07 novembro, 2024

COELHO, Campos – UM ÊRRO JUDICIÁRIO : O 411 está inocente! [Por]... Advogado. Lisboa, Editorial Labor, 1937. In-4.º (25,5 cm) de 290, [2] p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Peça jurídica sobre o assassinato de Albino Barcelos, agente da P.S.P. do Funchal, em 6 de Fevereiro de 1931, no seguimento dos "gravíssimos tumultos, conhecidos pelo movimento das farinhas", que ocorreram naquela cidade insular.
Livro ilustrado com fotografias, desenhos e fac-símiles relativos à reconstituição do crime.
"O Crime da «Fábrica de S. Filipe». Pedido de Revisão da Sentença que injustamente condenou José Fernandes, na pena de 20 anos de degredo, por um crime de homicídio praticado por Fernando Faria «o Arguim» - apresentado ao Supremo Tribunal de Justiça pelo advogado Campos Coelho.
Redigimos esta petição, por amor à Verdade e em homenagem à honrada Justiça Portuguesa que, assim, desejamos servir modesta mas dedicadamente.
A sua publicidade, através deste livro, que tão insistentemente nos foi solicitada em nome da defesa do condenado, levará a todos os cantos da sua Ilha Maravilhosa o grito de protesto com que José Fernandes, há seis longos anos, heroicamente vem proclamando a sua claríssima Inocência!
Compreendendo e sentindo o perigo que corremos – acusando uma poderosa quadrilha de malfeitores – nem por isso deixaremos de abençoar o momento sublime em que entrámos nesta cruzada pela salvação do Inocente!"
(Excerto da introdução)
Encadernação simples meia de percalina com ferros gravados a ouro na lombada. Conserva a capa de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação.
Muito invulgar.
Com interesse histórico e insular.
20€
Reservado

06 novembro, 2024

VARELA, A. -
UM EPISODIO DO REINADO DE D. JOÃO V : romance historico. Por...
Lisboa, Typographia Progressista, 1874. In-8.º (16x11,5 cm) de 204, [4] p. ; B.
1.ª edição.
Interessante romance histórico, dedicado pelo autor a João Pereira Forjaz.
"Á obsequiosa condescendencia de dois amigos devo a publicação d'este livro. Um, que me deu a ler a chronica inedita, propriedade sua, d'onde extrahi a parte historica, é cavalheiro amador das letras, natural do Porto. O outro, que me abonou as despezas de impressão, igualmente cavalheiro amador e cultor das letras, é abastado proprietario no Fayal e residente em Lisboa."
(Excerto de Nota)
Obra rara e muito curiosa, com fundo verídico, por certo, com tiragem reduzida.
"Corria o decimo primeiro mez do anno 1706, ulltimo do reinado de D. Pedro II, cognominado O pacifico.
Este rei, apesar do cognome, não tivera a paciencia de ver a mulher que amava, ou julgava amar, pertencer como esposa a seu irmão D. Affonso VI, e por isso, usurpando-lhe o reino para lhe usurpar a esposa, ou a esposa para lhe usurpar o reino, tratou de desterrar o irmão para o castello da ilha Terceira, ficando elle, D. Pedro, regendo Portugal até ao fallecimento do infeliz rei que, depois de ter sido transportado da Terceira para Cintra, ali morreu quasi subitamente, minado de desgostos e decepções.
D. Pedro II governou frouxamente o reino até 8 de dezembro de 1706, e cheio de remorsos, certamente pelo que fizera a seu irmão; quando estava in extremis, depois de ser exhortado pelo padre jesuita, Sebastião de Magalhães, que lhe assistiu aos ultimos momentos, a que morresse em bom catholico, respondeu: «E eu, por meus peccados, sou menos que nada, mas ainda que sou grande peccador, estou com muita confiança na piedade Divina, que me ha-de perdoar.»
Depois d'isto mandou chamar o principe D. João, seu filho, ao diante D. João V, e fez-lhe um discurso moral e philosophico, segundo as suas forças intellectuaes, que commoveu, e arrancou lagrimas a todos os cortezãos presentes."
(Excerto do Cap. I - A taberna da Lebre Assada)
"Andreza ficando só, disse comsigo, depois de ver a morosidade com que o marido caminhava a executar as suas ordens:
- Ah! que se Deus me tivesse feito homem...
E não acabou a phrase, porque n'este momento alguem bateu á porta da rua.
Andreza não perguntou logo quem batia, para fazer a seguinte reflexão:
- Olá! quem será que bate tão tarde?! É decerto mais algum valdevinos. Pois não lhe abro a porta, ha-de esperar os seus camaradas na rua.
Ainda ella não terminára esta idéa, quando bateram de novo e com mais força.
Andreza exasperou-se do atrevimento e pertinacia do recem-chegado, sobre tudo a horas mortas como ella lhe chamava, porque sendo apenas dez horas da noite, n'aquella época correspondia á madrugada de hoje, que apenas se veem pelas ruas raros transeuntes, os quaes as atravessam rapidamente, para irem gosar nos leitos as delicias proporcionadas por Morpheu, ou então que cessaram de as gosar, para se entregarem aos trabalhos da vida."
(Excerto do Cap. II - Zé das Lebres)
A. J. Pereira Varela (?-1878). Romancista e dramaturgo português. Pouco se sabe a seu respeito, a não ser a paternidade de algumas obras que constam da base de dados da BNP, sobretudo pequenas comédias teatrais. Com alguma dimensão literária importa salientar o romance social em 2 vols Os miseraveis da aristocracia (1864), o "policial" Um processo-crime (1870) e o romance histórico Um episodio do reinado de Dom João V (1874).
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Aparado à cabeça. Capas frágeis com defeitos, oxidação e falha de papel no canto superior direito.
Muito raro.
75€

