31 janeiro, 2025

GUSMÃO, Lapas de -
NO MUNDO DESCONHECIDO
. Lisboa, Tip. da Emprêsa Nacional de Publicidade, 1937. In-8.º (19,5x13 cm) de 256 p. ; E.
1.ª edição.
Obra curiosíssima sobre a questão da imortalidade do homem, espécie de romance-ensaio escrito na 1.ª pessoa. Estudo muito interessante, especulativo, situado no âmbito da Ficção Científica em alguns sites/blogues da especialidade neste género de literatura.
"O mistério da Morte - O conceito do Universo - A ideia de Deus problemas eternos que neste livro tento enunciar e apresentar, não em exposições suculentas ou divagações cansativas, mas sob forma leve, vivida e dramatizada, em termos, julgo, de poderem ser apreendidos por tôdas as inteligências.
Problemas eternos são chamados e com inteira razão, porque nunca o espírito do Homem logrará decifrá-los e compreendê-los em toda a sua plenitude, não obstante as doutrinas fantasiosas das religiões, as efabulações metafísicas e lendárias da fé, as investigações positivas da ciência ou as lucubrações, mais ou menos filosóficas e mais ou menos profundas, do génio humano.
Desde sempre, êsses problemas preocuparam a Humanidade e a preocupá-la continuarão por todos os tempos, visto ultrapassarem as possibilidades da sua inteligência e da sua razão, e jàmais êles serão, porventura, desvendados porque, quem sabe? talvez constituam problemas, sim, mas apenas existentes na ansiedade da alma humana.
Neste termos, quem ousará ter a estulta pretensão de apresentar uma solução arrogantemente definitiva, ou ao menos uma explicação inteiramente inédita, sôbre tão magno e angustioso assunto?
Através das indicações da minha razão e das sugestões da minha fantasia, teria eu conseguido vislumbrar uma fugidia sombra da Verdade?
Terá sequer existência real essa suposta Verdade que, segundo pretendem inculcar, todo o homem, consciente ou inconscientemente, guarda no fundo de si mesmo?..."
(Excerto do preâmbulo)
Joaquim Lapas de Gusmão (1886-1962). Jornalista, escritor, Combatente da Grande Guerra em África e França, condecorado com a Cruz de Guerra.
Colaborou nos jornais A Pátria, do Porto, e na Capital, Lucta, Intransigente, O Século e Diário de Notícias, de Lisboa. Publicou entre outros, os volumes Visão da Guerra e A Guerra no Sertão, em que descreve o que viu em França e África durante a Primeira Guerra Mundial, o drama em 3 actos O Mutilado, sobre o mesmo assunto, a tragédia em um acto Uma noite, o romance fantástico No mundo desconhecido e o ensaio filosófico Matéria e Vida.
Encadernação meia de pele com rótulo e dourados na lombada. Conserva as capas de brochura.
Exemplar em bom  estado geral de conservação. Lombada apresenta falha de pele no pé.
Raro.
Indisponível

30 janeiro, 2025

PRAÇA, Dr. José Joaquim Lopes - DAS LIBERDADES DA EGREJA PORTUGUEZA. O Catholicismo e as Nações Catholicas. Dissertação para o Concurso ao Magisterio na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Pelo candidato... Coimbra, Imprensa Litteraria, 1881. In-8.º (22,5 cm) de 126, [2] p. ; B.
1.ª edição.
"Catholicos e portuguezes, os nossos mais notaveis pensadores divergiam entre si, e não lhes repugnava ir d'encontro á doutrina que haviamos haurido no seio da Universidade, frequentando por alguns annos a Faculdade de Theologia, a de Philosophia, e muito especialmente a de Direito, a que de preferencia nos dedicamos, e da qual recebemos grandes, generosos e nunca esquecidos beneficios. [...]
Fizemos uma synthese das nossa idéas, e, se não nos illude a nossa boa fé, afigura-se-nos poder lançar alguns topicos para uma historia util, rigorosa e proficua da egreja portugueza, para a historia do direito patrio, e os fundamentos ao menos para que de futuro as nossas investigações sobre as relações entre Roma e Portugal, cheguem a um accôrdo em que progressivamente se manifestem com desassombro as aspirações legitimas dos dois poderes - espiritual e temporal."
(Excerto do preâmbulo)
José Joaquim Lopes Praça (Castedo, Alijó, 1844 - Montemor-o-Novo, 1920). "Forma-se em Direito em 1868. Começa como professor do ensino secundário em Montemor-o-Novo, Viseu e Lisboa. Professor da Faculdade de Direito de Coimbra a partir de 1881, apresentando a tese O Catolicismo e as Nações. Da Liberdade da Igreja Portuguesa. Começa marcado pelo romantismo de Herculano e, por influência de Vicente Ferrer de Neto Paiva, adere depois ao Krausismo. Em 1904, foi nomeado aio do príncipe real, D. Luís Filipe, e do então infante D. Manuel. Abandona completamente a vida pública depois do regicídio de 1908."
(Fonte: http://maltez.info/respublica/portugalpolitico/classepolitica/pracalopes.htm)
Exemplar brochado, por abrir, em bom estado geral de conservação. Capa manchada com defeitos e pequenas falhas de papel.
Raro.
Com interesse histórico e religioso.
25€

29 janeiro, 2025

CLARO, Rogério -
DR. FRANCISCO DE PAULA BORBA : 1.º cidadão honorário de Setúbal
. Setúbal, Edição: Do autor, 1986. In-8.º (21,5x15 cm) de 83, [1] p. ; mto il. ; B.
1.ª edição.
Obra biográfica de homenagem a Francisco de Paula Borba, ilustre angrense que elegeu Setúbal como terra de adopção.
Bonita edição, totalmente impressa sobre papel couché, ilustrada com inúmeras fotografias a p.b., sendo algumas delas em página inteira.
Exemplar muito valorizado pela dedicatória autógrafa do autor a Jorge Botelho Moniz (1924-2014), político e administrador de empresas, antigo presidente da Câmara Municipal de Setúbal (1955-1957).
"- Ó Moniz, está lá fora um patrício teu que te quer falar.
Carlos Ramos Moniz, obtida a licença do mestre, descansou o instrumento no banco donde se levantara e assomou à porta da sala de ensaios da banda de Caçadores 1. Corria o ano de 1898.
Fora, um jovem alto, de porte distinto, apresentou-se. Era o Francisco, o irmão do padre Borba que andara com Moniz à escola, na ilha Terceira, nascidos todos na freguesia de Biscoitos da Praia da Vitória. Com 26 anos, médico recém-formado, o Dr. Francisco de Paula Borba acabara de chegar a Setúbal, para aqui estabelecer clínica, sem outra referência senão a do patrício, músico distinto no regimento local. Ficou 15 dias aboletado em cada da mãe dele, a senhora Carolina Serralha, na Rua Nova da Conceição. Depois, seguiu o rumo da sua vida."
(Excerto do Cap. I)
Francisco de Paula Borba (Angra do Heroísmo, 1873 - Setúbal, 1934). "Foi um médico, formado em cirurgia pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa em 1898, que exerceu medicina em Setúbal, sendo médico da Misericórdia e do Montepio daquela cidade. Distinguiu-se no campo da filantropia."
(Fonte: Wikipédia)
Rogério Noel Peres Claro (Setúbal, 1921 - 2015). "Foi um professor do ensino comercial e industrial, jornalista e divulgador da história da cidade de Setúbal. Tirou o curso dos liceus no Liceu Nacional de Setúbal (atual Escola Secundária de Bocage) e licenciou-se em Filologia Românica na Universidade de Lisboa. Iniciou a sua carreira docente como professor do ensino técnico profissional em 1943, tendo sido diretor da Escola Industrial e Comercial de Estremoz (atual Escola Secundária Rainha Santa Isabel) entre 1952 e 1961 e da Escola Industrial e Comercial de Setúbal (atual Escola Secundária Sebastião da Gama) entre 1961 e 1970."
(Fonte: Wikipédia)
Exemplar em brochura, bem conservado.
Invulgar.
Indisponível

