CASTELLO BRANCO, Camillo - FOLHETINS. De... 2.ª Série. Archivo d'Aurora do Lima. Vianna do Castello, Typ. Commercial, 1911. In-8.º (18,5 cm) de 64 p. ; B.
1.ª edição independente.
Colecção de crónicas de Camilo publicadas no jornal Aurora do Lima (Viana do Castelo) nos quatro primeiros anos deste periódico, entre 1856/1859, algumas delas assinadas com o pseudónimo João Junior. Foram reunidas em dois livrinhos - 1.ª Série e a 2.ª Série (a presente), e saídas dos prelos no mesmo ano - 1911.
Peça com interesse camiliano, onde é bem patente a veia satírica do Mestre, e a ironia de que faz uso com graça e apropósito. São muito raros estes opúsculos, por certo com tiragem reduzida.
"O author do Eurico, esse que se fez resurgir o presbitero do do seculo X para gemer os hymnos lugubres da sua paixão condemnada, disse que procurára a historia das agonias intimas geradas pela lucta d'esta situação excepcional do clero (o celibato) e não a encontrára.
«Nem nos codices illuminados da idade media - accrescenta o erudito historiador - nem nos pallidos pergaminhos do archivos monasticos estava ella. Debaixo das lageas que cubriam os sepulchros claustraes, havia por certo muitos que a sabiam; mas as sepulturas dos monges achei-as mudas. Alguns fragmentos avulsos que nas minhas indagações encontrei eram apenas phrases feitas e obscuras da historia que eu buscava debalde; debalde porque á pobre victima, quer voluntaria quer forçada ao sacrificio, não era licito o gemer, nem dizer aos vindouros «sabei quanto eu padeci!».
Eu, prescrutador profundo do coração humano, tambem quiz sondar as agonias do padre, condemnado á soledade, ao exilio de todos os gosos que florescem da mais soberana paixão do homem. Não interroguei as campas dos mosteiros desabados, por que me não chama a vocação para resolver problemas sobre cinzas; mas vim á minha sociedade, á minha geração buscar o segredo das paixões recalcadas pela mão oppressora d'uma incoherente piedade.
No monge antigo, o amor das coisas mundanaes poderia por ventura a lima dolorosa do tempo aspa-lo do coração. A vida cellular, o deslumbramento constante das magnificiencias do culto, o exemplo sempre vivo dos companheiros de claustro, a renuncia inteira dos incentivos exacerbadores da chaga, e sobre tudo, o horroroso impossivel gravado no batente do portão monastico, eram talvez auxilios que fortaleciam o monge no combate das paixões, desvanecidas pelo tempo.
Na sociedade actual, porem, o padre, em contacto com todas as fascinações, perdido no redemoinho dos deleites terrenos, chamado a ser homem torpemente social, e a interessar no triumpho pleno de muitas e das ridiculas torpesas; o padre, repito, se quizer manter-se na elevação esplendida, e ao mesmo tempo atormentada do seu destino, terá de arcar o braço a braço com o Antheu da desmoralisação, ou deixar-se vencer e arrastar aos charcos fétidos do descaro."
(Excerto O sacerdocio e o celibato, por João Junior)
Exemplar em brochura, bem conservado. Capas frágeis, com pequenas falhas e vincos.
Raro.
25€
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