03 fevereiro, 2022

ALMEIDA, Francisco de - QUADROS DO NOVO MUNDO. Lisboa, Typographia das Horas Romanticas, 1876. In-8.º (20,5 cm) de [4], 211, [1] p. ; E.
1.ª edição.
Conjunto de lendas/contos históricos cuja temática está relacionada com a América do Sul. É muito estranho e curioso verificar que o autor - cidadão português - tenha escolhido o "Novo Mundo" para escrever a presente obra. Nada foi possível apurar acerca deste interessantíssimo livro ou de Francisco de Almeida por não existirem quaisquer referências bio-bibliográficas, incluindo a BNP, que não menciona o livro.
"Roque Alma-Negra era o terror de Buenos Ayres. Verdugo por excellencia entre uma associação de verdugos, chamada Mashorca, e cegamente devotado ao tremendo fundador d'aquella terrivel irmandade, contava as horas pelo numero dos crimes, e o seu braço, armado perpetuamente do punhal, nunca baixava senão para ferir. Era um rego de sangue o rasto do bandido; a compaixão abandonara-o, havia muito tempo, que nem a minima lembrança d'ella conservava; e os gemidos do orphão, da esposa e da mãe, achavam-no tão insensivel, como a folha fria do aço que enterrava no peito das victimas. Toda a similhança com a humanidade desapparecera do rosto d'aquelle homem, e a sua linguagem, expressão fiel do nome que os delitos lhe haviam dado, era um mixto de ferocidade e de blasphemia que fazia empallidecer de espanto a todos que tinham a desgraça de se acercar d'elle.!"
(Excerto de A filha do assassino)
"Governava a famosa Patosi, na qualidade de supremo magistrado, D. Francisco Godoy, quando a desapparição de varias pessoas fizera suspeitar que se perpetravam crimes na sombra, sem que as auctoridades os podessem descobrir. O vulgo então acreditava que as victimas erravam impenitentes, e explicava assim as visões e ruidos que, dizia, se sentiam por toda a parte e a todo o momento.
Apesar, porém, d'estas fabulas, elevadas na época á cathegoria de verdades, as festas e a corrupção não diminuiam. O luxo era sempre o mesmo. Ao esplendor dos trajes e á riqueza dos adornos uniam-se as mobilias deslumbrantes, as festas pomposas do culto, a solemnidade dos patronos da villa imperial, os banquetes e os regosijos dos senhores opulentos, e o jogo com todo o eu cortejo de gosos estimulantes.
Uma só cousa se conservava, como ancora, no meio d'aquella sociedade informe, viciosa, desenfreada: a auctoridade do chefe de familia, cuja voz era escutada com a submissão da ordem de um amo irresponsavel.
Como as novas gerações se houvessem ido agrupando sempre no mesmo centro, as antigas casas dos grandes formavam por assim dizer, um estado á parte, bastante populoso, regido por um chefe absoluto."
(Excerto de A mina mysteriosa)
Indice:
A filha do assassino. | A serpente domestica. | Os prazeres do Sacramento. | A mina mysteriosa. | O astro do manancial. | O thesouro dos Incas.
Encadernação coeva inteira de pele com ferros gravados a ouro na lombada.
Exemplar em bom estado de conservação. Folha de rosto apresenta corte longitudinal à cabeça.
Muito raro.
Sem registo na Biblioteca Nacional.
Indisponível

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