28 janeiro, 2025

MELO, Cristina Joanaz de -
COUTADAS REAIS (1777-1824).
Poder, gestão, privilégio e conflito. Lisboa, Montepio Geral, 2000. In-fólio (30 cm) de 186;[1] p. ; [15] f. il. ; B.
1.ª edição.
Importante trabalho académico. Trata-se da dissertação de mestrado da autora em História dos Séculos XIX e XX - Secção do Século XIX, apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
Ilustrado no texto com mapas e tabelas, e 15 fotografias a cores distribuídas por 8 páginas no final do livro.
"Em Portugal, as coutadas reais apresentam-se como uma estrutura multifacetada com implicações marcantes na sociedade Antigo Regime, ao nível da definição do “status e ethos” da monarquia, da formação de instituições e poderes intermédios e serve, ao mesmo tempo, de barómetro da actuação das justiças locais."
(Fonte: https://www.goodreads.com/book/show/21856668-coutadas-reais-1777-1824)
"Actualmente, falar em coutada significa referir um espaço de actividades múltiplas onde se complementaram a exploração cinegética e a actividade agro-florestal. No entanto, para grande parte da população, a palavra coutada é genericamente identificada com um espaço que se caracteriza pela exploração cinegética exclusiva, sem qualquer outro tipo de utilização ou rentabilização económica. [...]
O tema da caça e a importância da actividade cinegética para a nobreza da Época Moderna é de tal modo apaixonante que Salvadori retrata os séculos XVI e XVII como os «Séculos de Ouro da Montaria Francesa». Maria José Rubio Aragonés afirma mesmo que Madrid se teria constituído enquanto capital de Espanha dado ser o espaço que o rei mais frequentava, por ser aqui que se encontravam as melhores coutadas de caça frequentadas regularmente pelos Habsburgos. [...]
No caso português, esta paixão pela actividade venatória também se verifica ao longo de todo o Antigo Regime datando a relação das coutadas reais, na sua quase totalidade, do Regimento do Monteiro-Mor de 1605. A acrescentar a esta circunstância, o caso português prende-se ainda com a questão de salvaguarda de um império ultramarino e de garantia das condições de produção e fornecimento de matérias-primas para a armada. As coutadas reais e a preservação da floresta surgem, então, como um atributo do estatuto da realeza e um imperativo económico. [...]
A dissertação compreende, então, cinco capítulos ordenados da seguinte forma: a introdução, três capítulos de exposição sobre o tema e a conclusão. No capítulo 2 apresenta-se o direito florestal e cinegético em vigor fora e dentro das coutadas durante o Antigo Regime e as alterações desta legislação efectuadas pelas Cortes Constituintes. No capítulo 3 expõe-se a forma como a Montaria-Mor do Reino procedia à gestão e exploração dos recursos. O capítulo 4 retrata a importância da coutada e da caça enquanto privilégios da realeza e da aristocracia e a conflitualidade social nas coutadas reais. Finalmente o capítulo 5 apresenta as conclusões deste trabalho"
(Excerto da Introdução)
Exemplar em brochura, bem conservado.
Muito invulgar.
Com interesse histórico.
25€

27 janeiro, 2025

FREVILLE, M. -  HISTORIA DOS CÃES CELEBRES, na qual se relatão grande numero de anecdotas recreativas, e extremamente interessantes acêrca do instincto destes animaes. Traduzida do fancez de..., Por Caetano Lopes de Moura, natural da Bahia. Ornada com estampas. Pariz, Na Livraria Portugueza de J. P. Aillaud. 1845. In-8.º (16x10,5 cm) de [4], 295, [1] p. ; [4] f. il. ; E,
1.ª edição.
Importante conjunto de histórias relacionados com o Cão, onde este é o "actor" principal. Obra rara, publicada em Paris pela Aillaud, talvez a primeira que sobre este assunto se publicou na nossa língua.
A presente obra tem por objetivo reunir toda a informação sobre cães dispersa por diferentes livros de diferentes épocas, sobretudo os animais que pelas suas "virtudes" atingiram o estatuto de "celebridade". O cão de Lázaro e o de Ulisses, o de Alcibíades, mas também o de Rousseau e o de Frederico II, etc., enfim, episódios intemporais de animais vigilantes, corajosos, determinados - provando linha a linha, página a página, o epíteto "fiel amigo do homem".
Livro ilustrado com 8 bonitas gravuras distribuídas por 4 folhas separadas do texto onde se encontram representadas 22 raças caninas.
"O cão é sem contradicção um dos mais interessantes animaes entre os muitos que a providencia creou para nossa utilidade e recreação. Cousa é esta que certo não padece duvida, quando ponderamos no genio meigo e affectuoso d'estes animaes que os obriga a serem amigos do homem. Nenhum animal teve em dota, como o cão, optimas qualidades, quasi sem mistura de vicios. Assim que não é de estranhar tivessem os povos da antiguidade a lembrança de convetêl-o numa especie de divindade. Sabido é que os Egypcios o reverenciavão debaixo do nome d'Anubis, e que os gregos o collocárão no céo entre as constellações.
Argus, cão d'Ulisses, é conhecido pelos soberbos versos d'Homero. [...]
Em fim o cão representa um papel interessante tanto na historia sagrada, como na profana, e acompanha sempre alguma personagem illustre para guiál-a, defendêl-a, adevertil-a, ou consolál-a. [...]
A conclusão que se deve tirar de tão proveitosas tradições é que não ha cousa que mais nos recommende perante outrem, e lhe conquiste o coração como a amabilidade, as attenções, o bom agrado e a bondade do coração. Se tão preciosos dotes até nos proprios animaes se estimão e se recompensão, que impressão não devem fazer no animo dos nossos semelhantes? Assim que são elles indibitavelmente os melhores titulos que podêmos apresentar na sociedade, para sermos bem aceitos. Tanto nos indispõem e dissaborêão a incivilidade, acrimonia, e grosseria, quanto nos encantão e cativão a doçura, a civilidade e as attenções obsequiosas."
(Excerto do Preâmbulo - Resumo historico das excellentes qualidades dos cães)
Caetano Lopes de Moura (1779-1860). "O baiano filho de escravos que foi médico particular de Napoleão Bonaparte. Aos 18 anos participou de uma revolta conhecida como conspiração dos Búzios, que falhou fazendo-o fugir para Portugal onde - com muito esforço - conseguiria entrar na universidade de Coimbra formando-se médico. Posteriormente participaria da guerra peninsular como cirurgião do exército francês. Também adquiriu grande fama como médico particular em Paris e como produtor de obras de grande valor científico e cultural. Além disso, também traduziu para o português obras de grandes autores franceses, ingleses e alemães. Sua fama chegaria aos ouvidos do imperador francês Napoleão, que contratou seus serviços. Após a derrota final de Bonaparte na batalha de Waterloo em 1815, Caetano Moura caiu no esquecimento voltando ao Brasil em 1846, quando já tinha 67 anos de idade. Passaria necessidades chegando a mendigar pelas ruas do Rio de Janeiro. Quando o imperador Dom Pedro II ficou sabendo da sua história tratou logo de trazer o velho Caetano de volta a uma posição de prestígio, que viveu com uma pensão paga pelo estado brasileiro até sua morte aos 81 anos."
(Fonte: https://historia-do-brasil.quora.com/Caetano-Lopes-de-Moura-1779-1860-o-baiano-filho-de-escravos-que-foi-m%C3%A9dico-particular-de-Napole%C3%A3o-Bonaparte-Aos-18)
Encadernção coeva inteira de pele com dourados na lombada.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Cansado. "Partido" junto à lombada, que ostenta falha de pele relevante.
Raro.
Peça de colecção.
Indisponível

