23 agosto, 2013

LEAL, Gomes – O RENEGADO. A Antonio Rodrigues Sampaio : carta ao velho pamphletario sobre a perseguição da Imprensa. Lisboa, Typographia – Largo dos Inglezinhos, 27, 1881. In-8.º (22 cm) de 65, [3] p. ; B.
1.ª edição.
Opúsculo em verso publicado por Gomes Leal em 1881, "onde ele critica, de modo mordaz e acutilante, a última passagem pelo governo do Reino de António Rodrigues Sampaio. Com efeito, a 23 de Março de 1881, demitido o ministério progressista, e não querendo Fontes Pereira de Mello assumir nessa ocasião a responsabilidade franca e aberta do poder, foi António Rodrigues Sampaio chamado a organizar um gabinete ministerial, recebendo a presidência do conselho, acumulando com a pasta do Reino, a sua especialidade de sempre.
O governo iniciou funções a 25 de Março de 1880 e manteve-se até 11 de Novembro do mesmo ano, data em que Fontes Pereira de Melo substituiu Rodrigues Sampaio na presidência do ministério. Após essa data, adoentado, Rodrigues Sampaio retirou-se então para a vida particular, continuando a exercer o seu lugar de conselheiro no Tribunal de Contas.
Mas os seus anteriores correligionários nos tempos de revolucionário não lhe perdoaram as medidas de controlo da imprensa que foi obrigado a tomar. É neste cenário, que se inscreve esta obra – «O Renegado - Carta ao Velho Panfletário sobre a Perseguição da Imprensa», publicada em 1881 pelo poeta e jornalista António Duarte Gomes Leal, a qual constitui um autêntico libelo à percebida traição de Rodrigues Sampaio aos ideais que defendera."
António Rodrigues Sampaio (1806 -1882). “Foi um jornalista e político português que, entre outras funções, foi deputado, par do Reino, ministro e presidente do ministério. Foi um dos maiores vultos do liberalismo português de oitocentos, jornalista ímpar e parlamentar de excepção.
Era uma personalidade controversa, polémica, e mesmo revolucionária, mas sempre coerente e fiel aos seus princípios e desígnios, foi um agitador de renome nacional, o que lhe valeria a alcunha de o “Sampaio da Revolução”, já que se notabilizou como redactor principal do periódico «A Revolução de Setembro».
Era um jornalista de causas, não de notícias, como aliás era o jornalismo do século XIX. Foi membro importante da Maçonaria.” (in Tertúlia Bibliófila, 14 Fev. 2010)

Eis-me em frente de ti, velho urso na caverna –
Eis-me em frente de ti erguendo uma lanterna,
lanterna que accendi na grande escuridão
sobre a plebe açoutada, erguendo a minha mão,
lanterna que accendi n’esta éra ensanguenta,
lanterna que accendi, como em sinistra estrada
por causa dos ladrões perdido viajante.
Eis-me em frente de ti, eis-me de ti deante
cheio d’ódio, rancor, com asco, sem respeito,
perguntando-te, ó Velho – Onde está o Direito?
O que fizeste ao Povo, á Consciencia, ao Brio?
Onde está o Pudor, rude ancião sombrio?
Quem és? Quem és? Quem és?... velho cheio de fel.
Onde está ó Cain o teu irmão Abel?

Quem és? Quem és?... Ó gloria, ó nome hoje aviltado?
Tu foste a Alma do Povo – hoje és um renegado."

(Excerto do poema)

António Duarte Gomes Leal (1848-1921). "Nasce em Lisboa em 1848. Filho ilegítimo de um funcionário público, vive com a mãe e a irmã, a sua principal fonte de inspiração. No ano da morte de sua irmã, em 1875, publica Claridades do Sul, a sua primeira obra poética. Quando a mãe morre, converte-se ao catolicismo, o que tem influência na sua obra. Poeta e jornalista, é escrevente de um notário e publica inúmeros textos panfletários de denúncia político-social. A sua poesia oscila entre os três grandes paradigmas literários do final do século XIX: romantismo, parnasianismo e simbolismo. De 1899 a 1910, compõe e publica quase diariamente. Termina os seus dias na miséria, primeiramente vivendo da caridade alheia, na rua, e depois sustentando-se com uma pensão anual do Estado português que lhe foi conseguida por um grupo de amigos, dos quais se destaca Teixeira de Pascoaes. Morre em 1921."
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas com defeitos: capa apresenta falha de papel no canto inferior dto; contracapa apresenta restauros marginais e no canto inferior esquerdo.
Muito invulgar.
15€

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