PRAÇA, J. J. Lopes - HISTORIA DA PHILOSOPHIA EM PORTUGAL NAS SUAS RELAÇÕES COM O MOVIMENTO GERAL DA PHILOSOPHIA. Por... Volume I. Coimbra, Imprensa Littteraria, 1868. In-8.º (20cm) de VIII, 254, [2] p. ; E.
1.ª edição.
Importante
trabalho sobre a História da Filosofia em Portugal, dos primeiros com
estas características publicados entre nós. Inclui um estudo sobre os
filósofos portugueses mais antigos e notáveis.
Trata-se da rara edição original deste ensaio de Lopes Praça, inicialmente pensada para incluir um segundo volume que nunca viria a ser publicado.
"Um
povo é um individuo collectivo. Antes de pensar fala. Antes de
reflectir já se manifesta. Mas verdadeiramente autonomico só se torna
quando pensa e diz, quando reflecte e executa. A primeira phase
realiza-se na infancia e adolescencia dos povos; a segunda na
adolescencia e virilidade dos mesmos. Isto em these, pondo de parte as
gradações e variantes da hypothese.
Estes
dois periodos dos povos não se fundamentam na exclusão radical dos
elementos, que os constituem; mas unicamente no predominio mais ou menos
sensivel, mais ou menos notavel d'este ou d'aquelle elemento. A
espontaneidade é mais heroica, mais desaffrontada, mais divina. A
reflexão é mais humana, mais prudente, mais meritoria, mais autonomica.
[...]
Muita
gente instruida qualificou de chimerica o nosso proposito. Nenhum
philosopho illustre se conhecia nos Fastos da Historia Portugueza. Não
tinhamos um nome illustre que nos guiasse, um fio de Ariadna que nos
dirigisse, um luzeiro que nos norteasse. Edificámos no vacuo.
Investigámos os materiaes, e apurámol-os, na estreiteza do tempo, pelos
cahos das Bibliothecas, que podémos visitar, algemados pela pobreza e
singularidade dos nossos recursos moraes e materiaes."
(Excerto do preâmbulo, Duas palavras)
"A
Historia da Philosophia tem por objecto expôr e criticar as tentativas
do espirito humano em ordem a resolver todos os problemas, que se tem
ventilado através dos seculos , nos dominios da Philosophia.
O
nosso fim, escrevendo este livro, é visivelmente mais limitado, sem que
deixemos todavia de participar, em grande escala, das difficuldades com
que teem a luctar os historiadores da Philosophia. Por maiores, porém,
que sejam as difficuldades, não é menos certo que não ha estudos nem
mais interessantes, nem mais elevados."
(excerto da Introducção Geral)
Matérias:
Introducção Geral. Primeiro Periodo: Desde
o começo da Monarchia até D. João III, ou desde os fins do seculo XI
até 1521: I. Noticia biographico-critica dos mais notaveis Philosophos
Portuguezes que floresceram desde a independencia de Portugal até 1521.
II. Da Philosophia nas escholas de Portugal desde o principio da
Monarchia até 1521. III. Movimento da Philosophia na Europa. Segundo Periodo: Desde
D. João III até D. João V, ou desde 1521 até 1706: I. Noticia
biographico-critica dos mais notaveis philosophos desde D. João III até
D. João V. II. Da
Philosophia nas escholas de Portugal desde desde D. João III até o
reinado de D. João V, ou desde 1521 até 1706. III. Movimento da
Philosophia na Europa. Terceiro Periodo: Desde
D. João V até o fallecimento do Sr. Silvestre Pinheiro Ferreira, ou
desde 1706 até 1846: I. Noticia biographico-critica dos mais notaveis
Philosophos Portuguezes desde D.
João V até o Sr. Silvestre Pinheiro Ferreira II. Da
Philosophia nas escholas de Portugal desde desde D. João V até 1848.
III. Movimento da
Philosophia na Europa.