26 janeiro, 2025

HOURCADE, Pierre -
L'ESPRIT DE COIMBRA
. Lisbonne, Institut Français au Portugal, 1937. In-4.º (24x16,5 cm) de 8 p. ; B.
1.ª edição.
Interessante visão de Coimbra por um académico francês, residente na cidade nos anos 30 do século passado, escrito na sua língua materna. Opúsculo nunca traduzido para português.
"Il existe um «climat» moral de Coimbra, que nul de ceux qui en ont subi l'emprise ne saurait oublier. Et puisque chaque génération le colore d'une nuance particulière, peut-être n'est-il pas tout-à-fait superflu que, remuant des souvenirs encore frais, je m'efforce, grâce à eux, de discerner en quoi réside le charme de ce lieu, et quel est le secret de la gratitude que le lui voue.
Je crois que le passant, le touriste même émerveillé, ne connaît de cette ville qu'un aspect extérieur et presque factice. La noble courbe du Mondego, parfaite comme le mouvement d'un bras très pur, l'architecture des collines, l'abrupt escarpement de l'Alta, les jeux d'une lumière inimitable, toute la gamme des monuments qui chante un illustre passé -, Santo Antonio sous les feux du couchant et le cimitière du Pio s'avançant en proue au-dessus d'un paysage aussi vaste qu'harmonieux... [...]
Les techniques modernes s'y adaptent du reste admirablement, pour peu qu'on le veuille, à la tradition. D'aucuns accuseront les «capas e batinas», les épreuves initiatiques de la «praxe», le rituel vestimentaire et cérémonial des séances solennelles à la Sala dos Capêlos, de perpétuer un passé périmé. L'expérience des faits dément et ne fera que démentir chaque jour davantage cette vue pessimiste, et qui oublie combien le progrès s'humanise et revêt de dignité lorsqu'il s'insère dans une continuité vivante. Au reste, l'irrévérance des jeunes n'est plus souvent que la forme spontanée de leur attachement inquiet, mais vivace, à ce qu'ils affectent de railler."
(Excerto d'O Espírito de Coimbra)
Pierre Hourcade (Châlons-sur-Marne,1908 - Aix-en-Provence,1983). "De meio social modesto, Pierre Hourcade ficou a dever materialmente a sua ascensão curricular ao incentivo dos seus mestres e à ajuda do Estado. Aluno brilhante, depois de obter a licenciatura em Lettres Classiques, integra a prestigiosa École Normale Supérieure da rue d’Ulm em Paris. Léon Bourdon, que acabava de fundar o Institut Français de Lisboa, e Georges Le Gentil, fundador do primeiro Departamento de Estudos Portugueses na Sorbonne, sugeriram ao Director da École que estimulasse vocações lusófilas entre os alunos. Quem se propõe é Hourcade, recebendo uma bolsa para preparar em Coimbra o equivalente do actual Mestrado, um trabalho intitulado Guerra Junqueiro et le problème des influences françaises dans son œuvre. Essa primeira estadia leva-o a pedir em 1931 o posto de leitor de francês da Faculdade de Letras de Coimbra. Em 1932, é recebido à Agrégation de Lettres Classiques (um exigente concurso nacional de recrutamento de professores do Ensino Secundário), e é nomeado em 1934 leitor de francês na Faculdade de Letras de Lisboa. Em 1935, é enviado a São Paulo, onde ensina a literatura francesa na então recente Faculdade de Filosofia até 1938. É depois nomeado director do recém-criado Institut Français do Porto. A partir de 1941, e até 1962, será adido cultural da Missão diplomática francesa em Portugal, e Director do Institut Français de Lisboa, com um curto parêntese: foi demitido em 1943 pelo governo de Vichy e substituído no Institut por Jacques Vier, um discípulo de Maurras, que pela violência tomou posse da parte nascente do Palácio de Santos, a 18 de Outubro. Pierre Hourcade, apoiado pela grande maioria dos professores (Teyssier, Guibert, entre outros), abre um Institut paralelo na rua das Praças. Por esse tempo já estava relacionado com as organizações de resistência à colaboração com o nazismo, que formarão a partir de Junho de 1944 o Gouvernement provisoire de la République française. Em Setembro de 1944, Hourcade volta ao Palácio de Abrantes, e desempenha até 1962 uma notável actividade de difusão cultural franco-portuguesa."
(Fonte: Piwnik, Marie-Hélène, Dicionário de Historiadores Portugueses : Da Academia Real das Ciências ao Estado Novo, https://dichp.bnportugal.gov.pt)
Exemplar em brochura, por abrir, bem conservado.
Muito invulgar.
Com interesse para a bibliografia coimbrã.
Indisponível