05 novembro, 2024

PROLA, P. Joseph Maria - NOVENA // DO // GLORIOSO PATRIARCA //  S. JOSEPH, // CASTISSIMO ESPOSO DA SEMPRE // VIRGEM MARIA, // COMPOSTA // PELO P. JOSEPH MARIA PROLA, // Da Companhia de Jesus. // Que principia a I0 de Março. // E agora resumida, por hum Devo- // to, nesta ultima impressaõ. //
LISBOA // Na Off. de Francisco Luiz Ameno. // M. DCC. XCI. // Com licença da Real Mesa da Commissaõ Geral // sobre o Exame, e Censura dos Livros. In-8.º (15x9,5 cm) de 93, [3] p. ; E.
Novena setecentista ilustrada no texto com partituras de hinos em honra de S. José.
Obra rara e muito curiosa.
"O Dia festivo, que com principal, e universal solemnidade celébra a santa Igreja á honra de S. Joseph, he a 19 de Março. Para honrallo com dignidade mais agradavel ao Santo, e mais proporcionada á vossa utilidade, vos proponho o exercicio daquelles dois efficacissimos ensinados pelos Santos Padres, a fim de conservar o necessario, e proveitoso commercio com o Ceo: isto he a Oraçaõ mental , e a vocal. Huma para illustrar o entendimento com a noticia dos sagrados mysterios, e affervorar a vontade com os motivos das verdades bem penetradas; e a outra para impetrar do thesouro da Divina beneficiencia as graças convenientes á vossa necessidade. A meditaçaõ nos faz vêr o que nos falta, a Oraçaõ o impetra."
(Excerto do preâmbulo).
Encadernação inteira de pele com dourados na lombada.
Exemplar em razoável estade de conservação. No interior, algumas das páginas foram cortadas junto às margens, sendo que num ou noutro caso, prejudica o texto. Com rabiscos a lápis, nas folhas de guarda, anteriores e posteriores.
Raro.
20€

