MENGO, Francisco da Silva - DICCIONARIO DE NOMES DE BAPTISMO. Comprehendendo mais de quatro mil nomes de ambos os sexos. Colligidos dos Registos Officiaes, da Mythologia, da Historia, dos «Flos Sanctorum», etc. Por... Com um prefacio do Dr. Theophilo Braga, professor do Curso Superior de Lettras. Porto, Typographia Elzeviriana annexa á Livraria Civilisação, 1889. In-8.º (18 cm) de XIV, 136 p. ; E. 1.ª edição.
Curioso repositório/"dicionário" de nomes de baptismo, obra pioneira que sobre este assunto se publicou entre nós.
Sobre a presente obra, com a devida vénia, reproduzimos texto do excelente post publicado do blogue "Genealogia sem segredos"cujo link disponibilizamos no final.
"Anunciado como tendo "mais de quatro mil nomes de ambos os sexos" não só coligidos dos "registos officiaes", mas também "da Mythologia, da Historia, dos «Flos Sanctorum»",
este dicionário publicado em 1889 é particularmente curioso. Por um
lado, foi a primeira publicação do género em Portugal e - no seu
propósito e no formato em que foi feita - seria também a última. Por
outro lado, a obra poderá ter favorecido a grande diversificação de
nomes de baptismo dados em Portugal em finais do século XIX e no início
do século XX, sobretudo em zonas urbanas.
Prefaciado por Teófilo Braga, o Dicionário de Nomes de Baptismo de
Francisco da Silva Mengo apresenta ainda outras curiosidades, como o
facto de o autor ter elencado mais do dobro de nomes masculinos, face
aos nomes femininos, quando a prática de escolha de nomes de baptismo,
na época, revela-nos maior diversidade nos nomes dados a meninas. Outro
detalhe curioso é a inclusão, na lista de nomes masculinos, de alguns
nomes que hoje associamos ao sexo feminino, como Abigail ou Amarilis.
Quem era Francisco da Silva Mengo? Estabelecido no Porto como editor e
livreiro (tendo chegado a ser dono da célebre Livraria Moré), era um
erudito que privou com alguns dos mais importantes pensadores e
romancistas portugueses da época, nomeadamente Camilo Castelo-Branco. À
época em que escreveu o seu Dicionário de Nomes de Baptismo,
encontrava-se já cego. Nesta obra compilou os nomes alfabeticamente,
incluindo não só os que haviam sido "sanccionados pela Egreja",
mas também muitos outros, que não correspondiam a santos ou beatos. A
estes, o autor teve o cuidado de adicionar asteriscos, talvez para
prevenir os leitores que a sua atribuição em baptismo poderia ser
recusada.
Apesar de alguns milhares de nomes compilados, o Dicionário
de Nomes de Baptismo de Francisco da Silva Mengo não abrangeu todos os
nomes de baptismo que, na época, estavam a ser dados em Portugal. Aliás,
numa das suas notas finais ao dicionário, o autor escreveu: "É
sobrenome, assim como: Sertorio, Murillo, Cicero, Nelson, Cincinnato,
Petrarca, Linneu, Collatino e outros, que actualmente estão sendo
impostos como nomes de baptismo". Por conseguinte, Francisco da
Silva Mengo omitiu alguns nomes de baptismo que entendia não serem
apropriados para tal função. Contudo, não ficam claros os critérios
seguidos pelo autor para a inclusão ou a exclusão de vários nomes. Basta
referir que o dicionário inclui Elisabeto como nome masculino, mas
omite Elisabete como nome feminino, embora este tenha passado a ser
relativamente comum em Portugal várias décadas mais tarde. Apesar disto,
o Dicionário de Nomes de Baptismo não deixa de ser uma obra
interessante para quem se interessa pelo tema dos nomes dos seus
antepassados, e para a Genealogia e História da Família em geral."
(Fonte: https://genealogiasemsegredos.weebly.com/blog/o-dicionario-de-nomes-de-baptismo-de-francisco-da-silva-mengo-1889)
"Para fazer um Diccionario de Nomes proprios, ha dois processos, que não se excluem, antes mutuamente se cosdjuvam; o primeiro é scientifico, applicando os methodos da Glottologia aos nomes individuaes ou locaes, estabelecendo os themas e modificações phoneticas e que derivam, segundo as linguas e épocas sociaes que contribuiram para a civilisação actual, e determinando as fórmas por que esses nomes passaram, segundo os cruzamentos das raças que constituem um dado povo. O segundo processo é empirico; consiste em colligir a maior somma de nomes, quer do uso vulgar, quer dos documentos, inscripções ou escripturas, para, diante, de séries completissimas, fixar as correlações e os themas ethnolinguisticos por onde esses nomes generativamente se agrupam.
Em Portugal, como parte da peninsula hispanica, um perfeito Diccionario onomatologico exigiria um estudo particular dos nomes bascos, celticos, romanos, germanico e arabes. Em relação aos nomes locaes, esse estudo leva, a importantes descobertas
sobre o conhecimento das raças e sua distribuição topographica, como
ensaiou Guilherme Humboldt; pelo seu lado, os nomes individuaes são
magnificos elementos de uma paleontologia social."
(Excerto do Prefacio)
"Em razão do seu objectivo especial, nenhum Diccionario da Lingua Portugueza dá á estampa os nomes de baptismo.
Seguindo rumo differente, outros porém, destinados ao estudo de linguas
extrangeiras, addicionam uma lista d'estes nomes, mas essa lista —
evidentemente reproduzida, apenas com leves variantes, de umas para
outras edições — deixa muito a desejar por deficiente, ou incorrecta.
Demais, o elevado preço d'estes diccionarios e o facto de serem, como já
dissemos, destinados a linguas extranhas, nem a todos permittem
possuil-os, ou consultal-os; assim, a maioria das pessôas não tem para
onde recorrer em casos de duvida, infelizmente frequentissimos, quer
elles digam respeito á nomenclatura, quer á orthographia.
Preencher (pelo menos, diminuir em grande parte) uma tão sensivel
lacuna e facilitar ao mesmo tempo, de conformidade com as fontes mais
auctorisadas, o conhecimento dos nomes sanccionados pela Egreja, - eis o
intuito do presente opusculo, o primeiro no seu género até hoje
publicado em Portugal.
Que esta circumstancia, sobretudo, desperte nos leitores alguma
indulgencia para os defeitos do livro, e o auctor dará por bem
empregadas as longas horas que consumiu na elaboração do seu trabalho.
Elle fez o que pôde, e não foi muito; outros virão talvez que, com menor esforço e maior applauso, farão mais e melhor."
(Preâmbulo - Duas palavras)
Encadernação coeva em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Selo de biblioteca da Freguesia de Santa Maria de Cintra na lombada, e carimbo e identificação manuscrita da mesma na f. rosto.
Raro.
Indisponível