CAMACHO, Gabriel de Medina e ROCHA, Antonio C. - A BAILARINA DOS OLHOS BRANCOS : novela. Lisboa, Casa Editora Nunes de Carvalho, [1934?]. In-8.º (19x12 cm) de 332 p. ; E.
1.ª edição.
Romance de costumes, levemente erótico, retrata o bas-fond de Lourenço Marques (hoje Maputo), capital de Moçambique, onde, juntamente com a Beira, a acção da trama decorre. Trata da história de vida, dos amores e desamores de Judith Orloff - a «Bailarina de Olhos Brancos» - e de sua filha Raquel, dona de beleza sensual comparável à de sua mãe.
"Nos países incluídos na zona de influência do trópico de Capricórnio, o mês de Janeiro é, dentro da roda do ano, um dos mais duros e exaustivos por ser calmoso e abafadiço. [...]
Nos países tropicais, quando o fôgo do sol aperta, o gêlo é uma panaceia. Tudo suavisa, excepto o esbrazeamento das paixões de qualquer natureza. Verifica-se, mesmo, um acréscimo de exaltação espiritual perfeitamente proporcionado ao abaixamento da temperatura dos organismos.
Assim sucedeu em certa noite januarina, quando os freqüentadores do «Rialto» se refrescavam, resfastelados lânguidamente nas cadeiras de vêrga que ocupam uma boa parte da alegre Praça.
Á medida que as epidermes arrefeciam, maior ardor encandescia os comentário àcêrca da estreia da «Bailarina dos Olhos Brancos», a efectuar-se dentro de alguns dias no «Varietá»."
(Excerto do Cap. I)
As mulheres escasseavam. Raras de aventuravam a acompanhar os seus maridos ou parentes para uma terra como aquela, onde, apenas, surgiam dissabores, febres e aborrecimentos. [...]
E as brancas escasseavam tanto!
Nestas circunstancias bem podemos imaginar qual a sensação produzida pela primeira aventureira europêa que naquele meio surgisse fazendo valer a côr da sua pele. A penuria de mulheres de «carne branca» provocou, necessáriamente, a exploração de um negócio altamente productivo e, sob este ponto de vista, preferivel à prostituição deliberada e declarada.
Naquela época o Bar assumiu as proporções de instituição imprescindível. Continha os dois mais vigorosos atractivo da vida: - o alcool e a mulher. Era o maravilhoso templo do prazer! [...]
A rua Araujo, estendida paralelamente ao caes do porto, era, por este facto, a mais indicada para os estabelecimentos dedicados áquele comércio. Quasi tôdas as lojas desta movimentada rua estavam ocupadas por bonitos Bars. [...]
Havia «bar-maids» de varias raças e tipos; desde a voluntariosa transwaliana até à especuladora grega; desde a arteira francesa até à merencoria russa.
Entre todas, uma se notabilisou pela sua formosura: Judith Orloff. Nascida em Odessa, surgira, ainda adolescente, em Lourenço Marques. Os motivos e determinantes do seu aparecimento naquela capital nunca se apresentaram inteiramente esclarecidos. Sabe-se apenas ter vindo para Africa em companhia duma família judaica, como ela.
Teria atingido a idade de dezoito anos quando misteriosamente a família abalou para parte incerta. Mas a rapariga ficára, sitiada por mil cubiças.
Certo dia correu na cidade uma notícia sensacional; Judith alistára-se na luzida legião das «bar-maids», fazendo do balcão do Bar de Peggy a sua gloriosa trincheira. A linda russa contituia um atractivo irresistivel."
(Excerto do Cap. II)
Encadernação em meia de tela revestida a tecido com cantos e rótulo na lombada, com título e autores gravados a ouro. Aparado. Conserva a belíssima capa de brochura frontal.
Exemplar em bom estado de conservação.
Raro.
45€
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