01 agosto, 2013

CARVALHO (Tinop), Pinto de - HISTORIA DO FADO (com 13 illustrações). Lisboa, Empreza da Historia de Portugal, Sociedade Editora. Livraria Moderna : Typographia, 1903. In-8.º (19cm) de [4], 270 p. ; [13] f. il. ; E.
1.ª edição.
Contém no final da obra O Elenco dos Fados onde o autor nomeia 175.
Ilustrada com o retrato do autor e diversas fotogravuras e desenhos de fadistas e guitarristas intercalados em extratexto.
"É pelas canções populares que um paiz traduz mais lidimamente o seu caracter nacional e os seus costumes. A musica, a necessidade de cantar, de dizer alto a sua alegria aos homens e ás coisas, é uma questão de latitude, uma questão de sol. Quanto mais para o sul, mais se ouve cantar. [...] Em Portugal, as condições climatericas, as influencias mesologicas, levam-nos á expansão sensualista, voluptuaria. D'ahi vem o caracter, por assim dizer, aphrodisiaco das nossas canções e das nossas dansas populares. Mas na dansa de sala imitavamos o estrangeiro.
As dansas populares do seculo XVIII resentiam-se do seu caracter extremamente sensual e desenvolto, desfalleciam em langores extenuativos, debatiam-se em morbidezas hystericas, derramavam no sangue o mais devorador dos philtros.
O lundum ou lundú era uma dansa obscena dos pretos congolezes, importada no Brasil e em Portugal, dansa em que os dansarinos se boleavam n'um requebrar de quadris de uma nervosidade sensual, em movimentos cynicos de rins, em brejeiros arabescos corporeos.
As modinhas campavam nas salas lisboetas no crepusculo do seculo XVIII e ao pintar da aurora do seculo XIX. Umas - as que tanto seduziram o inglez Beckford - eram de procedencia brasileira, e, na sua execução, brilharam os mulatos Joaquim Manuel e Domingos Caldas Barbosa, o Lereno, antagonista de Bocage.
Antes da introducção do piano no nosso paiz, a guitarra era o instrumento querido das salas. [...] A guitarra tem um alto papel na vida do homem do sul e no romance.
As canções populares luzitanas apresentam um caracter lamentoso e amoroso, o que já foi notado por Link, um allemão illustre que viajou ente nós nos fins do seculo XVIII. A este respeito, escrveu elle: - ... o canto monotono, gritador e arrastado dos homens começa já na Gasconha; é desagradavel na Hespanha e em Portugal.
«Acrescentae a isto uma guitarra tão má, que apenas se houve o ruido da madeira, e podeis formar uma idéa das serenadas que os namorados dão, á noite, ás suas bellas... As canções do povo portuguez são lamentosas; falam quasi sempre de dôr do amor, são raramente lascivas e pouco satyricas.» N'este tempo, porém, ainda o fado era desconhecido em terra.
Só quarenta e tantos annos depois, havia de occupar o logar primacial entre as canções populares de Lisboa.
O fado, a navalha e a guitarra constituem uma trindade adorada pelo lisboeta - adoração ethnicamente explicavel. O fado - fatum - canta as contingencias da sorte voltária, a negregada sina dos infelizes, as ironias do destino, as dores lancinantes do amor, as crises dolorosas da ausencia ou do affastamento, os soluços profundos da desesperança, a tristeza dolente da saudade, os caprichos do coração, os momentos ineffaveis em que as almas dos amantes descem sobre seus labios, e, antes de remontarem ao céo, deteem o vôo n'um beijo dulcissimo. Nenhuma das canções populares portuguezas retrata, melhor do que o fado, o temperamento aventureiro e sonhador da nossa raça essencialmente meridional e latina; nenhuma reproduz tão bem como elle - com o seu vago charmeur e poetico - os accentos doloridos da paixão, do ciume e do pezar saudoso. A melancholia é o fundo do fado como a sombra é o fundo do firmamento estrellado."
(Excerto do texto)
Joao Pinto de Carvalho (Tinop) (1858-1936). Jornalista, escritor e olisipógrafo português, "ilustre cronista de Lisboa do século XIX".
Encadernação inteira de percalina com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado de conservação. Carimbo de posse na f. rosto, na f. anterrosto (2) e na p. 20.
Invulgar e muito apreciado.
40€

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