1.ª edição.
Exemplar n.º 235 duma tiragem não declarada.
Obra publicada no início do século passado, apenas em 2002 viria a ser reimpressa em 2.ª edição pela Hugin, na Colecção Bibliotheca Phantastica, de certa forma incompleta, pela decisão do seu director - António de Macedo - de suprimir o extenso prólogo do autor (35 pp).
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Sobre este curioso romance, na forma e no conteúdo, transcrevemos, com a devida vénia, um texto da autoria de Jorge Candeias publicado em E-nigma : Revista electrónica de ficção científica e fantástico.
“Memórias de um Medium
é um romance anacrónico. Não tanto por esta edição vir devolver às livrarias
uma obra obscura de um autor obscuro, publicada pela primeira vez em 1900 e
escrita, pensa-se, em 1892, mas sim porque se trata de um exemplo típico da
literatura do romantismo, cheia das suas qualidades e, principalmente, dos seus
defeitos, escrito várias décadas depois do período romântico ter dado lugar ao
realismo e naturalismo.
Escrito sob a forma de
diário (e daí o subtítulo "Excertos de um diário"), Memórias
de um Medium descreve as desventuras de um tal Germano, jovem advogado
imbuído das teses racionalistas do fim do século XIX, que se vê atacado por uma
catadupa de acontecimentos sobrenaturais que o vão forçar a reavaliar a sua
visão do mundo e, mais tarde, acabam por atirá-lo para aquilo a que o autor
chamaria, com toda a banalidade inerente, "as asas da morte". […]
A acreditar na informação prestada por António de Macedo na
introdução que escreve para a obra, já habitual nesta sua colecção [Bibliotheca
Phantastica, 2002], esta orientação propagandística não é em nada
surpreendente. João da Rocha terá ganho, entre os membros do grupo de
escritores em que se integrou (Alberto de Oliveira, António Nobre, Justino de
Montalvão, Raul Brandão, D. João de Castro, Antero de Figueiredo, António
Correia de Oliveira, Luís de Magalhães, etc.), as alcunhas de "Frei"
e "Missionário do Ocultismo", o que leva a supor que lhe era inerente
uma certa tendência para o proselitismo. Apesar disso, e ainda segundo Macedo,
a primeira edição deste romance incluía um "longo,
fastidioso e prolixo prefácio de 42 páginas [...] onde o autor, aceitando
embora a «existência doutras inteligências perdidas no Universo», tenta
explicar teórica e cientificamente os fenómenos ditos «espíritas», invocando
[...] as leis das ciências então conhecidas: o magnetismo, a electricidade, a
física, a bioquímica e a psico-fisiologia.".
(in http://e-nigma.com.pt/criticas/memoriasmedium.html)...................................................
"Esperae um pouco: quero recordar-me. Tenho vivido tanto por dentro que do que é exterior - paisagens, physionomias, a natureza e os outros - raras vezes conservo uma lembrança nitida. E do meu amigo, do que nelle era apparente e externo quasi nada me lembro. De resto...
Encontram-se na vida figuras fugidias que passam crepuscularmente, perdidas entre neblinas, foragidas no sonho, e que nos fazem uma impressão singular, de Angelus soando dentro de nós, tremulos e plangentes... A gente fica ás vezes parada no caminho, a scismar, quando já a sombra as envolve. [...]
Esperae. A vida não é o que pensamos. Acaso sabemos alguma coisa? Ha tantos milhares de annos que a humanidade pisa o pó deste Planeta e ainda, todos os dias, homens extranhos estoiram de dor, incomprehendidos!"
(excerto do prólogo)
João Loureiro da Rocha Barbosa e Vasconcelos (1868-1921). “Nasceu em Viana do Castelo, em 1868. Estudou na Universidade de Coimbra, formando-se ali em Matemática e Filosofia. Iniciou a carreira das armas, mas abandonou-a. Tinha então o posto de Alferes. Dedicou depois a sua vida às letras. Foi poeta, historiador e crítico. Dirigiu a revista literária Límia (1910-1911), o jornal Folha de Viana (1911-1916) e deixou colaboração dispersa por outros periódicos. João da Rocha conviveu com grandes figuras da cultura portuguesa do seu tempo: Alberto de Oliveira (1873-1940), António Carneiro (11872-1930), Celso Herminio (1871-1904), José de Figueiredo (1872-1937), Justino de Montalvão (1872-1949), Júlio Brandão (1869-1947), António José de Almeida (1866-1929), António Nobre (1867-1900), Guerra Junqueiro (1850-1923), João de Barros (1881-1960), Raul Brandão (1867-1930), Júlio Dantas (1876-1962), Gomes Leal (1848-1921) e Ladislau Batalha (1856-1939). Publicou Nossa Senhora do Lar (poesias, 1900); Memórias de um Médium (1900); Angústias (contos, 1901); A Lenda de Sagres (1915) e a Lenda Infantista (1915).
Foi eleito deputado por Viana do Castelo para a IV Legislatura (1919-1921). Por isso, deixou o seu cargo de chefe interino da secretaria da Farmácia Central do Exército. Esteve na Comissão da Marinha (1919). Nessa altura tinha em preparação as obras História de Portugal, Os Descobrimentos Portugueses e a Expedição de 1501 para a História da Colonização Portuguesa no Brasil. Mas não teve tempo. Morreu em 1921.”
(in http://luisdantas.skyrock.com/2787574804-JOAO-LOUREIRO-DA-ROCHA-BARBOSA-E-VASCONCELOS.html)
Encadernação coeva em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado de conservação. Falta uma página(?), entre a f. anterrosto e a f. VII (início do prólogo) - folha que precede o anterrosto, ou erro de numeração? - é que, aparentemente, o livro encontra-se completo.
Raro.
Indisponível
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