ALVES JÚNIOR (Zé di Mélo), José Ribeiro - PORQUE SE ASSASSINA : contos. Lisboa, [Edição do Autor], 1938. In-8º (18cm) de 104 p. ; B.
1.ª edição.
Valorizada pela dedicatória manuscrita do autor.
Obra raramente citada na bibliografia do autor, trata-se de um conjunto de interessantes contos, espécie de ensaios, tendo como pano de fundo a natureza e a condição humana.
"É um facto incontestável o de qualquer animal vir ao mundo no estado selvagem. O irracional, pela sua própria condição de irracional, ficará sempre no estado em que nasceu. Nem mesmo a domesticação fará com que êle modifique as suas tendências naturais. A-pesar do que se diz e escreve a respeito da sua inteligência, o animal irracional não discerne nunca o bem do mal. Se receia, os que receiam, o castigo corporal, é apenas por instinto de conservação.
Vem isto a propósito do assunto que escolhi para os contos que seguem.
Coloquem o homem, ao nascer, numa selva: e se as feras não o devorarem, tornar-seá como elas. A sua garganta não emitirá mais que guinchos. Andará nu. Os cabelos da cabeça e do corpo crescerão de tal forma que lhes dará a semelhança de um bicho. Comerá do que apanhar à mão; e a carne das caçadas que fizer será ingerida crua. Nas lutas que tiver de sustentar, defender-se-á com as unhas e com os dentes. A sua inclinação será tôda para praticar o mal. E isto independentemente do axioma tam verdadeiro que diz ser o homem o pior inimigo do homem.
O que o distingue dos brutos é ùnicamente a faculdade que tem de discorrer e de se exprimir por gestos ou por palavras. No entanto, estes predicados só os pode desenvolver quando transplantado ao meio da chamada civilização.
A sua bestialidade, porém, não morreu. Está adormecida pela convivência. O mais pequeno choque a despertará quebrando o verniz que a sociedade lhe impôs. A êste despertar chama-lhe a maior parte da gente: excitação nervosa, cólera, ira, raiva, maldade, mau génio, má hora, má sina... que sei eu! O seu verdadeiro nome é que quási ninguém lhe dá: ancestralidade.
Conjugados estes pontos de vista, teremos plenamente justificado o título do presente livro - Porque se assassina."
(preâmbulo)
Contos:
- Um monstro. - Um fraco que queria viver. - Pela honra e conservação da vida. - Pelo dinheiro. - Por vingança. - Tragédia conjugal. - Conseqüências de uma leviandade de estudante. - O vício da luxúria. - O vício do jôgo. - O vício da bebida. - O perigo vermelho.
José Ribeiro Alves Júnior (1887-1973). Escritor algarvio, natural de Vila Real de Santo António. Utilizou o pseudónimo literário "Zé di Melo". Tem obra publicada, sobretudo como cronista. Colaborou na imprensa periódica, onde se salienta o jornal O Século.
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Ex-libris de posse colado na f. anterrosto.
Raro e muito curioso.
A Biblioteca Nacional (BNP) tem registado apenas um exemplar.
20€
Sem comentários:
Enviar um comentário