04 novembro, 2024

PROENÇA, Raúl -
PANFLETOS.
I - A Ditadura Militar. História e análise dum crime. II - Ainda a Ditadura Militar. Demonstração scientífica da nocividade das ditaduras militares, e algumas amabilidades sobrecelentes. [S.l.], [s.n. - Composto e impresso por Miguel da Cruz], 1926-1927. 2 vols in 8.º (18,5x11,5 cm) de 78, [2] p. e 47, [1] p. ; B.
1.ª edição.
Libelo contra a Ditadura Militar, regime saído do golpe de 28 de Maio de 1926 encabeçado por Gomes da Costa, que pôs cobro à Primeira República Portuguesa.
Obra composta por dois folhetos (é tudo quanto foi publicado), impressa clandestinamente e proibida de circular. O vol. II é muito raro.
A título de curiosidade, reproduzimos a seguinte frase impressa no final do vol I em tom jocoso : "Este panfleto não foi visado pela Comissão de Censura".
"Não obedecerão estes Panfletos nem a periodicidade certa, nem a objectivo determinado. Surgirão no momento. Dirão as preocupações que me dominam - a minha reacção pessoal perante factos, os homens e as idéas. De tudo terão um pouco: da análise fria e do sarcasmo, da doutrina serena e da polémica - claridade, protestos, vitupérios. Não recuarão ante nenhuma fôrça: nem a dos músculos, nem a do número, nem a da tiragem, nem a das armas. Falarão aos outros como eu falo comigo mesmo. Será, pois, com sua licença, um temperamento que irá passar no écran. Dicidi-me a viver. No perigo? Talvez. Mas acima de tudo na ânsia de me dar - no desejo de pôr sobre êste Charco imundo uma espada coruscante, uma chama a arder...
(Preâmbulo Vol. I)
"Enquanto durar a actual situação, os Panfletos só poderão distribuídos clandestinamente.
A verdade hoje, no nosso país, é clandestina."
(Preâmbulo Vol. II)
Raul Proença (1884-1940). "Político português, Raul Proença nasceu em 1884. Nos anos finais do regime monárquico, iniciou a sua carreira de jornalista, em que se distinguiu, nos jornais republicanos de Lisboa, situando-se próximo do grande tribuno António José de Almeida. Defendeu a república contra as tentativas restauracionistas (chegou a pegar em armas) e contra as correntes filo-fascistas que iam ganhando força, mas ao mesmo tempo analisou criticamente os defeitos e erros do sistema, que criticou sem piedade. A sua posição perante a participação na guerra, na qual não lhe foi dado participar apesar de para tanto se ter oferecido, foi igualmente caracterizada por apoio crítico. Embora se tivesse aproximado do sidonismo por breve tempo, acabou por se distanciar dele e assumir grande protagonismo no lançamento do projeto reformista crítico da Seara Nova (1921). Após a instauração da Ditadura Militar, exilou-se, mas persistiu no combate contra o novo regime, continuando, em escritos polémicos assaz duros, a defender quer a democracia política quer a democracia social, ao mesmo tempo que se bateu por uma reforma da mentalidade portuguesa e defendeu o papel determinante das elites na condução do povo, de acordo aliás com o ideário seareiro. O seu precário estado de saúde motivou o seu regresso a Portugal, onde se manteve até ao seu falecimento em 1941."
(Fonte: Infopédia)
Exemplares brochados, com acabamento em ponto de arame, em bom estado geral de conservação. Capas frágeis com vincos, manchas e pequenas falhas de papel.
Raro conjunto.
75€

