[BARBOSA, Domingos Caldas] - VIOLA DE LERENO : Collecção
das suas cantigas, oferecidas aos seus amigos. Volume I. [e Volume II]. LISBOA:
Na Officina Nunesiana. Anno 1798. Com
licença da Meza do Desembargo do Passo e Na Typographia Lacerdina. 1826.
Com Licença. 2 vol. in-8º (16cm) de 8
cad.x32 p. + 4 p. índ. e 8 cad.x32 p. + 6 p. índ. ; E. num único tomo.
1ª edição (os dois vols.).
“Sabe-se pouco a respeito da música produzida no Brasil
entre 1500 e 1760, porque não há identificação de autores, tampouco algum
registro impresso. Mesmo assim, é possível afirmar que os primeiros gêneros
populares que se destacaram foram a modinha (de caráter romântico) e o lundu
(tradutor do humor e da sensualidade do povo).
O personagem pioneiro da música
popular brasileira é o poeta, compositor e cantor carioca Domingos Caldas
Barbosa (1740-1800). Filho de um funcionário português e de uma escrava
angolana alforriada, Barbosa revelou sua vocação poética e facilidade para
improvisar versos quando ainda era um jovem que freqüentava escola. Com pouco
mais de 20 anos, partiu para Portugal com o objetivo de estudar direito na
Universidade de Coimbra, mas seus planos acabaram frustrados pela falta de
dinheiro. Com a morte de seu pai, que financiava a viagem, o problema se
intensificou. Para sobreviver, Domingos Caldas Barbosa passou a exibir seu
talento poético-musical em festas e reuniões de nobres da capital Lisboa,
atividade que lhe rendia alguns trocados. Sua situação só melhorou quando uma
das famílias abastadas para as quais se apresentava começou a protegê-lo. O
brasileiro pôde então transitar com mais facilidade nos salões chiques,
conquistou uma vaga na Arcádia* (onde adotaria o nome de Lereno Selinuntino) e
ganhou um lugar entre a nova geração de poetas, na qual se destacavam nomes
como Manuel Maria du Bocage (1765-1805) e Agostinho de Macedo (1761-1831). Cantando
suas modinhas e lundus para a corte, Caldas Barbosa alcançou grande sucesso e
tornou-se o primeiro artista a exportar música brasileira. Nem tudo, porém,
eram aplausos na vida do cantador. Sua figura – um mulato da colônia que fazia
canções muito diferentes de tudo que se conhecia – causava estranheza. Tanto
que ele tornou-se alvo da hostilidade de alguns membros da aristocracia e da
intelectualidade lusitanas. O próprio Bocage, cuja obra não é nenhum manual de
boas maneiras para moças de família, chegou a escrever um soneto chamando
Caldas Barbosa de “orangotango com gestos e visagens de mandinga”. Muito desse
preconceito talvez se devesse, principalmente, aos lundus entoados pelo
brasileiro. Ao contrário da modinha (que possuía esse nome para se diferenciar
da moda portuguesa e chegava a ser considerada uma música “branca”), o lundu
era multicolorido, isto é, uma fusão de elementos de origens branca e negra.
Sua fórmula, que misturava o ritmo africano com melodias e harmonias européias,
já revela um dos aspectos mais fascinantes de nossa música popular. O lundu,
com suas canções alegres, de versos satíricos e maliciosos, foi o primeiro
gênero afro-brasileiro e, portanto, elemento fundamental no processo que resultaria
na criação do samba. Na Europa, a música do mulato carioca também deixou
marcas. Os versos coloquiais de suas modinhas influenciariam, mais tarde, até
mesmo o poeta Fernando Pessoa. Já o lundu, seria importante para a formação do
fado. Domingos Caldas Barbosa nunca mais voltaria ao Brasil, falecendo em
Lisboa. Sua arte, no entanto, retornou. Transformada e misturada a outras
formas musicais, a influência deixada por Caldas Barbosa veio na bagagem da
Família Real portuguesa que aportou no Brasil em 1808.” ("Samba, a cara do
Brasil", Pueri Domus/Escolas Associadas, 2009)
*Arcádia (Nova Arcádia). “Em 1790, Domingos
Caldas Barbosa funda, com o auxílio de Belchior M. Curvo Semedo, J. S. Ferraz
de Campos e Francisco J. Bingre, a Academia das Belas-artes, logo depois chamada
Nova Arcádia. Ao novo grémio se associaram Bocage, José Agostinho de Macedo,
Luís Correia França e Amaral, Tomás António dos Santos e Silva, e outros. Academia
de oratória e poesia, em 1793 publica algumas obras poéticas de seus membros
sob o título genérico de Almanaque das Musas. Entretanto, começam as
divergências internas, sobretudo entre Macedo e Bocage, e em 1794 a corporação
desaparece. Domingos Caldas Barbosa era brasileiro e mulato, nascido no Rio, em
1740, e falecido em Lisboa, em 1800, para onde seguira por volta de 1770.
Granjeou fama nos salões aristocráticos do tempo como intérprete e compositor
de modinhas e lunduns, que introduziram no rigorismo arcádico uma nota de
dengue e emoliência tropical. Suas composições, reunidas sob o título de Viola
de Lereno (2 vols., 1798-1826) em razão de seu pseudónimo arcádico (Lereno
Selinuntino), contem um sopro de informalismo e brejeirice um tanto quanto
estranho ao afectado da poesia arcádica. Apesar disso, o carácter demasiado
popular de suas quadrinhas talvez explique o injusto desapreço em que o poeta é
tido pela crítica erudita.” (auladeliteraturaportuguesa.blogspot.pt)
Encadernação em meia de pele com dourados sobre
rótulos carmim.
Exemplar em excelente estado de conservação. Corte
superior das folhas carminado.
Raríssimo, na sua edição original.
Com interesse histórico.
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