HERCULANO, Alexandre - O BEGUINO. Lisboa, Min. Peninsular -- João Alberto dos Santos, 1900. In-4.º (23cm) de 15, [1] p. ; E. Bibliotheca do Jornal Saloio
1.ª edição independente.
Raríssima peça herculaniana. Episódio histórico protagonizado pelo beguino - Fr. Roy -, espião de El-Rei D. Fernando, que vai avisar seu amo da conspiração urdida por Diogo Lopes Pacheco, com conhecimento do infante D. Dinis, irmão do monarca, para o assassinato de sua amante, Leonor Teles. O presente trecho, é retirado da novela histórica Arrhas por foro d'Hespanha (1371-2), originalmente publicada em livro no Tomo I de Lendas e Narrativas (1851). Segundo Herculano, na advertência desse volume, os breves romances e narrativas [aí] contidos foram impressos, em epochas mais ou menos remotas, nas duas publicações periodicas o Panorama e a Illustração", entre 1839 e 1844.
"Quem hoje passa pela cadeia da cidade de Lisboa, edificio immundo, miseravel, insalubre, que por si só bastaria a servir de castigo a grandes crimes, ainda se vê na extremidade d’elles umas ruinas, uns entulhos amontoados, que separa da rua uma parede de pouca altura, onde se abre uma janella gothica. Esta parede e esta janella são tudo o que resta dos antigos paços d'apar S. Martinho, igreja que também já desappareceu, sem deixar sequer por memoria um panno de muro, uma fresta, de outro tempo. O Limoeiro é um dos monumentos de Lisboa sobre que revoam mais tradições desde remotas eras.
Nenhuns paços dos nossos reis da primeira e segunda dynastia foram mais vezes habitados por elles. Conhecidos successivamente pelos nomes de paços d'elrei, paços dos infantes, paços da moeda, paços do limoeiro, a sua historia vae sumir-se nas trevas dos tempos. São da era mourisca? Fundaram-nos os primeiros reis portugueses? Ignoramo-lo. E que muito, se a origem de Sancta Maria Maior, da veneranda cathedral de Lisboa, é um mysterio! Se, transfigurada pelos terremotos, pelos incendios e pelos conegos, nem no seu archivo queimado, nem nas suas rugas caiadas e douradas póde achar a certidão do seu nascimento e dos anos da sua vida! Como as da igreja, as ruinas da monarchia dormem em silencio á roda de nós, e, envolto nos seus eternos farrapos, o povo vive eterno em cima ou ao lado d'ellas, e nem sequer indaga porque jazem ahi!
N'uma memoravel noite, essa janella dos paços d'el-rei era a unica aberta em todo o vasto edificio, mas calada e escura como todas as outras. Só, de quando em quando, quem para lá olhasse attento do meio do terreiro enxergaria o que quer que fosse, alvacento, que ora se chegava á janella, ora se retrahia.
Mas o silencio que reinava n'aquelles sitios não era interrompido pelo menor ruido. De repente, um vulto chegou debaixo da janella e bateu devagarinho as palmas: a figura alvacenta chegou á janella, debruçou-se, disse algumas palavras em voz baixa, retirou-se, tornou a voltar e pendurou uma escada de corda que segurou por dentro. O vulto que chegara subiu rapidamente, e ambos desappareceram atravéz dos corredores e aposentos do paço."
(Excerto do texto)
Encadernação em meia de pele com cantos. Sem capas de brochura (poderá ter sido editado assim mesmo).
Raro.
Indisponível
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