1.ª (e única) edição.
"O problema da assistência médica aos feridos da guerra é devéras importante para o nosso país, que vae cooperar eficazmente com os aliados nos campos de batalha da Europa, necessitando portanto de um bem organisado serviço de saúde, que inspire a todos os combatentes, desde o simples soldado ao oficial, uma justificada confiança. [...]
O processo até hoje usado de promover os medicos-reservistas a alferes-milicianos e dar-lhes durante dois mêses uma instrucção(!) consistindo essencialmento no estudo de regulamentos militares, leitura de cartas do Estado-Maior, equitação e esgrima apenas poderá servir para exemplo (mais um exemplo) da desorientação nacional, doença crónica e antiga de que Portugal necessita, de uma vez para sempre, libertar-se. Dois mêses de equitação o mais que podem produzir é maus cavalleiros; dois meses de esgrima maus esgrimistas... Mas, não vale a pena criticar o que se tem feito, mesmo quando a ridiculez do caso mereça um risinho amargo de ironia. Não é o que se tem feito, mas o que se deve fazer, a questão que nos ocúpa. O que se deve fazer, não para organisar e instruir um corpo de médicos militares, que quasi não ha, mas para improvisar, de um momento para o outro, os serviços médicos de que os nossos expedicionários para França necessitarão.
Os serviços médico-cirurgicos na zona de fogo, propriamente dita, isto é, até 12 ou 15 kilometros a partir da linha de combate para a rectaguarda, não nos interessam, como oto-rino-laringologista. Esses serviços, segundo é voz corrente, vão ser desempenhados pelos médicos militares de carreira, que assim pretendem demonstrar não serem apenas médicos militares em tempo de paz, que assim procuram dignificar a sua classe e honrar os seus galões. Desempenhados pois os serviços de pensos e de intervenções de extrema urgencia pelos médicos militares no activo, resta-nos escolher o pessoal para os hospitais chamados de evacuação e para os hospitais de rectaguarda."
(excerto do Cap. I)
"Os caractéres tão especiais da guerra moderna tiverem, entre outras, a consequencia de tornar muito frequentes as lesões traumaticas da cabeça. São os traumas crânianos aqueles que, sem dúvida, em mais larga escala contribuem para a morte no campo de batalha. São eles egualmente que, em multiplas circunstancias, predominam nas ambulancias e nos hospitais. Não é pois de admirar que a oto-rino-laringologia, cujos domínios se encontram quasi exclusivamente limitados á extremidade cefálica, tenha adquirido na presente guerra uma importancia primacial. Sem ter em consideração as doenças da garganta, ouvidos e nariz, que as condições da guerra tornam tão frequentes e por vezes, tão graves, a situação exposta a todos os insultos traumaticos, do nariz e do aparelho da audição explicaria, por si apenas, o numero consideravel de feridos d'essas regiões. Assim a oto-rino-laringologia é actualmente uma das especialidades cirurgicas de maior categoria, permitam-nos o termo, e egualmente uma das especialidades, que, pelos seus processos e tecnica privativos, mais necessita de um pessoal perfeitamente habilitado.
É certo que a adopção de capacêtes metálicos em França fez diminuir de 30% a percentagem de feridas na cabeça; por isso mesmo, seja dito de passagem, bem desejariamos que o uso de tais capacêtes fosse obrigatorio no exercito português."
