24 maio, 2016

CASTELLO BRANCO, C. - VIDA DO JOSÉ DO TELHADO : extrahida das «Memorias do Carcere». Vende-se na livraria de João E. da Cruz Coutinho, editor : rua do Almada n.º 12 a 16 - Porto. In-8.º (17,5cm) de 20 p.
1.ª edição independente.
Curioso opúsculo biográfico, não datado, publicado sem capas de brochura e ilustrado com uma caricatura do salteador na 1.ª página que serve de frontispício.
De um modo geral, aceita-se ter sido impresso entre 1883 e 1887. No entanto, Alexandre Cabral no seu Dicionário de Camilo Castelo Branco, baseando-se em fontes coevas, sugere 1874 como data provável.
"Este nosso Portugal é um paiz em que nem póde ser-se salteador de fama, de estrondo, de feroz sublimidade! Tudo aqui é pequeno: nem os ladrões chegam á craveira dos ladrões de outros paizes! Todas as vocações morrem de garrote, quando se manifestam e apontam a extraordinarios destinos. A Calabria é um desprezado retalho do mundo; mas tem dado salteadores de renome. Toda aquella Italia, tão rica, tão fertil de pintores, sculptores, maestros, cantores, bailarinas, até em produzir quadrilhas de ladrões a bafejou o seu bom genio! Ahi corre um grosso livro intitulado: Salteadores celebres de Italia. É ver como debaixo d'aquelle ceo está abalisada em alto ponto a graduação das vocações. Tudo grande, tudo magnifico, tudo fadado a viver com os vindouros, e a prelibar os deleites de sua immortalidade. Schiller, Victor Hugo, Charles Nodier, se fada má lhes malfadasse o berço em Portugal, teriam de inventar bandoleiros illustres, a não quererem ir descrevel-os ao natural nos pinaculos da republica. Apenas um salteador noviço vinga destramente os primeiros ensaios n'uma escalada, sahe a campo o administrador com os cabos, o alferes com o destacamento, o jornalista com as suas lamurias em defeza da propriedade, e a vocação do salteador gora-se nas mãos da justiça. [...]
Diz algum tanto como exemplo d'esta latismavel anomalia a historia de José Teixeira da Silva do Telhado, o mais afamado salteador d'este seculo.
Vulto de romance não o tem, porque n'este paiz nem se completam ladrões para o romance. Disse-me uma dama franceza de eminente espirito, que em Portugal era a natureza, o ceo e o ar que faziam os romances. Nem isso, minha senhora. Aqui anda sempre o gume do prozaismo a podar os rebentões da natureza, mal elles infloram. Fructos de servir para a novella, levantada da comesinha chaneza d'um conto á lareira, nem mesmo os deixam amadurar na fama e nas façanhas de um salteador.
Se não vejam:
José do Telhado nasceu em 1816, na aldeia de Castellões, comarca de Penafiel. Seu pae era o famigerado Joaquim do Telhado, capitão de ladrões, valente como as armas, e raio devastador em francezes que elle matava, porque eram francezes, e porque eram ladrões, posto que, na qualidade de membro da nação espoliada, o senhor Joqauim chamasse sómente a si o que era fazenda nacional. Um tio-avô de José Teixeira, chamado ele o Sodiano, já tinha sido salteador de porte, e infestara o Marão durante muitos annos. Se arripiassemos carreira na linhagem do senhor José do Telhado, iriamos encontrar-lhe um avoengo em Roma, com uma sabina roubada no colo."
(excerto da 1.ª parte do texto)
Exemplar em bom estado de conservação. Cadernos unidos por dois agrafos. Páginas apresentam picos de acidez. Pequeno orifício na derradeira página (sem prejudicar o texto).
Raro.
Com evidente interesse camiliano.
Indisponível

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