FERREIRA, Vaz - OS SENHORES DO MARNEL. Lisboa, Imprensa Libanio da Silva, 1925. In-8.º (19 cm) de 304 p. ; E.
1.ª edição.
Percurso de vida de dois irmãos aristocratas: o mais velho, D. Pero - o morgado -, alegre e estroina; D. Mem, o mais novo, circunspecto e estudioso, habituado desde tenra idade a aparar os "golpes" do irmão, cuja protecção paterna tudo permite. O romance tem início em Coimbra, no tempo em que os Peros, alcunha porque são conhecidos os irmãos, frequentam a Universidade. Bem redigido e muito interessante.
"No primeiro ano de Coimbra os Peros seguiram o processo de estudo que traziam. O mais novo atendias as preleções dos lentes, consultava livros e a leitura da sebenta era só para ensinar o irmão que mal dava ouvidos a explanações e expositores. Chamados a lições diferentes e colocados a distância nas aulas, Mem obteve melhores notas e Pero chegou a dar um estenderete ao mais exigente dos catedráticos. O resultado foi, no acto, passar o mais novo nemine discrepante e levar o morgado do Marnel um erre que o pai considerou injusto, imerecido e resultante de uma qustiúncula que tivera, no seu tempo de Coimbra, com o lente, por causa das eleições para a Filantrópica disputadas por ambos em campos opostos.
O padre, em casa de quem os Peros viviam em Coimbra, opinava diversamente e queixava-se da pouca aplicação do morgado e das suas tendências para passeatas e patuscadas em detrimento do estudo.
O doutor João Fernandes recebeu friamente os dois filhos e em comum os repreendeu pelo mau êxito de Pero.
Mem ouviu calado as reprimendas e prédicas paternas; mas, sentindo-lhes a injustiça, fez notar ao irmão estar sendo sacrificado pelo seu pouco aproveitamento, quando êle procurava evitar-lhe trabalhos e massadas.
- Bem me importa o erre! - ripostou Pero. - Ando a formar-me para fazer a vontdae ao pai. Não tenho tenção de precisar do curso para nada. Estuda tu.
Esta conclusão chocou D. Mem. Cavava uma desigualdade flagrante entre êle e o mano. Pero contava com a fortuna paterna para se repoltrear na existência, ocioso, gozando divirtindo-se e aconselhava o outro a que estudasse. Para quê, porquê? Para trabalhar, para ganhar a vida, porque viera mais tarde ao mundo e a lei dos morgados subsistia em pleno efeito no espírito aristocratizado do pai."
(Excerto do Cap. Desta arte se esclarece o entendimento)
Henrique Vaz de Andrade Bastos Ferreira (1868-1961). "Nasceu a 18 de Janeiro de 1868
em Santa Maria da Feira, então Vila da Feira. Evidenciou-se como
escritor, historiador e crítico. Em 1889 foi nomeado sub-delegado do
Procurador Régio da 1. ª Vara de Lisboa. Foi jornalista no "Jornal da
Noite", em 1896 fundou a "Gazeta Forense" e em 1908 fundou a "Gazeta
Feirense". Ingressando na política é eleito deputado pelo partido
Regenerador e pelo círculo de Coimbra na legislatura de 1901 a 1904. Em
1906 tomou posse do cargo de governador civil de Aveiro (1906-1910). Em
1920 tornou-se chefe do gabinete do Ministro da Justiça. Vaz Ferreira
foi também o iniciador da Caixa de Aposentações dos oficiais de Justiça.
Publicou vários livros entre os quais se destacam Os três Estados [série de 7 romances naturalistas sobre o estado civil], Reforma da contagem, Comentários à Lei do Divórcio e obras sobre o castelo de Santa Maria da Feira. Faleceu em 1961 na sua terra natal, com 93 anos de idade."
(Fonte: https://www.e-cultura.pt/patrimonio_item/13056)
Encadernação inteira de percalina com ferros gravados a ouro nas pastas e na lombada. Conserva a capa de brochura anterior.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Manuseado; pastas apresentam desgaste marginal, não muito pronunciado.
Muito invulgar.
Indisponível