10 julho, 2015

KEIL, Alfredo - TOJOS E ROSMANINHOS : contos da serra. [Prefácio de João da Câmara]. Lisboa, "A Editora", 1907. In-fólio (35,5x26cm) de 151, [5] p. ; [19] f. il. ; il. ; E.
1.ª edição.
Obra monumental, totalmente impressa sobre papel couché, muito ilustrada nas páginas do texto e em separado com reproduções de belíssimos desenhos do autor, a p.b. e a cores.
Contém um retrato de Alfredo Keil em extratexto.
"Monte e valles, hortas risonhas e nos regatinhos a agua d'uma nora chilreando beijos em tardes quentes, charnecas vastas onde as cobras se arrastam sinuosas pelos mattos, penedias por onde as cabras vão trepando e de cujos altos os pastores atiram os olhos longos e scismadores pelas ondas floridas dos mattagaes, pinhaes que sussurram queixas, ribeiros rugindo coleras, charcos espelhando estrellas, por toda a parte uma alma geme ou canta, conta n'uma amargura tristezas ou livre se expande em alegrias. [...]
O que elle [o autor] sentira em sua alma, o que sentia o povo em suas aalegrias e dôres, procurou exprimir em palavras. Com ellas quiz explicar seu trabalho de pintor e d'ellas fazer legenda a seus quadros; quiz que as notas de suas canções gemessem melancolias ou brilhantes, vibrassem sobre as syllabas sonoras da nossa lingua, da lingua dulcissima falada pelas serranas que o inspiraram e logo fizeram d'elle um poeta.
D'ahi a composição d'este livro raro, em que Alfredo Keil se nos apresenta com todas as suas aptidões, em dois ramos d'arte como mestre victorioso, n'outro agora buscando uma nova consagração.
Mas o artista em tudo se revela. Se o pintor e o musico nos falaram já muita vez do poeta, é o poeta agora quem nos descreve paisagens da nossa terra, nos diz a poesia de suas canções."
(excerto do prefácio)
Alfredo Keil (1850-1907). “Autor da música de A Portuguesa (o hino nacional). Alfredo Keil nasceu em Lisboa no dia 3 de Julho de 1850. O pai, João Cristiano Keil, era alemão e tinha-se instalado em Portugal ainda solteiro, em 1838. Tornou-se um dos alfaiates mais famosos daquele tempo e casou com uma rapariga de origem alemã, Maria Josefina Stellflug.
Alfredo estudou no Colégio Britânico e desde pequeno mostrou ter muito talento para o desenho e para a música. Fez a primeira composição musical aos 12 anos: Pensée Musicalé. Quando terminou o liceu foi estudar Artes para a cidade de Nuremberga na Alemanha. Estudou desenho na Academia dirigida pelo pintor Kremling e música com o célebre Kaulbach. Em 1870 regressou a Portugal e voltou às aulas de desenho com Prieto e Miguel Lupi.
Alfredo Keil teve grande sucesso a nível nacional e internacional. Em 1874 recebeu duas medalhas da Sociedade Promotora de Belas Artes e em 1876 os seus quadros Sesta e Meditação foram premiados com medalhas de prata. No ano seguinte o seu quadro Melancolia recebeu uma menção honrosa numa mostra em Paris e em 1879 recebeu a medalha de ouro numa exposição no Rio de Janeiro. Em Madrid foi condecorado com a Ordem de Carlos III e em Portugal o rei D. Luís condecorou-o com a Ordem de Cristo.
A par da actividade como pintor também se dedicou à música. Em 1883, estreou-se no Teatro Trindade com a ópera cómica Susana, no ano seguinte a sua cantata Patrie foi executada por um grupo de amadores no Coliseu. A Real Academia de Amadores de Música executou no Salão Trindade, em 1885, o seu poema sinfónico Uma Caçada na Corte. Também nesta área Alfredo Keil teve sucesso, as suas músicas, sobretudo as óperas, foram apresentadas nos teatros mais importantes, do Brasil, de Itália e de Portugal, tendo mesmo feito apresentações para o rei D. Luís.
Em 1890, o ultimato inglês inspirou Alfredo Keil que deu voz à indignação geral compondo "A Portuguesa". Henrique Lopes de Mendonça escreveu para esta música o poema Heróis do Mar, que se tornou popular em todo o país e veio a ser adoptada pela Assembleia Constituinte como hino nacional da República Portuguesa em 1911.
Mas Alfredo Keil não chegou a saber porque morreu em Hamburgo a 4 de Outubro de 1907 onde tinha ido submeter-se a uma operação cirúrgica."
(in http://centenariorepublica.pt)
Encadernação editorial inteira de tela.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Sem lombada (o pedaço existente está preservado à parte, separado do livro, para eventual reparação; por consequência, os cadernos encontram-se soltos. Pasta frontal apresenta sinais de humidade. Obra que pela sua beleza, interesse e raridade justifica restauro.
Muito invulgar.
Indisponível

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