SARRAZIN, C. H. - ENSAIO SOBRE O SYSTEMA MILITAR DE BONAPARTE, COM HUMA BREVE NOTICIA DA REVOLUÇÃO FRANCEZA, E A COROAÇÃO DE S. M. CORSA. ESCRIPTO EM FRANCEZ, POR... OFFICIAL DO ESTADO MAIOR MOSCOVITA; TRADUZIDO EM PORTUGUEZ, E DEDICADO Á OFFICIALIDADE, E MOCIDADE LUSITANA. POR P. P. V. Lisboa, Na Impressão Regia, 1811. Com licença. In-8.º (20cm) de [2], 68, [2] p. ; B.
1.ª edição.
Curioso ensaio bélico sobre o sistema militar dos Exércitos Franceses, imposto por Napoleão Bonaparte, que revolucionaram a estratégia de progressão em campanha e o aparato militar na época.
"Quando a França no meio da sua revolução só podia oppor ás aggressões das Potencias continentaes massas informes de voluntarios, sem Generaes experimentados, sem officialidade veterana, então acreditarão todos não distar muito a sua ruina; e antes que as armas o decidissem, já nos Gabinetes da Europa se havia calculado a repartição de suas Provincias.
O desprezo que as bizonhas tropas Francezas inspiravão aos antigos Generaes de Alemanha, para aquella preparava successos inexperados, vindo a ser com o tempo para seus inimigos, fecundo manancial de revezes, e desares. Este fatal erro alguma vez devia cessar; porém o mal já estava feito. A nova Republica dêo huma forma mais regular aos armamentos em massa, e ás requisições de toda a especie. Com ella adquirio a arte da guerra grande melhoramento; organizárão-se os Exercitos debaixo de hum plano vasto, e uniforme, e começou-se a usar de hum maior numero de tropas ligeiras. Des de então já as marchas se não emprehendião sem as precederem guias, e descobridores, nem se derão batalhas sem haver atiradores, fazendo-se huma séria refórma nas bagagens, e artilheria grossa. Melhorou-se a de campanha, dando-lhe mais, e melhor movimento; tratou-se de ter poucos, ou nenhuns armazens de viveres; prohibirão-se geralmente os cavallos de cela a todos os Officiaes Subalternos de infanteria, e impôz-se aos Generaes huma obrigação rigorosa de marcharem sempre á testa das suas divisões. Taes são em poucas palavras as essenciaes mudanças, que os Francezes fizerão no seu Systema Militar, e tal he no dia de hoje o systema de Bonaparte. [...]
O Ensaio, que offereço ao público, com especialidade o consagro aos Officiaes Portuguezes. Se ao pegar da penna só houvesse consultado o odio, que o meu coração eternamente nutrirá contra o inimigo do genero humano, sem dúvida houvera podido satisfazello completamente, demorando-me em violentas declamações; mas pelo contrario quiz manter o meu aborrecimento, contendo-o dentro de certos limites, para inquirir a verdade o mais imparcialmente que me foi possivel. Debaixo deste supposto apresento aos valentes, que tiverem o incommodo de ler este meu escripto, hum fiel retrato dos Exercitos Francezes, sem ommittir nenhuma das vantagens, que eu supponho tinhão sobre todos os Exercitos contra quem pelejárão em Alemanha. Estas vantagens, segundo o meu parecer, se reduzem a duas principalissimas, e vem a ser: a Mobilidade, e a Harmonia, ou Unidade dos movimentos. As victorias de Bonaparte são o producto da simples, e uniforme organização de seus Exercitos; e o militar que tiver judiciosamente observado as batalhas em que se achasse, verá no contexto desta pequena Obra, se, devendo-se considerar sempre como base fundamental dos felizes successos de hum Exercito a sua mobilidade, e a unidade de seus movimentos, ha na Europa organização militar que possa applicar-se a estes dous principios melhor que a dos Exercitos Francezes."
(excerto da introdução)
Jean Sarrazin (1770-1848). General de brigada francês. Aos dezasseis anos, alistou-se nos Dragões, a cavalaria de elite do exército francês. Durante as guerras da Revolução obteve várias promoções. Em 1794 era ajudante geral no exército do Sambre e Meuse, o exército revolucionário francês, em Itália. Foi nomeado general de brigada em 23 de agosto de 1798. Participou na Expedição da Irlanda (1798), tendo-se distinguido na Batalha de Castlebar. Apesar de inteligente e corajoso, o seu temperamento irascível e vaidoso trouxeram-lhe dissabores ao longo da sua carreira militar. Em 10 de Junho de 1810 deserta para o lado inglês, revelando as fraquezas do exército francês. É condenado à morte in absentia por um conselho de guerra. Regressa a França durante a «Restauração Bourbon» (1814-1830) e oferece os seus serviços a Napoleão no início dos Cem Dias (20 de março - 8 de julho de 1815), também conhecido por Governo dos Cem Dias, período que marca o regresso do imperador Napoleão I ao poder após a sua fuga do exílio na ilha de Elba. É preso e encarcerado. Perdoado em 1822, exilou-se em Londres e posteriormente em Bruxelas, onde viria a falecer, em 1848.
Exemplar em brochura, revestido com capas da época, em bom estado de conservação. Discreta rubrica de posse e carimbo na f. rosto.
Raro.
Com evidente interesse histórico.
Indisponível
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