03 novembro, 2024

SABBO, Augusto -
FOOTBALL. (Técnica e Didáctica de Jôgo). [Por]... Antigo jogador d
o Mittweidaer Ballspiel Club, da Saxónia; do Club Internacional de Football, de Lisboa, e do grupo representativo da Liga Portuguesa de Football. Lisboa, Emprêsa Literária Fluminense, L.ᴰᴬ, 1923. In-8.º (19 cm) de 76, [4] p. ; B.
1.ª edição.
Curioso manual técnico e táctico de "Football Association", escrito por Sabbo, na época treinador do SCP. Apresentado em três prefácios pelos senhores: F. Pinto de Miranda, Médico, inpector de Ginástica e antigo Presidente da Associação e Football de Lisboa; Fernando Martins Pereira, Médico e ex-Presidente da Direcção a Associação de Football de Lisboa; Carlos Alberto Guimarães Lello, Presidente da Associação de Football do Pôrto.
Sobre esta obra centenária, pioneira no futebol português, e o seu autor, com a devida vénia a "Leão Zargo" pelo excelente artigo publicado no blog Camarote Leonino, reproduzimos o excerto que se segue:
"Na época de 1921-22 o Sporting contratou um treinador invulgar para os padrões do seu tempo. Refiro-me a Augusto Sabbo (1887-1971), um engenheiro luso-alemão que dirigiu a montagem da rede de tracção eléctrica da cidade de Coimbra. Antes de Sabbo há apenas o conhecimento doutro treinador no clube, o inglês Charles Bell. Até aí a equipa era dirigida por um jogador que desempenhava as funções de “capitão geral” e que fazia, nomeadamente, a ligação com os directores e coordenava os treinos. Francisco Stromp e Jorge Vieira terão sido os maiores neste posto. 
Antes de chegar ao Sporting, Augusto Sabbo jogou no Mittweidaer Ballspiel Club, na Saxónia, e foi referência no CIF, no início do século XX, enquanto jogador, capitão da equipa e capitão geral. No Sporting permaneceu desde Janeiro de 1922 ao Verão de 1924.
Sabbo notabilizou-se por utilizar métodos inovadores de treino e, principalmente, pela sua concepção teórica e prática do futebol que conjugava, simultaneamente, as vertentes técnica, táctica e física que era preconizada por Herbert Chapman, treinador do Arsenal de Londres.
Era extremamente exigente na preparação da condição física dos atletas, realizando treinos sem bola que incluíam exercícios de inspiração militar e salto à corda. Por vezes, os jogadores desciam e subiam a Avenida da Liberdade em passo de ginástica. Contratou Santos Ruivo, pugilista profissional, com a finalidade orientar sessões de treino físico e ministrar noções de boxe.
Augusto Sabbo era um estudioso metódico do fenómeno do futebol e profundo conhecedor do que se passava na Europa, nomeadamente na Inglaterra e na Europa central. Quando treinou o CIF introduziu a "teoria da triangulação", que mais tarde aplicou no Sporting. Essa teoria preconizava que a acção dos seus jogadores no campo teria por finalidade que os adversários fossem obrigados a executar os movimentos convenientes que permitissem a execução das jogadas da sua equipa. Hoje dir-se-ia “a construção do jogo”!
A "teoria da triangulação" tornou Sabbo um dos precursores da introdução do sistema WM (3-2-2-3) em Portugal. Conhecedor do pensamento táctico de Chapman e do 2-3-5 aplicado na Europa Central (designado por Escola do Danúbio), Sabbo durante os jogos, por vezes, recuava o médio central para junto dos dois defesas. Os próprios avançados interiores não tinham a habitual liberdade de movimentos, estando mais atentos aos adversários do que era norma nesse tempo. […]
Augusto Sabbo era um intelectual do futebol, privilegiando os diversos aspectos que decorriam da técnica e da táctica do jogo e da preparação física. Publicou duas obra na altura consideradas inovadoras e relevantes, “Football (Técnica e Didáctica de Jogo)”, em 1923, e “Estratégia e método-base do futebol científico”, em 1945."
Ffonte: http://camaroteleonino.blogs.sapo.pt/augusto-sabbo-um-mourinho-avant-la-1488854)
"Aquele que meter ombros à estopante tarefa de ler este folhêto, porque o estilo lhe falta e a prosa é simples, deve ter em vista que o nosso único desejo, é iniciá-lo na parte técnica do jôgo, que reputamos interessante, e não deliciá-lo com boa prosa e estilo florido. O assunto, basta ser técnico, para ser maçadora a sua descrição, e muitas vezes lacónica a sua didáctica.
A iniciação que vamos tentar, não se assuste o leitor, não será aquela em que lhe diríamos que o jôgo de football se joga entre 22 rapazes, dispostos duma certa maneira, num campo raso, muito grande, limitado por linhas brancas e fortes barreiras, que na maior parte das vezes conteem uma multidão nada pacífica, que insulta e apupa os jogadores, apesar da vontade que êles mostram em bem fazer, dentro do tal recinto, movimentos cingidos a certas regras, a que muitos por não perceberem o fundo scientífico do jôgo, chamam cabriolas de doidos."
(Excerto de I – Iniciação)
Índice:
Prefácio[s] | Técnica e Didáctica do Football Association: I – Iniciação. II – Elemento necessário ao jogo e qualidades primordiais necessárias a esse elemento. III – A técnica do football. IV – O treinador ou instrutor. V – Treinos progressivos – Treinos intensivos – Treinos de ensaio. VI – Introdução às teorias. VII – Teoria da triangulação. VIII – Principios gerais de aplicação prática. IX – Passe iniciais do jôgo quando se emprega a teoria da triangulação. X – Teoria do off-side. XI – Principios gerais de aplicação prática. XII – Teoria dos movimentos relativos. XIII – Principios gerais de aplicação prática. XIV – Passes iniciais do jôgo quando se aplica a teoria dos movimentos relativos. XV - Conclusão.
Exemplar brochado, por abrir, em bom estado de conservação.
Raro.
Com interesse histórico e desportivo.
Peça de colecção.
85€

