22 março, 2019

PRAÇA, J. J. Lopes - HISTORIA DA PHILOSOPHIA EM PORTUGAL NAS SUAS RELAÇÕES COM O MOVIMENTO GERAL DA PHILOSOPHIA. Por... Volume I. Coimbra, Imprensa Littteraria, 1868. In-8.º (20cm) de VIII, 254, [2] p. ; E.
1.ª edição.
Importante trabalho sobre a História da Filosofia em Portugal, dos primeiros com estas características publicados entre nós. Inclui um estudo sobre os filósofos portugueses mais antigos e notáveis.
Trata-se da rara edição original deste ensaio de Lopes Praça, inicialmente pensada para incluir um segundo volume que nunca viria a ser publicado.
"Um povo é um individuo collectivo. Antes de pensar fala. Antes de reflectir já se manifesta. Mas verdadeiramente autonomico só se torna quando pensa e diz, quando reflecte e executa. A primeira phase realiza-se na infancia e adolescencia dos povos; a segunda na adolescencia e virilidade dos mesmos. Isto em these, pondo de parte as gradações e variantes da hypothese.
Estes dois periodos dos povos não se  fundamentam na exclusão radical dos elementos, que os constituem; mas unicamente no predominio mais ou menos sensivel, mais ou menos notavel d'este ou d'aquelle elemento. A espontaneidade é mais heroica, mais desaffrontada, mais divina. A reflexão é mais humana, mais prudente, mais meritoria, mais autonomica. [...]
Muita gente instruida qualificou de chimerica o nosso proposito. Nenhum philosopho illustre se conhecia nos Fastos da Historia Portugueza. Não tinhamos um nome illustre que nos guiasse, um fio de Ariadna que nos dirigisse, um luzeiro que nos norteasse. Edificámos no vacuo. Investigámos os materiaes, e apurámol-os, na estreiteza do tempo, pelos cahos das Bibliothecas, que podémos visitar, algemados pela pobreza e singularidade dos nossos recursos moraes e materiaes."
(Excerto do preâmbulo, Duas palavras)
"A Historia da Philosophia tem por objecto expôr e criticar as tentativas do espirito humano em ordem a resolver todos os problemas, que se tem ventilado através dos seculos , nos dominios da Philosophia.
O nosso fim, escrevendo este livro, é visivelmente mais limitado, sem que deixemos todavia de participar, em grande escala, das difficuldades com que teem a luctar os historiadores da Philosophia. Por maiores, porém, que sejam as difficuldades, não é menos certo que não ha estudos nem mais interessantes, nem mais elevados."
(excerto da Introducção Geral)
Matérias:
Introducção Geral. Primeiro Periodo: Desde o começo da Monarchia até D. João III, ou desde os fins do seculo XI até 1521: I. Noticia biographico-critica dos mais notaveis Philosophos Portuguezes que floresceram desde a independencia de Portugal até 1521. II. Da Philosophia nas escholas de Portugal desde o principio da Monarchia até 1521. III. Movimento da Philosophia na Europa. Segundo Periodo: Desde D. João III até D. João V, ou desde 1521 até 1706: I. Noticia biographico-critica dos mais notaveis philosophos desde D. João III até D. João V. II. Da Philosophia nas escholas de Portugal desde desde D. João III até o reinado de D. João V, ou desde 1521 até 1706. III. Movimento da Philosophia na Europa. Terceiro Periodo: Desde D. João V até o fallecimento do Sr. Silvestre Pinheiro Ferreira, ou desde 1706 até 1846: I. Noticia biographico-critica dos mais notaveis Philosophos Portuguezes desde D. João V até o Sr. Silvestre Pinheiro Ferreira II. Da Philosophia nas escholas de Portugal desde desde D. João V até 1848. III. Movimento da Philosophia na Europa.