25 janeiro, 2025

VALLE, Libanio Northway do - GRANDE ALMANACH DE SAUDE. Vade-mecum therapeutico e pharmacologico. Compilação de indicações, descripção de doenças e seu tratamento propriedade e dozagem dos medicamentos. Pelo Facultativo civil e major de infanteria reformado... Cavalleiro da Real Ordem Militar de S. Bento de Aviz, antigo alumno do Real Colegio Militar. Anno de 1897. Lisboa, Editor - J. M. O. Valle, 1896. In-8.º (14x9,5 cm) de 192 p. ; E.
1.ª edição.
Precioso almanaque, abrangendo diversas áreas da saúde, sobretudo as relacionadas com o diagnóstico das doenças e farmácia e preparação de medicamentos.
Obra rara. A BNP não menciona.
Índice:
Epocas memoraveis - Computo ecclesiastico - Temporas - Festas moveis - Estações do anno - Ferias - Bençãos matrimoniaes - Eclipses | Meses e dias santos | Pharmacia - Indicações geraes | Hygiene Therapeutica | Therapeutica - Formulario therapeutico | Envenenamentos | Formulario [Preparação de medicamentos].
Encadernação em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Cansado. Interior correcto, escurecido.
Raro.
Sem registo na Biblioteca Nacional.
Indisponível

24 janeiro, 2025

AYRES, Christovam -
A PRISÃO DO INFANTE D. DUARTE.
Por... Academia das Sciências de Lisboa. Separata do «Boletim de Segunda Classe», volume XI. Coimbra, Imprensa da Universidade, 1918. In-4.º (23,5x15 cm) de 92 p. ; B.
1.ª edição independente.
Importante trabalho histórico sobre o infausto príncipe português, e os seus padecimentos às mãos dos espanhóis no contexto da Guerra da Restauração.
"Duarte de Bragança (1605-1649), filho de Teodósio II, Duque de Bragança, e irmão do futuro D. João IV de Portugal deixou o reino em 1634 para servir o Imperador Fernando III da Germânia na Guerra dos Trinta Anos. Em 1638 visitou Portugal quando lhe foi pedido tomar o comando da revolta que conduziria à Restauração da Independência. Quando a notícia chegou à Alemanha o infante escreveu ao irmão (em 12 de Janeiro de 1641) a dizer-lhe que voltaria ao reino assim que pudesse, mas Espanha obteve por via diplomática que o imperador prendesse o infante na fortaleza de Passau, de onde transitou para a fortaleza de Graz, no sul da Áustria. D. João IV ordenou aos embaixadores que usassem de todos os meios para libertarem o irmão e pediu ajuda ao papa Inocêncio XII sem êxito. D. Duarte foi vendido aos espanhóis e encerrado no castelo de Milão (Castello Sforzesco), cidade italiana então governada por Espanha, onde morreu após oito anos de cativeiro, em 3 de Setembro de 1649."
Estudo muito valorizado pela numerosa correspondência que sobre o assunto se reproduz no interior.
"Os infortúnios e tormentos padecidos pelo Infante D. Duarte de Portugal, irmão de D. João IV - vítima de governos que, nêsse tão infeliz quanto ilustre português, se vingaram em prepotências e tiranias que sôbre Portugal não podiam exercer, porque lhes contrapunhamos, altivos, o valor das nossas armas - representam uma das dores grandes porque tem passado a alma da Pátria."
(Excerto do Estudo)
Cristóvão Aires de Magalhães Sepúlveda (1853-1930). "Nasceu em Goa, a 27 de março de 1853, e faleceu em Lisboa, a 10 de junho de 1930. Formado no curso de infantaria e cavalaria da Escola do Exército e no Curso Superior de Letras, foi promovido a alferes graduado em 1876 e a coronel em 1911, tendo sido também lente na Escola de Guerra. Eleito deputado pelo Partido Regenerador por três vezes, desempenhou os cargos de governador civil de Bragança e de promotor de justiça do 2° Conselho de Guerra da 1ª divisão. Integrou a redação do Jornal do Comércio e das Colónias, do qual veio a ser diretor. Foi cofundador, em 1911, da Sociedade Nacional de História, ao lado de Fidelino de Sousa Figueiredo, David de Melo Lopes e José Leite de Vasconcelos. Ao longo da sua vida, Cristóvão Aires pertenceria ainda ao Instituto de Coimbra, à Real Academia de História de Madrid e à Academia das Ciências de Lisboa, tendo sido também vogal da Comissão Nacional para as comemorações da Guerra Peninsular em 1908. Na Academia das Ciências de Lisboa foi eleito sócio correspondente da Classe de Ciências Morais, Políticas e Belas Letras a 8 de abril de 1886, tendo aí exercido os cargos de Inspetor da Biblioteca (1907-1913), Secretário da Classe de Letras (1910; 1915), Vice-Secretário (1914) e Secretário Geral (1921-1930). Integrou ainda a Comissão de Inventário do Museu Maynense."
(Fonte: https://arquivo.acad-ciencias.pt/details?id=45&detailsType=Authority)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis, com pequenos cortes marginais.
Muito invulgar.
Com interesse histórico.
25€

23 janeiro, 2025

VIEGAS, Brigadeiro Carvalho -
HISTÓRIA MILITAR DA GUINÉ NA SUA HISTÓRIA GERAL.
(No V Centenário da Descoberta). [Por]... Antigo Governador da Guiné. Lisboa, Composto e impresso na Tipografia da L. C. G. G., 1946. In-4.º (23x16 cm) de 12 p. ; [2] f. il. ; B.
1.ª edição independente.
Separata da «Revista Militar» - Fascículo de Dezembro de 1946.
Interessante subsídio para a história da ex-província Ultramarina.
Ilustrado com duas estampas extra-texto: - Monumento ao «Esforço da Raça», em Bissau; - Comemora a pacificação da Ilha de Canhabaque (1935-1936) (últimas operações na Guiné).
Exemplar muito valorizado pela dedicatória autógrafa do autor ao General Vieira da Rocha (1872-1952).
"A maior parte dos portugueses não conhece, na sua verdadeira grandeza, a extensão dos sacrifícios feitos na ocupação efectiva dos nossos domínios do Ultramar. Quando muito, sòmente alguns dos factos heróicos de Mousinho, na África Oriental, outros em Angola e algum outro episódio em qualquer das outras colónias.
Quanto à Guiné Portuguesa, a sua História Militar ainda está por escrever. Se é certo que nos últimos anos o número de livros, que tratam dessa Colónia, tem aumentado, em verdade falta esse documento indispensável ao estudo da sua formação.
Até agora só alguns relatórios das campanhas da Guiné, subscritos por comandantes de colunas de operações, registaram numa linguagem concisa e objectiva as fases da luta pela posse da última terra africana, que se furtou com invulgar contumácia à aceitação da nossa soberania."
(Excerto do estudo)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas apresentam "esfoladelas".
Muito invulgar.
Com interesse histórico.
15€