José Joaquim Lopes Praça
(1844-1920). "Jurista, professor universitário e historiador da
Filosofia em Portugal (n. Castedo, Alijó, 1844, m. Montemor o Novo,
1920). Feitos os preparatórios de Humanidades, ingressou no Seminário
Arquiepiscopal de Braga, concluindo Teologia (1862), matriculando-se
depois nas Faculdades de Direito e de Teologia em Coimbra, optando por
Direito, cuja licenciatura obteve (1869). Nomeado professor para a sua
terra natal, reingressou nos estudos universitários, com o fito de
preencher uma vaga na Faculdade de Direito, para o que apresentou uma
tese em 1870, mas não obteve o que desejava, por isso regressando a
Montemor, onde fomentou os estudos históricos sobre a localidade. Obtém
colocação no Liceu Central de Lisboa, mas o seu objectivo continuava
sendo o de uma carreira universitária. Em 1881 concorre a uma de três
vagas na Faculdade de Direito coimbrã, defendendo tese sobre "O
Catolicismo e as Nações Católicas", sendo nomeado professor substituto
da 15.ª cadeira. Perceptor e mestre de Filosofia do príncipe D. Luís e
do Infante D. Manuel (1904), o regicídio de 1908 foi para ele um golpe
tão duro que se retirou por completo da vida pública, apenas mantendo
correspondência com alguns amigos, entre eles Ferreira Deusdado e Tiago
Sinibaldi, deixando documentada em cartas a sua transição do krausismo
para uma sóbria adesão ao neotomismo. Os dois aspectos mais
significativos da sua obra são o de especialista de Direito
Constitucional e o de historiador da nossa Fitos. Em Fitos. do Direito
começou por seguir Kant, que preferia a Krause, mas, nos Estudos sobre a
Carta (1878), elogia a difusão das teses de Krause, apreendidas através
dos discípulos belgas Ahrens e Tiberghien, e que, no nosso país, se
radicaram através do magistério de Vicente Ferrer Neto Paiva. Sendo um
dos primeiros constitucionalistas portugueses, mostrou total adesão ao
jusnaturalismo de Ferrer e de José Dias Ferreira, que muito admirava,
tendo chegado a prometer competente estudo sobre o pensamento desses
autores, no 2.° vol., projectado mas irrealizado, da sua História da Filosofia em Portugal.
Estudante, ainda, influenciado pelos estudos históricos peculiares ao
romantismo, e pelo exemplo de Alexandre Herculano, feria o a
inexistência de uma panorâmica da fitos. em Portugal. Decidiu, por isso,
investigar e escrever a História da Filosofia em Portugal nas safas Relações tona o Movimento Geral da Filosofia,
prevista para 2 vols., de que só o primeiro saiu (1868). Lopes Praça
tem noção das limitações do trabalho quando afirma: "Não nos levem a mal
o título do livro. Chamamos-lhe o que desejávamos que ele fosse, e não o
que realmente é". No título, o plano supõe uma leitura paralela
comparativa da filosofia europeia com a filosofia em Portugal, e o autor
consegue isso, mediante a alternância dos capítulos, que, desse modo,
dá ao livro o carácter de "história universal". O propósito da obra acha
se na mesma definição do objecto de História da Filosofia: "expor e
criticar as tentativas do espírito humano... nos domínios da Filosofia".
A amplitude temporal define se entre a escolástica medieval, assumida a
partir do começo da independência política portuguesa, até meados do
séc. XVIII, mediante a obra ecléctica de Silvestre Pinheiro Ferreira.
L.P. não nos propõe uma noção específica de "filosofia portuguesa",
preferindo, dada a sua ideia de universalidade da filosofia, a noção de
"filosofia em Portugal", enquanto o seu itinerário através do tempo se
apoia mais nos filósofos do que na sequência tética intrínseca ao
discurso da filosofia na história. Com tudo isso, é, sob o impulso
iniciado por L.P., que entre nós se desenvolve "o estudo biográfico e
histórico-cultural".
(J. de Carvalho, v. Bibl., p. 153, in http://www.dodouropress.pt/)
Encadernação em meia de pele, ao gosto da época, com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado de conservação. Lombada com pequenos defeitos e selo de biblioteca.
Raro.
Indisponível
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