostos socialmente."
(Fonte: Guimarães, Cinara Leite - O espaço ficcional em narrativas de Júlia Lopes de Almeida: A viúva Simões e a Falência, João Pessoa, 2015)
"Apesar de moça e de rica, a viuva Simões raras vezes sahia; dedicava-se absolutamente á sua casa, um bonito chalet em Santa Thereza. Vivia sempre alli, inquirindo, analysando tudo n'um exame fixo, demorado, paciente, que exasperava os seus cinco criados: a Benedicta, cosinheira preta, ex-escrava da familia; o Augusto, copeiro, francez, habituado a servir só gente de luxo; a lavadeira Anna, allemã, de roasto largo e olhos deslavados; o jardineiro João, portuguez, homem já antigo no serviço, e uma mulatinha de quinze annos, cria de casa, a Simplicia, magra, baixa, com um focinho de fuinha e olhos pequenos, perspicazes e terriveis.
Não era facil dirigir pessoal tão differente em raças e em educação. A viuva, modesta, e um pouco indolente para os deveres exteriores, consumia alli, dentro das suas paredes, toda a sua actividade.
Em vida do marido frequentara algum tanto a sociedade; mas depois que elle partiu sósinho para o outro mundo, ella encolheu-se com medo que se discutisse lá fóra a sua reputação, cousa em que pensava n'uma obsessão quasi nevrotica.
Adquirira fama de menagère exemplar; e então levava o escrupulo a um ponto elevadissimo, para não desmerecer nunca do conceito de boa dona de casa."
(Excerto do Cap. I)
Júlia Lopes de Almeida (1862-1934). "Nasceu no Rio de Janeiro, a 24 de setembro de
1862, numa família de abastados imigrantes portugueses. Importante
escritora, ativista pelo abolicionismo e cronista brasileira, teve uma
educação liberal e esmerada. Em 1886, mudou-se para Lisboa e, no ano
seguinte, já casada com o poeta português e diretor da revista A Semana Ilustrada Filinto Almeida, publicou o seu primeiro livro de contos, Traços e Iluminuras.
Colaborou intensamente com diversas publicações periódicas sobre temas
políticos e sociais, como a abolição da escravatura e os direitos civis,
e, depois do seu regresso ao Brasil, para São Paulo, em 1889, publicou o
seu primeiro romance, Memórias de Marta. Ao longo dos seguintes, Júlia Lopes de Almeida publicará alguns dos seus mais conhecidos romances, entre eles, A Falência.
Nos primeiros anos do início do século, o casal mudou-se para uma casa
no Rio de Janeiro, conhecida como Salão Verde, um espaço frequentado por
intelectuais cujas conhecidas tertúlias eram organizadas e dirigidas
por Júlia. Apesar de ter sido uma das impulsionadoras da criação da
Academia de Letras Brasileira, viu, por ser mulher, o seu nome preterido
da lista de membros-fundadores, em favor do marido. Em 1925, a família
cruza novamente o Atlântico para se fixar em Paris. De regresso ao
Brasil, Maria Júlia Lopes de Almeida, um dos nomes mais importantes do
modernismo brasileiro, morre na sua cidade-natal, vítima de malária, a
30 de maio de 1934."
(Fonte: Wook)
Exemplar brochado, por abrir, em bom estado de conservação. Capa apresenta pequeníssima falha de papel no pé.
Muito raro.
75€
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