22 janeiro, 2025

DOYLE, Arthur Conan -
A PERSPECTIVA DA GUERRA. Por... Londres: Eyre & Spottiswoode, Limited, 1915. In-8.º (18x13,5 cm) de 19, [1] p. ; B.
1.ª edição.
Visão da Guerra Mundial pelo consagrado escritor inglês, "pai" do conhecido detective Sherlock Horlmes, Sir Arthur Conan Doyle, que faz o balanço da disputa até então.
Trata-se de uma abordagem realista do conflito, não deixando de focar a o momento em que, pela primeira vez, se estabeleceram as trincheiras como táctica de guerra, incluindo ainda no seu "roteiro" bélico locais que mais tarde viriam a ser ocupados pelas forças portuguesas do C.E.P.
Obra rara, histórica, com interesse para a bibliografia WW1.
"No lado militar da nossa campanha em França e Flandres tem se dado grandes acontecimentos tão cerca de nós, confundindo-nos as suas successivas commoções, que se torna preciso cultivar um certo desprendimento mental para se lhes calcular a proporção e mutua relação para com os valores permanentes da historia. Pelo que diz respeito á campanha britannica o seguinte summario deve estar correcto no seu conjuncto. A campanha começou por derrotas (honrosas e inevitaveis mas não menos derrotas por isso) em Mons (23 de Agosto) e Le Cateau (26 de Agosto). Seguiu-se lhe a victoria do Marne (Setembro 6-11) em que as honras couberam aos nossos aliados francezes, e a batalha empatada do Aisne (13 de Setembro) na qual pela primeira vez se formaram linhas immoveis, confissão de desastre por parte dos invasores. [...]
A campanha de 1915 começou por uma victoria britannica bem cara em Neuve Chapelle, em 10 de Março envolvendo a captura permanente de aldêa. Seguiu-se alli o combate local, mas intenso, da collina 60 que terminou por uma completa victoria britannica, se bem que a guarnição foi depois forçada a retirar-se em 5 de Maio, devido ao emprego dos gazes venenosos."
(Excerto de A Nossa Campanha no Oeste)
Índice:
A Perspectiva da Guerra - "A velha Britannia ainda tem o espirito lucido para planear e o braço robusto para ferir." | O Que Nós Temos Conseguido | Valor da Expedição de Dardanellos | A Nossa Campanha no Oeste | Desempenhámos o Nosso Papel | Pessimismo Despropositado.
Exemplar em brochura, bem conservado. Cadernos soltos da capa. Selo de biblioteca na lombada.
Assinatura de posse - na capa e f. rosto - e ex-libris colado no verso da capa de José Coelho (1877-1977), ilustre escritor, professor e arqueólogo viseense.
Raro.
Peça de colecção.
35€
Reservado

21 janeiro, 2025

EM CUSTÓIAS - Ano 1976 : Dia 1
. Porto, Edições: Alerta, 1976. In-8.º (16,5x11 cm) de 8 p. ; B.
1.ª edição.
Poesia revolucionária em solidariedade com o Chile, que vivia em regime de Ditadura há poucos anos, publicada por ocasião dos incidentes entre manifestantes e forças da GNR "junto das cadeias de Custóias e de Caxias onde se encontravam detidos elementos civis e militares envolvidos nos acontecimentos do 25 de Novembro de 1975", que resultaram na morte de quatro activistas.
Junta-se pagela poética: "hino de «o diário» - «A verdade a que temos direito».
Exemplar em brochura, bem conservado.
Raro.
Com interesse histórico e bibliográfico.
Indisponível

20 janeiro, 2025

MARTINS, José F. Ferreira -
ANGRID (romance oriental).
Por... Colecção Civilização N.º 85. Pôrto, Livraria Civilização, 1938. In-8.º (14x9,5 cm) de 204, [4] p. ; E.
1.ª edição.
Romance histórico cuja acção decorre, na sua maioria, no Oriente antigo português.
"Êste romance tem algum fundamento histórico, como todos os outros trabalhos de igual natureza por mim escritos.
Um pequeno episódio concernente à sociedade portuguesa no Oriente foi a chave que me serviu para bordar o enrêdo, que romantizei, ampliando-o com aspectos curiosos da vida movimentada dos tempos que dominávamos no Oriente.
Angrid, de-facto existiu e foi um célebre corsário, temido no Oceano índico, e cuja amizade os vice-reis, por mas de uma vez, procuraram e obtiveram em certas condições.
Muitos portugueses, franceses e ingleses serviram nas suas Armadas, e todos eram unânimes em exaltar as suas qualidades: valente na guerra e generoso na paz.
Angrid, lugar-tenente do célebre Corsário, é personagem principal do romance. Singularmente expressiva em tôdas as manifestações, formosa e ousada, objectiva e genuína mulher portuguesa do Século XVIII."
(Excerto do preâmbulo - Angrid)
"Acabavam de soar as últimas badaladas na tôrre da vélha igreja, tocando as Avé-Marias. Alguns peões retardatários, acabada a faina do dia, caminhavam apressados para chegarem a tempo a casa, pela vélha estrada cheia de buracos e entulhos, que do Lumiar ia a Odivelas.
Era noite escura e o céu triste de trovoadas.
Dois homens, no entanto, parecendo não ter pressa, de quando em quando suspendiam a marcha, discutindo com calor e lamentando que os seus magros salários mal chegassem para o pão. Estavam nesta altura em frente duma casa senhorial, cercada de muro que lhes dava pelos ombros. Um dêles num repente mal disfarçado, olhando para as janelas donde coava luz em jorros, comentou com um riso escarninho.
- A êste, aqui - apontando para o palácio - nada falta para ser feliz!...
Triste ilusão...
Lá dentro, na sumptuosidade dos vastos salões, de ricos doirados, tapeçarias e exquisitos candelabros, havia mais do que tristeza, havia dor, haviam lágrimas... Pairava uma pesada nuvem de tormentos mil. Um desastre lançava negra sombra n alma torturada de seus ricos moradores, os quais, talvez, preferissem, naquela hora, a mediania e até a pobreza de muitos dos seus vizinhos."
(Excerto do Cap. I - Hora fatal)
José Frederico Ferreira Martins (Nova Goa, 1874 - Lisboa, 1960). "Historiógrafo, romancista e tradutor. Depois de ter frequentado algumas escolas e universidades inglesas sem nelas ter completado qualquer curso, dedicou-se ao ensino, tendo sido professor liceal em Lisboa e em Goa. Foi vogal do Conselho de Instrução Pública da Índia e administrador da Imprensa Nacional de Luanda, cargo em que se aposentou nos anos trinta, vindo viver para Portugal onde passou a dedicar-se exclusivamente à escrita. Durante a sua estada na Índia havia desenvolvido uma importante atividade de investigação, cujos resultados estão presentes nos numerosos ensaios que publicou sobre a presença portuguesa no Oriente e vieram também a refletir-se numa parte da obra de ficção. Colaborou em O Oriente Português, de Goa, em O Instituto, de Coimbra, e em O Mundo Português, no Boletim da Sociedade de Geografia, de Lisboa."
Encadernação em percalina com ferros gravados a ouro na lombada. Conserva a capa de brochura frontal.
Exemplar em bom estado de conservação. Aparado. Folha 139/140 alvo de restauro.
Muito invulgar.
15€

