BERNAY, Henri - O COMBÓIO ANFÍBIO (o Escolopendra). Trad. de José Pinto Guimarãis. Lisboa, Livraria Popular de Francisco Franco, 1935. In-8.º (18,5 cm) de 256 p. ; E. Col. Romances internacionais de grande emoção : N.º 2
1.ª edição.
Curiosíssimo romance de ficção científica, originalmente publicado em França sob o título «Le Scolopendre» (1927).
"Em Paris, a margem esquerda do Sena tem constituído sempre o passeio da predilecção dos desocupados e dos contemplativos. Se, com uma emoção sempre nova, os bibliófilos andam a farejar pelas lojas dos alfarrabistas, criaturas há que se satisfazem em andar, de nariz no ar, de um lado para o outro ou em dar pasto à sua preguiça, sentados nos bancos, sem ligar importância de maior ao movimento dos carros sempre velozes e ao vaivém das embarcações que sobem lentamente o rio.
Naquela manhã de fim de Janeiro, o sol brilhava por entre os ramos das árvores ainda despojadas da sua folhagem.
Um jóvem descia vagarosamente o cais Malaquais, caminhando ao sabor da sua fantasia, parando, por vezes, para contemplar uma velha gravura, para folhear um alfarrábio ou simplesmente para acender um cigarro. [...]
Tomou um taxi e disse para o chauffeur:
- Avenida Malakoff, 38 bis... [...]
O taxi parou à porta de um pequeno edifício muito gracioso, como há muitos nas vizinhanças do Bosque de Bolonha. Dambreval foi recebido por um criado de libré, frio e cerimonioso, que, depois de ter recebido o seu cartão de visita, abriu a porta de um salão:
- Queira ter a bondade de esperar um instante... [...]
O criado protocolar reapareceu:
- Se quiser ter a bondade de me acompanhar...
Dambreval subiu ao primeiro andar. [...]
- O senhor Dambreval!...
E o jóvem encontrou-se em frente do homem a quem vinha falar.
Dambreval apertou a mão que se lhe estendia.
- O senhor Pedersen, sem dúvida?
- Eu mesmo... faça o favor de se sentar... [...]
Embora tivesse acolhido Dambreval com tôda a amabilidade de que era capaz, não sabia sorrir. [...]
- Desculpe-me - disse Pedersen - por o ter feito esperar alguns dias, mas eu não estava em França.
Dambreval esboçou um gesto de protesto polido:
- Isso não tem importância, senhor...
- Contudo, êsses dias ser-lheão contados, se, como espero, chegarmos hoje a um acôrdo...
- Estou inteiramente disposto a isso - disse Dambreval.
- Um tanto melhor... Pouco tenho a acrescentar às minhas cartas... Agradam-lhe as condições?...
- Sim, senhor, acho-as excelentes.
- Está desembaraçado de qualquer compromisso?
- Inteiramente livre.
- Então só nos resta trocar as nossas assinaturas... Preparei dois contratos para isso.
Dambreval disse, antes de tomar as fôlhas de papel timbrado:
- Se mo permite, far-lhe-ei algumas preguntas que certamente achará naturais.
- Escuto-o, senhor Dambreval.
- Posso saber o nome do meu capitão?
- Sou eu - respondeu simplesmente Pedersen.
- E o navio?
- O «Kayak»... O senhor não o conhece, certamente... É um norueguês de 800 toneladas, que vem a Bolonha pela primeira vez.
- Qual é o género do barco?
- Tem transportado carvão e também postes de minas, mas mandei-o transformar. Está presentemente muito bem preparado para uma estadia nos países frios e está reforçado de forma a resistir, em caso de necessidade, à pressão dos gelos. O senhor ficará confortàvelmente instalado a bordo.
- O senhor disse-me que se tratava de uma viagem nos mares do norte...
É mesmo do extremo norte, pois ultrapassaremos certamente o círculo polar. Penso que isso não o desanimará...
- Pelo contrário - respondeu o jóvem - sempre sonhei conhecer essas paragens.
Pedersen fez um sinal de aprovação, e calou-se.
Depois dum momento de hesitação, Dambreval continuou:
- Trata-se de uma expedição científica ou comercial?
- Nem duma cousa nem doutra... Teremos um naturalista a bordo.
- É a Spitzberg que conta ir primeiro?
- Não. Ficaremos em primeiro lugar na Islândia para tomar carvão e completar as nossas provisões. Em seguida, faremos caminho para a Groenlândia.
- E depois?
O sueco não respondeu imediatamente, brincando distraìdamente com um corta-papéis. Estas preguntas pareciam irritá-lo. Bruscamente, retomou a palavra:
- Senhor Dambreval - disse êle sêcamente - compreendo que deseje ter detalhes sôbre a viagem que vamos empreender, mas é-me impossível satisfazer plenamente a sua curiosidade."
(Excerto do Cap. I - Em que se prova, uma vez, que o mundo é pequeno)
Henri Bernay (pseud.) (1873-1959). Auguste Antoine Thomazi de seu nome, utilizou nos seus escritos o pseudónimo "Henri Bernay". Oficial da Marinha, historiador, escritor e jornalista francês, editor da revista "Natureza". Escreveu sobre assuntos navais no jornal Le Figaro. Publicou monografias militares, histórias infantis e romances, sendo alguns de ficção científica.
Encadernação simples em meia de percalina. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Cansado. Pastas gastas. F. rosto apresenta assinatura de posse.
Muito invulgar.
Indisponível
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