1.ª edição.
Inclui uma poesia e uma inscrição de Afonso Lopes Vieira.
Obra incómoda. Trata-se de uma crítica às chefias - políticas e militares - e um lamento à forma como o soldado português se viu forçado a combater em África, sujeito a todo o tipo de privações, chegando o autor a compará-lo com o expedicionário do C. E. P., em França, com claro prejuízo para o primeiro.
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"Áquela Patria, meu irmão, porque tu, português, combateste até á morte - e não á Patria desses politicos, que te esqueceram e que se tu agora te levantasses do teu túmulo a mostrar a tua dôr e a recordar a tua antiga heroicidade, te negariam a existencia e talvez mesmo te mandassem aferrolhar numa cadeia."
(1.ª pp. texto - inscrição do autor)
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"Esta legenda do Soldado de África é acrescentada com uma inscrição do poeta Afonso Lopes Vieira e algumas frases do heroi esquecido."
Esta frase está impressa na contracapa do livro e é polémica; refere-se por certo ao trecho de uma carta do soldado n.º 412 da 10.ª Companhia de infantaria 28, morto em Newala, reproduzida neste opúsculo, e que poderá ser encarada como um jogo de palavras do autor - soldado esquecido - soldado desconhecido - que indiciaria poder ter Cértima conhecimento(?) da identidade do Soldado Desconhecido de África...
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"Sôbre o teu túmulo razo, cheio de grandeza e esquecimento, eu deponho estas palavras ardentes e insubmissas, escritas com a nossa Febre e com as nossas Lágrimas, com a flama virgem do nosso Sonho e muitas vezes, até, com o desgosto profundo de combater. Quem as poderá julgar? O nosso justo orgulho de combatentes diz-nos que ninguem. Pois damos nós a alguem o direito de julgar os nossos corações, que nós sacrificámos purificadamente pela Pátria e nunca pelos homens?
Entretanto, talvez muitos daqueles que junto de nós enganaram o sagrado ideal que nós serviamos, ou dos Outros, que não fizeram a guerra e ficaram a viver em Portugal, felizes como ébrios, á custa do nosso Sacrificio, alimentando-se do nosso Sofrimento, talvez êstes pretendam negar alguma vez, vergastados de remorso, a veemência crúa da nossa Dôr, a nossa indignação, a veracidade fremente do nosso Martirio - guardados nestas palavras como reliquias. [...]
Olha o que vai lá por fóra! É o «9 de Abril», - é a apoteose do teu irmão que morreu na Flandres, mais rico e mais nobre do que tu, cheio de honras e medalhas e citações gloriosas, ao serviço, decerto, de melhor Pátria que a tua..."
(excerto de Serrano de Palma e Namoto e Newala e Quiwambo e Negomano e M'kula)
António de Cértima (1894-1983). “Teve como nome de baptismo
de António Augusto Gomes Cruzeiro, mas cedo adoptou só o de António de Cértima.
Fez a instrução primária na sua terra natal, seguindo depois para o liceu de
Aveiro. Em 1915 ingressou no serviço militar, integrado nas campanhas de
África, em Moçambique, terminando em 1918. Após o seu regresso ao continente europeu continuou os seus estudos, terminando o curso de Direito e adquirindo
conhecimentos de línguas estrangeiras, nomeadamente Francês, Espanhol, Inglês,
Italiano e línguas árabes. Ainda de tenra idade começa a escrever em jornais da
região e em 1914, publica o seu primeiro livro "Marília", (uma peça
de teatro). Em 1925, ingressa na vida Diplomática, como Vice-cônsul no Suêz,
onde da sua acção neste consulado pouco se sabe, terminando em 18 de Outubro de
1926, sendo nomeado nesta mesma data, Cônsul de Portugal em Dakar, onde
permaneceu até à sua passagem para o consulado de Sevilha pela nomeação de 30
de Maio de 1932, onde permanece até à exoneração a seu pedido em 12 de Maio de
1949. A sua acção diplomática distingue-se pela sua integração cultural na
região e pelo empenhamento que teve em levar o nome de Portugal, não esquecendo
o incentivo das exportações Portuguesas para aquelas regiões. Aquando da sua
permanência em Sevilha, que coincidiu com o período da guerra civil espanhola,
foi notável o seu grande humanismo. A sua presença naqueles consulados, levou a
que fosse considerado ao nível internacional como um grande Embaixador da
Cultura Portuguesa e um diplomata de reconhecido valor internacional. Deixou a Vida Diplomática em 1949 regressando a Portugal
onde ingressou como gerente de uma empresa em Lisboa. O seu conceito
internacional levou a que continuasse a ser mediador de Portugal em situações
que a governação Portuguesa sentisse necessitava. Esteve sempre atento a vida
Nacional e Internacional. Enquanto novo e na Região da Bairrada, pertenceu à
Plêiade Bairradina, grupo que integrava outros escritores e artistas desta
região. Foi sócio da Sociedade Portuguesa de Geografia. Faleceu no Caramulo em
20 de Outubro de 1983.”
(in http://www.museusaopedro.org/autores/antoniocertima.htm)Exemplar brochado em bom estado de conservação. Capas apresentam algumas manchas e pequenas imperfeições.
Invulgar.
Indisponível
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