(excerto do Cap. II)
Matérias:
Capítulo I
[Introdução]
Capítulo II
- Importancia da oto-rino-laringologia na guerra. - Capacêtes metálicos. - Ferimentos do pescoço. - Traumatismos da laringe. - Serviço militar e tuberculose. - Traumatismos da face. - Tratamento das feridas das partes moles da face. - Traumas profundos da face. - Infecção e contaminação de feridas. - Probabilidade de infecção das feridas segundo o projectil. - Feridas infectadas da face. - Enfisêma facial. - Traumatismos do nariz. - Hematomas nasais. - Epistaxis. - Meios de diagnostico. - Terapeutica dos traumas nasais. - Fracturas da base craniana e fossas nasais. - Resumo dos traumatismos nasais. - Traumatismos do pavilhão auricular. - Traumatismos do conduto auditivo. - Sintomas auditivos das fracturas da base do crânio. - Surdez. Exame funcional da audição. - Saída de sangue e liquido céfalo-raquidiano pelo ouvido. - Fracturas da base crâniana interessando o labirinto. Sindroma de Ménière. - Nistagmo labiríntico. - Nistagmos labiríntico e oftalmico. - Pesquiza do nistagmo. - Vertigem. - Perturbações do equilibrio. - Angulo de quéda. - Nistagmo, perturbações do equilibrio e vertigens de origem labiríntica e cerebelosa. - Evolução das lesões labirínticas. - Comoção labiríntica. - Anatomia patologica. Etiologia. - Sintomatologia. - Evolução. - Nevrose de Ménière e ménièrismo. - Lesões do tímpâno nas fracturas do temporal. Régras de terapeutica. - Perigo de infecção do encéfalo. - Hémato-tímpâno Terapeutica. - Terapeutica geral das lesões labirínticas. - Vertigem crónica. Tratamento. - Nevrite acústica por um som interno e súbito. - Nevrite acústica profissional. - Surdez histérica. - Surdez por lesões encefálicas.
Capítulo III
- Fractura dos maxilares. - Cooperação da medicina, cirurgia e especialidades. - Corpos estranhos. - Complicações das otites, sinusites, etc. - Oto-rino-laringologia na guerra. - Unificação da terapeutica em campanha. - Unificação da terapeutica no exercito português. - Investigação sciêntífica na guerra. - Simulação de surdez. - Questões de reforma. - Dominios da oto-rino-laringologia na guerra. Improvisação dos médicos. - Ensino da oto-rino-laringologia em Portugal.
Carlos de Melo (1888-1933). “Nasceu em 1888 e faleceu em
Vidago em 16.8.1933. Foi professor da Faculdade de Medicina de Lisboa. Formando
se em Medicina aos vinte e um anos de idade, seguiu para o estrangeiro, a fim
de se especializar em doenças de nariz, ouvidos e garganta. Quando regressou, o
seu nome não tardou a alcançar fama aliás merecida, em face das difíceis
operações que realizou com êxito. Clínico de valor e operador habilíssimo, a
sua opinião era sempre acatada como definitiva. Em 1916 concorreu, como
professor livre de otorinolaringologia, à Faculdade de Medicina de Lisboa,
alcançando o lugar. Dois anos depois tomava posse da cadeira, mas já sem
concurso, visto o Conselho Escolar lhe ter reconhecido méritos inconfundíveis
como catedrático. A sua maneira de ensinar era intuitiva e a sua argumentação
viva e brilhante como o demonstrou exuberantemente em concursos e em sessões da
Sociedade de Ciências Médicas, que frequentava quando na ordem da noite
figuravam assuntos da sua especialidade. Publicou numerosos trabalhos em
revistas médicas portuguesas e estrangeiras, tendo editado, em livro, o estudo
Otorinolaringologia em campanha e na prática civil, que elaborou [antes de integrar] o C.E.P., em França e em que, por vezes, é acérrimo na crítica. O prof. Dr.
Carlos de Melo dirigiu a clinica de otorinolaringologia da Faculdade de
Medicina de Lisboa, onde também exerceu, durante alguns meses, o cargo de
secretário. Também foi director do Hospital Escolar de Santa Marta. Era sócio
titular da Sociedade de Ciências Médicas, membro do Instituto de Coimbra e
condecorado com a comenda de Santiago.”
(in http://www.dodouropress.pt)Exemplar brochado em bom estado de conservação. Falha de papel no canto inferior esquerdo, junto à lombada.
Raro.
Indisponível
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