29 outubro, 2016

COIMBRA, Leonardo - JESUS. Porto, Edição de a «Renascença Portuguesa», 1923. In-12.º (12,5cm) de 88, [4] p. ; [1] f. il. ; E. Edições escolhidas, II
1.ª edição.
Curioso estudo filosófico sobre Jesus Cristo.
Ilustrado em extratexto com o «Cristo no horto», estampa que sobejamente falta nos raros exemplares que vão aparecendo no mercado.
"Uma noite imensa caíra sôbre as almas e começara a fazer cinza com o lume vivo dos astros do firmamento...
Frio e dúvida nas almas, degradação e morte na viva luz dos mundos originários...
No princípio era o Verbo criador e as entranhas dos mundos e dos sêres eram o próprio fogo dêsse Verbo: a alma era luz, os olhos eram luz e as próprias rochas eram ainda línguas de fogo vivo e criador.
O Universo era a torrente luminosa e candente do Verbo originário.
Os mundos não se emprestavam uns aos outros o calor duns momentos de vida; eram o desenvolvimento musical da palavra criadora.
Todos ao mesmo nível térmico, perdiam-se num Oceano de imaculada brancura; não havia mundos; era o Eden."
(excerto de A Criação e a Queda)
Cristo é a redenção: é, pois, o encerrar do vôo das almas no puro amôr de Deus, o termo da queda dos mundos físicos no aniquilamento duma espiritualização integral.
Aniquilamento da sua fragmentária realidade actual, sem que se perca o que nêles há de vida, antes aumentando essa vida, que é a unidade de sua diversidade, pela eliminação integral do que nêles era a marca do Morte.
Nos mundos actuais, o sêlo divino, o sinal da Unidade, que os contém, é essa mesma tendência única da queda até ao equilíbrio.
Aí desapareceriam os fenómenos físicos e as suas possíveis apreensões por uma sensibilidade como a do homem actual.
É a marca da Criação, porque é a prova de que os acidentes da Matéria se não bastam, antes, entregues a si,  de pronto se sumiriam no Nada; mas é também a marca da queda, ou melhor, da ressonância material da queda, pois que a unidade dos sistemas siderais com uma energia útil sem diminuição, teria sido a primeira obra de Deus.
Essa unidade dos mundos, a harmonia dos seus movimentos revelando a Mão que lhes riscou as órbitas, seria a sua vida sem morte; a unidade de suas órbitas, como linhas de maior declive, revela as órbitas desviadas do seu concêrto primitivo para a fatalidade duma queda em comum até ao aniquilamento de todo o movimento ou o encerrar dos tempos, que as almas não produzam por suas obras de amôr.
A espiritualização da matéria será o seu regresso a uma perfeita e pronta obediência às ordens do espírito."
(excerto de Cristo é a Beleza)
Índice:
- A Criação e a Queda. - A Saudade no Exílio. - A Vinda de Cristo. - Cristo é a Verdade. - Cristo é a Beleza. - Cristo é a Bondade.
José Leonardo Coimbra (1883-1936). “Dedicou a vida à filosofia e ao  ensino, tendo desenvolvido, em especial na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, por ele criada, uma notável acção pedagógica que, directamente ou através dos discípulos, marcou o ambiente cultural português. Bem cedo o seu pensamento atingiu uma enunciação definitiva e sistemática (O Criacionismo - esboço de um sistema filosófico, Porto, Renascença Portuguesa, 1912). As obras posteriores, ou desenvolveram certos tópicos desse sistema, ou o esclareceram na perspectiva existencial dos grandes temas antropológicos, designadamente o do Mal e o da Morte.”
(SOVERAL, Eduardo Abranches, Análise de «O Criacionismo» de Leonardo Coimbra (1883-1936))
Encadernação editorial, cartonada, revestida de tecido estampado com motivos abstractos. Rótulo com título e autor aposto na pasta frontal.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Pastas e lombada cansadas. Rótulo identificativo da obra parcialmente suprimido. Assinatura de posse na f. rosto.
Raro.
35€

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