SCOTT, Sir Walter - KENILWORTH. Novella de..., traduzida Por A. J. Ramalho e Sousa. Tomo I [II; III; IV]. Lisboa, Typographia da Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Uteis, 1841-1842. 4 vols In-8.º (15cm) de XIX, [3], 239, [3] p. (I), 316, [4] p. (II), 298, [4] p. (III) e 269, [13] (IV). ; E.
1.ª edição.
Romance histórico cuja acção se desenrola no século XVI, durante o reinado de Isabel I de Inglaterra, que descreve a trama que levou à morte Amy Robsart às mãos dos esbirros do marido, Robert Dudley - 1.º Conde de Leicester -, o favorito da rainha.
O primeiro volume apresenta um prefácio preliminar que ocupa as 13 primeiras páginas com dados históricos recolhidos pelo autor, importante manancial para a elaboração do romance.
"Roberto Dudley, conde de Leicester, homem de bello parecer, e de mui distincta presença, era grande valido da rainha Izabel: pensava-se, e geralmente se dizia que se fosse solteiro ou viuvo, a rainha o tomaria por marido. Com este intento, e para se livrar de todos os obstaculos, Dudley ordenou, ou talvez, com lisongeiras supplicas, resolveu sua mulher a que se retirasse para casa de Antonio Foster, que então vivia na sobredita mansão, [casa anexa a um convento anteriormente pertença dos monges de Abington]. Insinuou igualmente a sir Ricardo Varney, (primeiro motor d'este designio) que apenas elle Varney chegasse a esta aldeia, buscasse avenerar a condessa [sua mulher], e que se o veneno não produzisse effeito, cumpriria lançar mão de outro meio para acabar com ella. Este facto foi provado, segundo parece, pela exposição do doutor Walter Bayly - algum tempo membro do Collegio Novo - então residente em Oxford, e professor de medicina n'esta universidade; o qual, por não ter querido consentir no avenenamento da condessa, foi objecto das perseguições do conde de Leicester, que buscou indispô-lo na corte."
(excerto da introdução)
"Aos novelleiros coube o privilegio de encetar a sua historia por uma estalagem, paradeiro commum de todos os viandantes, em que o humor de cada qual sem ceremonia se dá largas. Onde melhor veniaga faz tal privilegio, é quando a scena acerta de se passar nas antigas eras da jovial Inglaterra, epoca em que os viandantes eram, de alguma sorte, não só os inquilinos, mas tambem os comensaes e companheiros temporarios do estalajadeiro; personagem de ordinario dotada de franqueza pouco vulgar, de acolhimento affavel e de genio prasenteiro. [...]
No decimo oitavo anno do reinado de Izabel d'Inglaterra, a aldêa de Cummor, arredada quatro milhas de Oxford, blazonava de possuir uma estalagem ao modo antigo, administrada ou antes governada por Gil Gosling, homem de aspecto galhofeiro, barriga um pouco arredondada, de cincoenta e tantos de idade... [...]
Foi na casa administrada por este modêlo dos estalajedeiros, que ao cerrar da noite se apeou um caminhante, entregou ao moço da cavalhariça o cavallo, que parecia ter feito grande jornada, e travou o colloquio seguinte com o moço do bello Urso Negro.
«Olá, John Tapster!»
«Prompto, Will Hostler,» respondeu o homem do espicho, mostrando-e em colete desabotoado, calções de brin e avental verde, com ametade do corpo fóra e outra ametade dentro de uma porta que parecia ir dar a uma adega exterior.
«Está aqui um cavalleiro, que perguntou se tens boa cerveja,» e continuou o moço da estrebaria.
Mal por mim se assim não fôra,» replicou o tapster; «porque d'aqui a Oxford são apenas quatro milhas." [...]
A chegada do passageiro fez com que os circunstantes o observassem com a especie de attenção costumada em taes occasiões: e o que de si deu a observação, ei-lo aqui: - o caminhante era um d'aquelles homens dotados de boa presença, e de feições em que nada se enxêrga desagradavel, mas que entretanto apresentam o que quer que seja que, ou pela expressão da fisionomia, ou pelo metal da voz, ou, em fim, pelos ademanes e garbo, faz que hajâmos nossa repugnancia em tratar com elles. Inculcava no aspecto audacia, mas não franqueza; e parecia desde logo demandar acatamento e respeito, como se temesse que a isso lhe faltassem, se immediatamente o não exigisse como obrigação. Estava coberto com um capote de jornada, debaixo do qual se via um bello gibão cheio de passamanes, e apertado com um cinto de pelle de bufalo, donde pendia uma espada e um par de pistolas."
(excerto do Cap. I)
Exemplares em bom estado de conservação. Encadernações coevas em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada, apresentando nos volumes I e II parte da charneira aberta, mantendo-se no entanto muito sólidas. Rubrica de posse antiga na f. rosto dos 4 vols.
Obra rara.
Sem registo na Biblioteca Nacional.
30€
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