19 janeiro, 2025

FORJAZ, Augusto -
LIVRES DAS FÉRAS...
[Por]... Augusto Eugenio Duarte Pereira de Sampaio Forjaz Pimentel. Lisboa, Livraria Ferin, 1915. In-8.º (21x15,5 cm) de XII, 270, [2] p. ; B.
1.ª edição.
Curiosíssimo conjunto de crónicas sobre Portugal e os portugueses, pessimistas na sua maioria, incluindo na primeira parte da obra a descrição de alguns dos episódios mais violentos da nossa história.
"Tem este livro duas partes distinctas, bem caracterizantes.
A primeira é chaga viva, supporando horrores. Pelo fôgo, pela córda, pelo ferro, chamei-lhe, abrangendo quadros temerósos.
São paginas repercutindo gritos de esquartejádos, bramidos de desespero, uivos de soffrimentos. São exhumações de despotismo, arrancando ao esquecimento 356 victimas. São fructos d'uma arvore que foi abatida, mas cujas sementes ainda ás vezes tentam germinar. [...]
Livro de rehabilitação, de Piedade, de Misericordia e de protesto, onde a Verdade surge a rosto nú, despida de ouropeis fictícios e de complacências sem motivo, assim fui procurá-lo na Historia, entenebrecida de pungitíva mágua, nauseáda por justificado ásco. Tristúra pèlos que que morreram; repulsão pèlos que matáram. Assim o apresento na scena contemporanea, como dóbre a finados abatidos por villanzêtes.
A segunda parte da óbra: Nos acasos da vida... é menos áspera. Tráta dos que morreram sem arrepios de tormentos physicos. Bastou-lhes a intriga maledicente."
(Excerto do Prologo)
Indice:
Prologo | Primeira Parte - Pelo fôgo, pela córda, pelo ferro: - O «Lisbôa». Carniceria no Porto. 1757. - Os «Tavoras». Barbarismo em Belem. 1759. - Malagrida. 1761. - A Trafaría. Entre labarédas. 1777. - Gomes Freire. 1817. - Moreira Freire. 1829. - Gravíto. Os assassinados do Porto. 1829. - Campo de Ourique. Fusilamentos. 1831. - Frei Simão. 1832. - O padre Farinha. 1838 - Remechído. 1838. Segunda Parte - Nos acasos da vida: Sotto Maior. - Niza. - Branca de Paiva. - Castello Melhor. - Chico Reis. - Sampaio. - Sant'Anna e Vasconcellos. - Barjona.
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis com pequenos cortes e falhas de papel marginais.
Raro.
Indisponível