02 novembro, 2024

ANTUNES, Nuno Alvaro Brandão -
PORTUGAL NA GRANDE GUERRA - O 9 de Abril de 1918 e o Marechal Hindemburgo.
[Por]... Capitão do Grupo de Batarias a Cavalo
. Lisboa, J. Rodrigues & C.ª Editores, 1924. In-4.º (24,5 cm) de 116 p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Processo de reparação iniciado pelo autor - oficial português de artilharia - após a "desconsideração" do Marechal Paul von Hindenburgh - comandante das forças alemãs durante a conflagração - que no seu livros Mein Leben ("Minha vida"), apreciou desfavoravelmente o comportamento das tropas portuguesas do C. E. P. durante a batalha de La Lys, sugerindo que retiraram desordenadamente aquando do ataque germânico, abandonando as suas posições e os aliados.
Obra rara, com indubitável interesse histórico - a mais completa que sobre este assunto se publicou. Para além do fac-símile da carta de von Hindenburgh retratando-se, inclui as considerações estratégico-militares do autor relativas aos antecedentes da batalha e o decorrer da mesma, em que participou, bem como correspondência diversa e felicitações de camaradas de armas pela sua iniciativa.
Livro ilustrado com o retrato do Cap. Nuno Antunes na folha de dedicatória.
"Fiz parte da missão de artilharia que em dezembro de 1916 partiu para França. Dissolvida esta, passei para a segunda bataria do grupo de obuzes, que depois passou a ser a 4.ª bataria do 2.º G. B. A. Dissolvido este, após o 9 de abril, pertencia à 3.ª bataria do 6.º G. B. A. e a esta bataria pertencia quando, em março de 1919, regressei definitivamente a Portugal.
Na missão, com poucos soldados lidei porque só havia os impedidos conôsco. Foi na 4.ª bataria do 2.º G. B. A. que conheci todo o grande valôr do nosso homem, durante os longos mezes que com eles estive na frente. É para esses, principalmente, que vae todo o meu pensamento. [...]
Quando me entrego a essas recordações, vejo perpassar, como num «écrain», todos os episodios da nossa vida em comum, sob a ameaça constante da morte. Vejo aqueles nossos belos homens olharem-nos com uma fé enorme quando eramos bombardeados; lia-lhes nos olhos a confiança sem limites que em nós depositavam. Tenho a certeza de que nenhum fanatico sentirá uma crença mais  sincera e mais profunda ao prostrar-se deante dos seus idolos, do que a que eles experimentavam quando a nós se chagavam nos momentos de perigo, como se constituissemos uma protecção invulneravel. São olhares que jamais podemos esquecer; são atitude que jamais poderão apagar-se da nossa memoria.
Vejo-os sempre alegres e bem dispostos, apezar do excessivo labor a que estavam sujeitos, encherem sacos e terra, transportarem carris, construir abrigos, sempre na melhor das disposições.
Vejo-os na escuridão da noute, olharem anciosos na direcção da frente, quando ouviam a metralhadora crepitar nervosamente, esperando os sinaes de S. O. S., a que eles queriam responder com a maxima presteza, para assegurarem a protecção ao seu camarada infante pondo, nos olhos primeiro, nos actos depois, todo o ardor o seu sangue generoso e heroico que um coração sublime impulsionava. [...]
Vejo-os, enfim, belos no conjunto, admiraveis no detalhe e deles conservo a mais dôce recordação, mixto de ternura e admiração.
Foi n'eles que encontrei força moral para escrever a minha carta; foram eles que, pela sua atitude, me impuzeram a tentativa feita. Com soldados destes, quem se não sentiria com força para enfrentar alguem, mesmo que esse alguem fôsse o mais famoso cabo de guerra adverso?!"
(Excerto da explicação)
Exemplar brochado, por abrir, em bom estado de conservação.
Raro.
Com interesse histórico.
45€

