22 julho, 2012


[BARBOSA, Domingos Caldas] - VIOLA DE LERENO : Collecção das suas cantigas, oferecidas aos seus amigos. Volume I. [e Volume II]. LISBOA: Na Officina Nunesiana. Anno 1798. Com licença da Meza do Desembargo do Passo e Na Typographia Lacerdina. 1826. Com Licença. 2 vol. in-8º (16cm) de 8 cad.x32 p. + 4 p. índ. e 8 cad.x32 p. + 6 p. índ. ; E. num único tomo.
1ª edição (os dois vols.).
“Sabe-se pouco a respeito da música produzida no Brasil entre 1500 e 1760, porque não há identificação de autores, tampouco algum registro impresso. Mesmo assim, é possível afirmar que os primeiros gêneros populares que se destacaram foram a modinha (de caráter romântico) e o lundu (tradutor do humor e da sensualidade do povo).
O personagem pioneiro da música popular brasileira é o poeta, compositor e cantor carioca Domingos Caldas Barbosa (1740-1800). Filho de um funcionário português e de uma escrava angolana alforriada, Barbosa revelou sua vocação poética e facilidade para improvisar versos quando ainda era um jovem que freqüentava escola. Com pouco mais de 20 anos, partiu para Portugal com o objetivo de estudar direito na Universidade de Coimbra, mas seus planos acabaram frustrados pela falta de dinheiro. Com a morte de seu pai, que financiava a viagem, o problema se intensificou. Para sobreviver, Domingos Caldas Barbosa passou a exibir seu talento poético-musical em festas e reuniões de nobres da capital Lisboa, atividade que lhe rendia alguns trocados. Sua situação só melhorou quando uma das famílias abastadas para as quais se apresentava começou a protegê-lo. O brasileiro pôde então transitar com mais facilidade nos salões chiques, conquistou uma vaga na Arcádia* (onde adotaria o nome de Lereno Selinuntino) e ganhou um lugar entre a nova geração de poetas, na qual se destacavam nomes como Manuel Maria du Bocage (1765-1805) e Agostinho de Macedo (1761-1831). Cantando suas modinhas e lundus para a corte, Caldas Barbosa alcançou grande sucesso e tornou-se o primeiro artista a exportar música brasileira. Nem tudo, porém, eram aplausos na vida do cantador. Sua figura – um mulato da colônia que fazia canções muito diferentes de tudo que se conhecia – causava estranheza. Tanto que ele tornou-se alvo da hostilidade de alguns membros da aristocracia e da intelectualidade lusitanas. O próprio Bocage, cuja obra não é nenhum manual de boas maneiras para moças de família, chegou a escrever um soneto chamando Caldas Barbosa de “orangotango com gestos e visagens de mandinga”. Muito desse preconceito talvez se devesse, principalmente, aos lundus entoados pelo brasileiro. Ao contrário da modinha (que possuía esse nome para se diferenciar da moda portuguesa e chegava a ser considerada uma música “branca”), o lundu era multicolorido, isto é, uma fusão de elementos de origens branca e negra. Sua fórmula, que misturava o ritmo africano com melodias e harmonias européias, já revela um dos aspectos mais fascinantes de nossa música popular. O lundu, com suas canções alegres, de versos satíricos e maliciosos, foi o primeiro gênero afro-brasileiro e, portanto, elemento fundamental no processo que resultaria na criação do samba. Na Europa, a música do mulato carioca também deixou marcas. Os versos coloquiais de suas modinhas influenciariam, mais tarde, até mesmo o poeta Fernando Pessoa. Já o lundu, seria importante para a formação do fado. Domingos Caldas Barbosa nunca mais voltaria ao Brasil, falecendo em Lisboa. Sua arte, no entanto, retornou. Transformada e misturada a outras formas musicais, a influência deixada por Caldas Barbosa veio na bagagem da Família Real portuguesa que aportou no Brasil em 1808.” ("Samba, a cara do Brasil", Pueri Domus/Escolas Associadas, 2009)
*Arcádia (Nova Arcádia). “Em 1790, Domingos Caldas Barbosa funda, com o auxílio de Belchior M. Curvo Semedo, J. S. Ferraz de Campos e Francisco J. Bingre, a Academia das Belas-artes, logo depois chamada Nova Arcádia. Ao novo grémio se associaram Bocage, José Agostinho de Macedo, Luís Correia França e Amaral, Tomás António dos Santos e Silva, e outros. Academia de oratória e poesia, em 1793 publica algumas obras poéticas de seus membros sob o título genérico de Almanaque das Musas. Entretanto, começam as divergências internas, sobretudo entre Macedo e Bocage, e em 1794 a corporação desaparece. Domingos Caldas Barbosa era brasileiro e mulato, nascido no Rio, em 1740, e falecido em Lisboa, em 1800, para onde seguira por volta de 1770. Granjeou fama nos salões aristocráticos do tempo como intérprete e compositor de modinhas e lunduns, que introduziram no rigorismo arcádico uma nota de dengue e emoliência tropical. Suas composições, reunidas sob o título de Viola de Lereno (2 vols., 1798-1826) em razão de seu pseudónimo arcádico (Lereno Selinuntino), contem um sopro de informalismo e brejeirice um tanto quanto estranho ao afectado da poesia arcádica. Apesar disso, o carácter demasiado popular de suas quadrinhas talvez explique o injusto desapreço em que o poeta é tido pela crítica erudita.” (auladeliteraturaportuguesa.blogspot.pt)
Encadernação em meia de pele com dourados sobre rótulos carmim.
Exemplar em excelente estado de conservação. Corte superior das folhas carminado.
Raríssimo, na sua edição original.
Com interesse histórico. 
Indisponível

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