18 janeiro, 2025

JOBIM, José -
A VERDADE SOBRE SALAZAR.
(Entrevistas concedidas em Paris pelo Sr. Affonso Costa, ex-presidente da Liga das Nações e antigo primeiro-ministro de Portugal). Prefacio de Danton Jobim. Rio, Calvino Filho, editor, 1934. In-8.º (19x12,5 cm) de 141, [3] p. ; E.
1.ª edição.
Importante contributo para história da política portuguesa nos alvores do Estado Novo, protagonizado por Afonso Costa - figura de proa da 1.ª República - que através de um conjunto de entrevistas concedidas a partir do exílio a um jornalista brasileiro, dá conta do seu "incómodo" com a situação vigente no país.
"Não sou amigo nem partidario do Sr. Affonso Costa. Reporter brasileiro, correspondente de jornaes brasileiros, não desejo immiscuir-me nos negocios internos de Portugal. Colhi, entretanto, um grande e expressivo depoimento sobre o momento politico portuguez. O ex-primeiro ministro e antigo presidente da Liga das Nações supportou durante annos o assédio que lhe movi. Não queria falar a estrangeiros sobre seu paiz. Ao fim de trez annos, capitulou. O que não obtivera a habilidade do jornalista conseguiu o odio contra a dictadura militar que, atacando-o, lhe nega o direito de defesa. E o Sr. Affonso Costa falou-me, concedendo a sua entrevista mais sensacional. Este livro é uma resposta ao "Salazar" do Sr. Antonio Ferro. Deveria compol-o um portuguez. Mas o estado totalitario do Doutor Salazar, pela sua propria estructura e finalidade, se attribue em Portugal o dominio absoluto dos prélos e das consciencias. Além do mais, a dictadura portugueza mantém um amplo e bem organisado serviço de propaganda entre nós. Creio, pois, que se deve conceder o direito de trazer ao publico brasileiro "a voz do outro sino"."
(Introdução)
"Neste livro o sr. Affonso Costa renova a sua velha crença nos destinos da democracia.
Si eu tivesse de tratar da personalidade politica do ex-primeiro ministro portuguez antes de ter deante dos olhos a série de entrevistas que ahi está, não o chamaria pura e simplesmente um democrata. Democrata e democracia são, em nosso tempo, expressões vagas, imprecisas, e, por isso, incolores, tão amplo o sentido que as conveniencias partidarias lhe emprestaram, sobretudo nas nossas jovens republicas da America Latina, e tão numerosos e evidentes têm sido os contrabandos de idéas e interesses sob esses rotulos honestos.
Recordando o seu passado republicano e as idéas que elle sustentou, teriamos preferido situal-o entre os authenticos jacobinos, cuja caracteristica fundamental é o culto da autoridade soberana do Estado, a necessidade da submissão de todos á lei, que emana da vontade popular, expressa através da igualdade politica, sem que se attenda ás differenciações de ordem economica e social. [...]
O estatismo exagerado que caracteriza a nossa época é levado a suffocar as liberdades individuaes. O sr. Salazar repete as variações do sr. Mussolini sobre as relações entre  liberdade e autoridade, que, aliás, em si, não têm nada de novo.
As theorizações fascistas, o esforço pela creação de uma physionomia propria para o fascismo, estão consubstanciadas na exposição doutrinaria redigida pelo Duce para a Encyclopedia Italiana:
"Tudo no Estado, nada contra o Estado, nada fóra do Estado". (Discurso no Scala de Milão). [...]
O sr. Oliveira Salazar é partidario intransigente desse estaismo fascista. Sob a sua immediata direcção organiza-se em Portugal um movimento corporativista, nos moldes do syndicalismo burocratico italiano. Mas haverá consições, na republica portugueza, para a victoria desse movimento? E a dictadura militar qu governa o paiz será capaz dessa tarefa? Eis uma these interessante e opportuna que aos pensadores e homens de estado portuguezes, que conhecem de parto a situação politico-social do paiz, incumbe responder."
(Excerto do Prefacio)
"O Hotel Vernet, situado na rua do mesmo nome, que atravessa os Champs Elysées na altura de Georges V, é um dos mais curiosos de Paris. Ali se hospedam estrangeiros apenas. É um hotel caro e familiar. Ha antigos presidentes e mesmo reis dos paizes mais remotos. [...]
O Sr. Affonso Costa não me faz esperar cinco minutos. Entra com um sorriso nos labios. É um homem baixo, forte, elegante, com os cabellos grisalhos e a pêra - a mais famosa pêra de Portugal - quasi alva. Parece ter apenas quarenta annos. E tem mais de sessenta. Respira saude e energia. E quando fala, ao sorrir faz com que a gente se lembre logo de Mefistopheles, tal a expressão maliciosa, viva, intelligente de sua mascara. Ha mesmo sarcasmo e força nessa mascara.
- "Uma entrevista? diz-me. Pois, seja! Mas quero que note em que condições especiaes e excepcionaes lh'a vou dar. Tenho sempre hesitação e melindre em contar a estrangeiros o que se passa de desagradavel e de injusto no meu paiz. O meu orgulho pessoal e de portuguez não me permitte solicitar apoio ou solidariedade a estranhos e muito menos fazer-lhes queixas."
(Excerto da Entrevista)
José Pinheiro Jobim (Ibitinga, 1909 – Rio de Janeiro, 1979). "Foi um economista e diplomata brasileiro, morto político da ditadura militar brasileira. Trabalhou primeiramente como jornalista, tendo sido revisor e redator de "A Manhã", do Rio de Janeiro, e redator do "Diário de Notícias" de Porto Alegre. Contratado pela Agência Meridional dos Diários Associados, foi redator de "O Jornal" e seu enviado especial à Europa. Entre 1930 e 1936 viajou também à URSS, Ásia e África. Iniciou sua carreira diplomática em 1938, atuando como cônsul de terceira classe, no mesmo ano foi designado vice-cônsul em Yokohama, no Japão. Entre 1938 e 1941, de volta ao Brasil, serviu na Secretaria do Comércio Exterior. Em 1941 foi transferido para Nova Iorque, ainda no posto de vice-cônsul. Promovido a cônsul de segunda classe em 1942, permaneceria em Nova Iorque até 1943 como cônsul adjunto. Desde sua promoção a ministro de primeira classe, em 1959, ocupou o posto de embaixador do Brasil no Equador, de 1959 a 1962, na Colômbia e na Jamaica cumulativamente, de 1965 a 1966, na Argélia, de 1966 a 1968, e no Vaticano e Malta, de 1968 a 1973. Ao se aposentar do Itamaraty, em 1975, estava à frente da representação brasileira no Marrocos, onde chegara em 1973. Fundou com seus filhos a Editora Brasília Rio.
Em 15 de março de 1979, o embaixador, já aposentado, foi à Brasília, onde tomou posse o ditador João Batista Figueiredo e, com ele, o chanceler Ramiro Saraiva Guerreiro, amigo de José Jobim. Durante a cerimônia, Jobim comentou com alguns amigos que estava escrevendo um livro de suas memórias, inclusive detalhes sobre o superfaturamento do governo na construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu, que custou dez vezes o valor orçado, totalizando cerca de US$ 30 bilhões. Uma semana depois, no dia 22 de março, Jobim já estava de volta ao Rio de Janeiro e, logo depois do almoço, saiu de sua casa para encontrar um amigo. Seu corpo foi encontrado por um gari dois dias depois do sequestro, a menos de 1 quilômetro da Ponte da Joatinga. Ele estava pendurado pelo pescoço em uma corda de náilon em um galho de uma árvore pequena. Assim como as do jornalista Vladimir Herzog, seus pés, com as pernas curvadas, tocavam o chão, levantando suspeitas sobre a hipótese de suicídio. Seis anos depois, a promotora Telma Musse reconheceu que houve homicídio, mas considerou o caso insolúvel e pediu o arquivamento."
(Fonte: Wikipédia)
Encadernação meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Conserva as capas originais.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Aparado. Com falhas de pele na lombada.
Raro.
Com interesse histórico.
45€

17 janeiro, 2025

TRIGUEIROS, Luiz -
O ROUXINOL DOS ALAMOS : novella minhota
. Lisboa, Livraria Central de Gomes de Carvalho, editor, 1908. In-8.º (19x11,5 cm) de 167, [1] p. ; B.
1.ª edição.
Curioso romance campestre cuja acção decorre no Minho.
"Abafava-se na matta. Nem a mais leve aragem agitava a ramaria dos pinheiros. Ao longe, o sino de S. Torquato vibrou compassadamente onze horas. Depois tudo voltou ao silencio anterior. O sol entornava sobre a paisagem a sua cornucopia de oiro e a essa caricia faiscavam as corôas de areia lá em baixo, no rio, aonde a maré vasava lentamente. O Bartholomeu ergueu-se vagaroso, aborrecido, e propoz aos outros caçadores, aqui e acolá estendidos á sombra:
- Vamos nós para casa? Tenho lá um vinho branco que substitue, com vantagem, a melhor Pilsener!...
Levantaram-se todos. Tiveram certa difficuldade em juntar os cães que de lingua pendente, offegantes, mal dispostos estavam para correr sobre a restéva dos milharaes na pista das ligeiras codornizes, ou a romper decididos os mattos espessos em busca dos coelhos. [...]
Poz-se a caminho o grupo, attento ás fececias do padre Alves, que de carabina ao hombro, o chapeu de grande abas cahido para os olhos, um sorriso franco a pairar nos labios descorados, ia contando, com grande prodigalidade de pormenores, façanhas notaveis em partidas de caça.
- Certa manhã, estava eu com os meus dois perdigueiros na devesa de Leiras...
E logo desfiava a historia a historia complicada d'essa caçada celebre. Os cães andavam no rastro, preoccupados, sem descanço, as ventas fumegantes varrendo a herva fresca... Foi então que elle, do sitio aonde agachado vigiava o trabalho dos perdigueiros, julgou sentir para a esquerda qualquer cousa a esvoaçar entre as arvores!...
Esquecido já dos cães, que se adeantavam na pista, avançou cauteloso, e...
- Pim, pim! fez o padre, simulando uma dupla descarga da sua famosa carabina; e para os companheiros que haviam estacado interessados na narrativa:
- Tinha dado em terra com um milhafre! [...]
A meio da descripção haviam chegado á pequena porta do pomar da Casa dos Alamos. Entraram todos na propriedade, sequiosos, maçados; e logo, sem ir mais longe, acampando sob o grande pavilhão revestido de murta que marcava o centro do jardim, o grupo deliberou ficar ali mesmo emquanto o Bartholomeu se dirigia apressado á vivenda a pedir as chaves da adega."
(Excerto do Cap. I)
"Completavam-se na Paschoa dez annos desde que o Bartholomeu abandonara a vida facil de prazeres desregrados que levava em Lisboa, para vir pedir á velha tia Germana irmã unica de seu pae, uma temporaria hospitalidade.
A boa senhora, cuja existencia decorria traquilla n'um velho solar minhoto ha muito que defendia o seu cofre dos violentos saques do seu unico sobrinho; por isso recebeu de braços abertos o transviado moço, alimentando todavia ácerca dos seus designios, uma duvida cruel no coração amantissimo.
Mal reconhecia porém no pallido mancebo de fundas olheiras e aspecto abatido, a forte vergontea do varonil ramo dos Sottos da Cunha que na sua familia se haviam distinguido sempre pela força e pela graciosa destreza, entre os fidalgos que enxameavam buliçosamente nos salões mais concorridos dos principaes solares de Entre Minho e Douro."
(Excerto do Cap. II)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capa vincada no canto superior direito.
Raro.
Indisponível