José Joaquim Lopes Praça (1844-1920). "Jurista, professor universitário e historiador da Filosofia em Portugal (n. Castedo, Alijó, 1844, m. Montemor o Novo, 1920). Feitos os preparatórios de Humanidades, ingressou no Seminário Arquiepiscopal de Braga, concluindo Teologia (1862), matriculando-se depois nas Faculdades de Direito e de Teologia em Coimbra, optando por Direito, cuja licenciatura obteve (1869). Nomeado professor para a sua terra natal, reingressou nos estudos universitários, com o fito de preencher uma vaga na Faculdade de Direito, para o que apresentou uma tese em 1870, mas não obteve o que desejava, por isso regressando a Montemor, onde fomentou os estudos históricos sobre a localidade. Obtém colocação no Liceu Central de Lisboa, mas o seu objectivo continuava sendo o de uma carreira universitária. Em 1881 concorre a uma de três vagas na Faculdade de Direito coimbrã, defendendo tese sobre "O Catolicismo e as Nações Católicas", sendo nomeado professor substituto da 15.ª cadeira. Perceptor e mestre de Filosofia do príncipe D. Luís e do Infante D. Manuel (1904), o regicídio de 1908 foi para ele um golpe tão duro que se retirou por completo da vida pública, apenas mantendo correspondência com alguns amigos, entre eles Ferreira Deusdado e Tiago Sinibaldi, deixando documentada em cartas a sua transição do krausismo para uma sóbria adesão ao neotomismo. Os dois aspectos mais significativos da sua obra são o de especialista de Direito Constitucional e o de historiador da nossa Fitos. Em Fitos. do Direito começou por seguir Kant, que preferia a Krause, mas, nos Estudos sobre a Carta (1878), elogia a difusão das teses de Krause, apreendidas através dos discípulos belgas Ahrens e Tiberghien, e que, no nosso país, se radicaram através do magistério de Vicente Ferrer Neto Paiva. Sendo um dos primeiros constitucionalistas portugueses, mostrou total adesão ao jusnaturalismo de Ferrer e de José Dias Ferreira, que muito admirava, tendo chegado a prometer competente estudo sobre o pensamento desses autores, no 2.° vol., projectado mas irrealizado, da sua História da Filosofia em Portugal. Estudante, ainda, influenciado pelos estudos históricos peculiares ao romantismo, e pelo exemplo de Alexandre Herculano, feria o a inexistência de uma panorâmica da fitos. em Portugal. Decidiu, por isso, investigar e escrever a História da Filosofia em Portugal nas safas Relações tona o Movimento Geral da Filosofia, prevista para 2 vols., de que só o primeiro saiu (1868). Lopes Praça tem noção das limitações do trabalho quando afirma: "Não nos levem a mal o título do livro. Chamamos-lhe o que desejávamos que ele fosse, e não o que realmente é". No título, o plano supõe uma leitura paralela comparativa da filosofia europeia com a filosofia em Portugal, e o autor consegue isso, mediante a alternância dos capítulos, que, desse modo, dá ao livro o carácter de "história universal". O propósito da obra acha se na mesma definição do objecto de História da Filosofia: "expor e criticar as tentativas do espírito humano... nos domínios da Filosofia". A amplitude temporal define se entre a escolástica medieval, assumida a partir do começo da independência política portuguesa, até meados do séc. XVIII, mediante a obra ecléctica de Silvestre Pinheiro Ferreira. L.P. não nos propõe uma noção específica de "filosofia portuguesa", preferindo, dada a sua ideia de universalidade da filosofia, a noção de "filosofia em Portugal", enquanto o seu itinerário através do tempo se apoia mais nos filósofos do que na sequência tética intrínseca ao discurso da filosofia na história. Com tudo isso, é, sob o impulso iniciado por L.P., que entre nós se desenvolve "o estudo biográfico e histórico-cultural".
(J. de Carvalho, v. Bibl., p. 153, in http://www.dodouropress.pt/)
Encadernação em meia de pele, ao gosto da época, com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado de conservação. Lombada com pequenos defeitos e selo de biblioteca.
Raro.
Indisponível

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