1.ª edição.
Livro de contos e narrativas tendo a mulher açoriana e os Açores como pano de fundo.
"Rosaria era uma pobre rapariga.
O pae, o Manuel Mendes, fôa ferido por um ar, e jazia, dia e noute, ao canto da lareira, com a bocca torcida, a fala balbuciante, e o braço e a perna direita discaídos, inertes, como se os assombrara o fogo de um raio.
A mãe, essa mal ouvira os doces vagidos da sua filha pequenina, tenra, quando uma febre puerperal, a levára, dois dias após o parto, a repousar no modesto cemiterio da aldeia.
Assim, Rosaria, não tivera, desde a meninice, esses cuidados e affagos, proprios de uma terna mãe, que nada ha a substituil-os n'este mundo de Deus."
(Excerto do conto, Rosaria)
Francisco Joaquim Moniz de Bettencourt (1847-1905). “Poeta e
Contista. Assinou a obra com o pseudónimo de Mendo Bem. Feitos os estudos
primários e secundários, parte em Angra do Heroísmo e parte em Coimbra, abraçou
a carreira de funcionário da Fazenda Pública, desempenhando funções em Angra,
Ponta Delgada e Funchal e vindo a ascender à categoria de Delegado do Tesouro.
Em 1880 seguiu para o Continente e esteve em Lisboa, Porto, Guarda e, por fim,
Évora. Estreou-se nos periódicos da terra natal (1868-80), fundando, de
parceria com António Gil e Augusto Ribeiro, o Almanaque Insulano (1874-75). Tem
vasta colaboração dispersa em jornais dos Açores (destacam-se A Persuasão e A
Actualidade) e do Continente (sobretudo, o Correio Português e o Distrito da
Guarda). Dedicou-se à crónica jornalística, ao ensaísmo literário e ao conto,
mas foi sobretudo na poesia que veio a distinguir-se. Poeta essencialmente
lírico, de um lirismo bucólico e romântico, a sua obra acusa a tendência para
um certo convencionalismo de temas e formas poéticas. São inegáveis a
espontaneidade e a delicadeza de alguns dos seus versos, escritos em linguagem
simples e vazados em ritmos de sabor clássico. O encantamento sentimental pela
paisagem das ilhas é nele dominante. Procurou contribuir para uma literatura de
temática regionalista, como também foi pretensão de Augusto Loureiro e Ernesto
Rebelo, mas, sem grandes inovações, manteve-se demasiado preso a uma estética
romântica de motivos convencionais. A sua prosa ficcional não ultrapassou o
retrato circunstancial da vida insular, em quadros onde as personagens carecem
de funda densidade psicológica.”
(Manuel Cândido Pimentel (Jan.1999), in www.culturacores.azores.gov.pt)
Encadernação editorial inteira de percalina com ferros gravados a seco e a negro nas pastas e na lombada.Exemplar em bom estado de conservação. Capas levemente manchadas.
Muito invulgar.
Indisponível
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