16 janeiro, 2025

OLIVEIRA, A. de Sousa & CASTRO, L. de Albuquerque e -
A IGREJA ROMÂNICA DE SANTA LEOCÁDIA
. Braga, Congresso Histórico de Portugal Medievo, 1964. In-4.º (23,5x17,5 cm) de 10, [8] p. il. ; B.
1.ª edição independente.
Separata de Bracara Augusta : Vol. XVI-XVII - N.os 39-40 (51-52).
A história e a lenda associadas à igreja medieval de Santa Leocádia, Chaves.
"A Igreja de Santa Leocádia é uma das mais antigas do aro de Chaves, cuja cronologia de construção deverá rondar os finais do século XIII. Ao certo, sabe-se que o templo já existia em 1264." (https://www.visitchavesverin.com/pages/952?poi_id=333)
Bonita monografia, ilustrada com 8 estampas fora do texto.
"Diz-nos uma lenda regional flaviense que uma matrona de Chaves, tendo por nome Maria Mantella, não acreditando na possibilidade de dois gémeos serem filhos dum mesmo pai foi castigada, dando à luz, simultâneamente, sete crianças, todas do sexo masculino. Como o marido estava ausente, receou que ele suspeitasse da sua fidelidade e então resolveu mandar, por uma serva de confiança, lançar seis dos recém-nascidos ao rio Tâmega.
Mas o destino tece-as e a criada foi surpreendida no caminho pelo amo, que estava de regresso, vendo-se obrigada a confessar tudo. Aquele recomendou-lhe segredo e entregou as crianças a seis diferentes amas, que não suspeitaram do caso. Sete anos depois apresentou os filhos a sua mulher, levando-a ao arrependimento e perdoando-lhe o, felizmente, frustrado crime.
Na igreja matriz de Chaves, onde ela foi sepultada com a sua prole, lia-se numa campa rasa este epitáfio:
«Aqui jaz Maria Mantella
Com sete filhos ao redor della».
Diz ainda a lenda que todos os rapazes se ordenaram sacerdotes e fundaram sete igrejas na terra de Chaves, ma das quais, Santa Leocádia, constitui o motivo desta comunicação."
(Excerto do Estudo)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Sem f. ante-rosto.
Muito invulgar.
Com interesse histórico.
Indisponível

15 janeiro, 2025

GOMES, Paulo Varela -
VIEIRA PORTUENSE
. Lisboa, Círculo de Leitores, 2001. In-4.º (28,5x22,5 cm) de 140, [2] p. ; mto il. ; E.
Importante subsídio biográfico sobre Vieira Portuense, figura de proa da pintura portuguesa, um dos maiores pintores da sua geração, introdutor do neoclassicismo na pintura nacional.
Edição luxuosa, muitíssimo preferível à da Inapa, impressa em papel de superior qualidade, profusamente ilustrada com trabalhos emblemáticos do mestre pintor - esboços, desenhos e pinturas.
"Francisco Vieira Portuense (1765-1805) ocupou o lugar português por excelência: o das esperanças frustradas. Falecido aos 40 anos de idade, atravessou como um cometa a cena artística de Portugal entre dois séculos e duas idades do mundo, deixando atrás de si um rasto de brilho e amargura por ter partido tão cedo depois de ter feito tanto e deixado tanto por fazer. Biógrafos e admiradores choraram a sua morte percebendo muito bem que o pintor era muito melhor que a pintura portuguesa da época e que esta, sem ele, dificilmente seria tão boa como a dele fora. [...]
Vieira Portuense continua popular entre nós porque a sua carreira foi singular no meio artístico português. No entanto, a primeira coisa que é necessário perceber é que Vieira foi um de entre centenas de artistas do mesmo género em toda a Europa que, por estarem hoje votados ao esquecimento, não foram menos importantes e significativos. [...]
A segunda prevenção necessária à abordagem da obra de Vieira é que,  mais que português, ele foi um pintor plenamente europeu, o mais europeu de toda a pintura portuguesa entre o século XVII e o final do século XIX, mais que Vieira Lusitano, Sequeira, António Manuel da Fonseca e até Henrique Pousão. Europeu pelos sítios onde trabalhou, os patronos que teve, os temas que escolheu, a maneira como os tratou. Vieira vivem em Itália, sim, mas também em Inglaterra. Trabalhou, embora brevemente, na Áustria e na Prússia. Foi patrocinado por ingleses do Porto e por grand tour(istas) ingleses em Itália. Foi artista real em Parma. Deu-se com o meio cosmopolita da Royal Academy em Londres onde circulavam pintores e gravadores italianos, franceses e ingleses. [...]
Sem  tal génio, sem estar na vanguarda de coisa nenhuma, Vieira Portuense, pintor europeu à moda da sua época, foi um pintor correcto, um desenhador muito sensível e hábil. A sua pintura, os seus desenhos, as suas ilustrações, não suscitam perturbação, não aquecem os ânimos, não levantam grande dúvidas sobre o que é a pintura, o olhar, a história. Comentam tranquilamente o decorrer dos tempos e das modas. Os quadros são bonitos, os desenhos argutos e por vezes engraçados. Mesmo quando, quando por conveniência do momento ou dos patronos."
(Excerto da Introdução)
Índice:
Apresentação | Introdução | Um viajante na Europa do fim dos tempos | A Natureza e o mito | A pintura de história | A pintura sacra | Rostos e figuras | Vieira Portuense, pintor neoclássico | Notícia biográfica | Bibliografia.
Encadernação em tela do editor com sobrecapa policromada.
Exemplar em bom estado de conservação. Assinatura de posse na f. ante-rosto.
Invulgar.
20€