01 novembro, 2024

PRAÇA, J. J. Lopes -
ENSAIO SOBRE O PADROADO PORTUGUEZ.
Dissertação inaugural para o Acto de Conclusões Magnas. De... Coimbra, Imprensa da Universidade, 1869. In-8.º (20x13,5 cm) de XIII, [1], 169, [1] p. ; E.
1.ª edição.
Tese de final de curso do conhecido académico e professor da Universidade de Coimbra José Lopes Praça.
"O Padroado Português foi um acordo instituído entre a Santa Sé e Portugal em que o Papa delegava no Rei de Portugal o poder exclusivo da organização e financiamento de todas as atividades religiosas nos domínios e nas terras descobertas pelos portugueses." (Wikipédia)
"Incumbe-nos escrever sobre uma materia espinhosa e cheia de escolhos, attendendo quer ao padroado em si, quer ás suas diversas relações com outras materias. É coisa sabida e até palpavel que a doutrina do nosso padroado está dependente de conhecimentos profundos de Theologia Revelada, e de Direito Canonico, Publico, Internacional e Ecclesiastico. A Historia Geral da Egreja, as relações das disposições canonicas com as civis, e, sobre tudo, as lições da Historia da Egreja Lusitana são outros tantos elementos e que, do mesmo modo, não poderemos prescindir.
Infelizmente nem a Historia da Egreja Lusitana, nem o Direito Ecclesiastico Portuguez assumiram ainda a desejavel perfeição, e ainda até hoje não foi emprehendida entre nós uma verdadeira historia critica da nossa legislação e jurisprudencia. [...]
Alem disso, a materia do padroado é já de si bastante melindrosa para que, pondo de parte outras difficuldades, nos vejamos a olhal-a com prudencia e reflexão. As duas espheras da humana actividade melhor constituidas, e as mais impreteriveis condições do nosso desenvolvimento, interessam consideralvelmente na melhor solução das questões, que se têm ventilado a este respeito.
Hoje, principalmente, o estudo d'esta materia não se recommenda só pelo seu merito e importancia intrinseca; hoje corre-nos a estricta obrigação de verificar com escrupulo e imparcialidade a questão do padroado, a fim de não deixarmos correr á revelia a contestação apaixonada de uma das mais preciosas regalias da corôa portugueza."
(Excerto de Introducção Geral)
José Joaquim Lopes Praça (Alijó, 1844 - Montemor-o-Novo, 1920). "É por vontade do pai destinado à vida eclesiástica, começa por estudar no Seminário de Braga antes de ingressar na Universidade de Coimbra em 1863. Estuda primeiramente Teologia e Direito, optando por estudar apenas Direito a partir do 4.º ano ao que parece por incompatibilidade de horário, demonstrando portanto maior interesse por uma área de estudos onde se desenrolavam grandes debates. Assistimos por estes anos a uma efervescência académica na Universidade de Coimbra, traduzindo-se esta pela contestação dos cânones estabelecidos, na procura por novas formas de expressão artística, por renovadas inspirações filosóficas e políticas, assim como um maior diálogo e abertura a outras realidades culturais. O jurista vai dedicar toda a sua vida ao ensino. Como professor, o seu discurso não vai ter um carácter polémico nem um tom de rotura. Enquanto professor de direito na Universidade de Coimbra começa por coligir material para a história do estado e do direito português. Além da sua Coleção de Leis e Subsídios para o Estudo do Direito Constitucional Português (1893-1894) temos ainda notícia de um mal logrado plano para escrever uma História do Direito Pátrio quando é chamado, como professor, para a corte (Mexia de Mendia, José Joaquim Lopes Praça (1844-1920) 1999, p.65-71). Devido ao facto de os seus escritos terem um aspecto de maior neutralidade e de se procurarem inserir num âmbito de cientificidade, vão atrair aceitação junto dos monárquicos moderados. Após terminar os seus estudos em 1869 com uma tese sobre o padroado português, procura seguir a carreira professoral na Universidade de Coimbra logo num concurso em 1870, esse desejo é no entanto sucessivamente adiado. Após o abalo do regicídio de 1908 a sua vida vai tomar no entanto um rumo semelhante à de Herculano, volta a Montemor-o-Novo, raramente sai de casa, divide o seu tempo entre a família e leituras. Mantém correspondência por exemplo com Ferreira Deusdado ou Tiago Sinibaldi e do que então escreveu limitou-o à sua esfera privada, sabemos tão só da repugnância que a sociedade lhe suscitava. Era desde 1904 com um sentido de missão, professor de filosofia do príncipe real. Os seus ensinamentos estão então mais próximos da religiosidade católica, na linha do neotomismo de Sinibaldi, cujo manual foi o guia para a educação do príncipe. A dedicação com que exerceu a carreira docente e a prudência de um homem de letras para com os problemas que Portugal atravessava, revendo-se na monarquia, levam-no até essa posição."
(Fonte: https://dichp.bnportugal.gov.pt/historiadores/historiadores_praca.htm)
Encadernação simples meia de percalina com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Primeiras 15 folhas, incluindo f. rosto, com restauro no pé.
Muito raro.
Com interesse histórico e religioso.
75€