GOMES, Pereira - ESTEIROS. De... [Lisboa], Edições «Sirius», 1941. In-8.º (19,5cm) de 297, [7] p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Capa e desenhos de Álvaro Cunhal.
Dedicatória impressa do autor: "Para os filhos dos homens que nunca foram meninos, escrevi êste livro."
"Publicado em 1941, este romance de Soeiro Pereira Gomes é um dos textos inaugurais do
neo-realismo e é revelador do engajamento do autor na luta pelos direitos da classe
operária.
Trata-se de uma obra de denúncia da injustiça e miséria social, que conta a história de
Gineto, Gaitinhas, Sagui e todo um grupo de crianças que desde cedo abandona a escola para
trabalhar numa fábrica de tijolos, nas margens dos esteiros do rio Tejo."
(fonte: almedina)
"Fecharam os telhais. Com os prenúncios de outono, as primeiras chuvas encheram de frémitos o lodaçal negro dos esteiros, e o vento agreste abriu buracos nos trapos dos garôtos, num arrepio de águas e de corpos. Também sôbre os fornos e engenhos perpassou lufada desoladora, que não deixava o fumo erguer-se para o alto. Que indústria como aquela queria vento, é certo; mas sol também. - Vento para enxugar e sol pra calcinar - sentenciavam os mestres. Mas o sol andava baixo; não calcinava o tijolo, nem as carnes juvenis da malta.
Menos por isso que pela fraqueza das vendas, os patrões não quizeram arriscar mais dinheiro nas fornadas. - Ano mau... Todos os anos se dizia o mesmo. Desde que apareceu a telha francêsa, e o bloco de cimento levou tudo de mal a peor."
(excerto de Outono, Cap. I)
Soeiro Pereira Gomes (1909-1949). Foi um escritor português afecto à corrente do neo-realismo, e conhecido militante comunista. "Nasceu em Gestaçô, Baião, em 14 de Abril 1909, e faleceu em Lisboa, em 5 de Dezembro de 1949. Nos escassos 40 anos de vida escreveu dois romances, “Esteiros” e “Engrenagem", um livro de contos, “Contos vermelhos”, crónicas. A este contributo como escritor, e indissociável dele, há que juntar o que Soeiro prestou como cidadão e militante do Partido Comunista, ao qual aderiu em finais dos anos 30, em Alhandra, localidade ribeirinha do Tejo onde se fixara. Empregado na Cimentos-Tejo, hoje Cimpor, Soeiro envolveu-se em actividades de dinamização cultural e desportiva, organizando aulas de ginástica para os filhos dos operários da fábrica, impulsionando a criação de bibliotecas populares nas colectividades locais, participando activamente na construção de uma piscina. A par destas iniciativas de promoção social e cultural, desenvolveu actividade partidária e participou na organização de greves e manifestações em Maio de 1944, contra o racionamento de bens essenciais, a carestia, o agravamento das condições laborais. Procurado pela PIDE, entrou na clandestinidade. Já então tinha sido publicada, com ilustrações de Álvaro Cunhal, a sua obra maior, “Esteiros“, um romance hoje reconhecido como um dos títulos paradigmáticos do neo-realismo português. "Esteiros" é a história do Gaitinhas, do Coca, do Maquineta, do Gineto, de outros garotos forçados pela fome ao trabalho nos esteiros, canais abertos pelo Tejo na margem alhandrense e de onde se retirava barro para fazer tijolo e telha (nos telhais)."
(fonte: centenariorepublica.pt)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Dedicatória de oferta manuscrita (não do autor). Capas com manchas de oxidação.
Raro.
Indisponível
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