05 março, 2024

MAIA, Berta - AS MINHAS ENTREVISTAS COM ABEL OLIMPIO "O DENTE DE OURO". Paginas para a historia da morte vil de Carlos da Maia, republicano - combatente de 5 de Outubro -. Lisboa, [s.n. - Composto e impresso na Ottosgrafica - Lisboa], 1928. In-4.º (23x17,5 cm) de 64 p. ; B.
1.ª edição.
Berta Maia, viúva de José Carlos da Maia - uma das vítimas da madrugada de 19 de Outubro, que para a história ficaria conhecida pela "Noite Sangrenta" - empenhou-se viva e corajosamente na busca da verdade: quem e porquê tinham sido os mandantes dos crimes, tendo para o efeito entrevistado na prisão Abel Olímpio - «o Dente de Ouro» - cabo da marinha, líder da "camionete fantasma" - responsável identificado pelo morticínio.
Ilustrado com fac-símiles dos Autos referentes às declarações de vários dos envolvidos neste processo "Noite Sangrenta".
"No dia 19 de outubro de 1921, eclode uma revolta militar sob o comando do coronel Manuel Maria Coelho, antigo revolucionário do Movimento Republicano de 31 de Janeiro de 1891. O chefe do Governo, António Granjo, apresenta a demissão, mas o Presidente da República, António José de Almeida, não nomeia um novo executivo.
Neste ambiente de impasse, na noite de 19 para 20 de outubro, um grupo de civis e militares, liderado pelo cabo marinheiro Abel Olímpio, conhecido por O Dente de Ouro, conduz os acontecimentos da designada Noite Sangrenta.
Uma camioneta – a "camioneta-fantasma" – percorre Lisboa em busca de diversas figuras do regime republicano, que, forçadas a entrar no veículo, são posteriormente executadas. Na Noite Sangrenta são assassinados, entre outros, o Primeiro-Ministro, António Granjo, e dois protagonistas da Revolução de 5 de Outubro de 1910, Machado Santos e Carlos da Maia."
(Fonte: https://www.parlamento.pt/Parlamento/Paginas/noite-sangrenta.aspx)
"Tu, meu filhinho, ficaste órfão aos seis mezes, toda a tragedia se desenrolou á tua vista e tu sorrias, sorrias sempre! Deus Meu! Pensei que um dia a tua alma estimaria lêr estas páginas, escritas por tua Mãe, sem odios, sem gritos de vingança, e então uma lágrima rolaria pela tua face, serena, sem revoltas, amparado á cruz de Cristo, forte, altivo na tua dôr, orgulhoso de teu Pae!"
(Excerto de Porque escrevi este livro)
"Um mez e dias depois da morte do meu marido adorado, - estava eu prostrada no leito numa grande agonia, - trouxeram-me um cartão de visita: era da policia, do director Barbosa Viana, convidando-me a ir o Governo Civil. Levantei-me e fui. O Dr. Barbosa Viana escondeu-me numa sala e, sentada junto duma porta de vidro, foi-me possivel perceber o que se passava na sala contigua. Ouvia, não via, parecendo-me conhecer a voz de quem procurava defender-se. Eu tremia num desespero louco, ouvindo falar no que se passara em minha casa. Uma voz nega a celebre frase que lhe recordam:
- Então tu não disseste em cada de Carlos da Maia - «ele tambem não teve dó de mim, mandou-me para a Africa a ganhar 10 réis por dia e minha mãe morreu de dôr»? És capaz de manter essa negativa diante da viuva? Conhece-la?
- Sim, - respondeu.
A porta abre-se, e eu vejo o marinheiro cujo olhar terrivel e me gravara pra todo o sempre. Atiro para longe o chapeu e digo-lhe:
- Conheces-me? Olha bem para mim. Não me deste tiros, mas vê bem que eu sou um cadaver!
O Dr. Barbosa Viana agarra-me com força, pela frente, no momento em que tento avançar para o assassino, obriga-me a sentar num sofá, sofocada. Então, aquele homem frio, que dir-se-ia de gelo em minha casa, com uma lagrima nos olhos, fixando-me, diz:
- Esta senhora é a unica pessoa que me pode acusar..."
(Excerto de Depois da tragedia - No Governo Civil)
Matérias:
Dedicatoria. | Porque escrevi este livro. | Depois da tragedia: No Governo Civil; Na Prisão da Junqueira. | Depois da condenação do Abel Olimpio: Na Penitenciaria de Coimbra - Primeira entrevista; Segunda entrevista; E o Abel falou - Terceira entrevista. | O Snr. Virgilio Pinhão em minha casa. | Os autos [Fac-símiles].
Exemplar em bom estado geral de conservação. Capas oxidadas.
Invulgar.
Com interesse histórico.
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