VEIGA-SIMÕES, Alberto da - A FUNÇÃO SOCIAL DO TEATRO. Tése de concurso para a 3.ª cadeira da Escola da Arte de Representar. Por... Lisboa, Typographia Mendonça, 1912. In-4.º (23 cm) de 15, [1] p. ; B.
1.ª edição.
Interessante
dissertação histórica sobre a função social do teatro, e a sua
expressão artística. O autor - personagem fascinante, - hoje pouco
conhecido, foi figura de relevo nos meios diplomáticos, políticos e
culturais do Estado Novo.
"Isso que por aí anda apregoado em críticas e papeis, a propósito de cada obra, e que se chama - a função social do teatro,
constitue um vasto logar comum digno de quem desconhece o conceito da
obra de arte o ignora que o princípio artístico é fonte imanente no
próprio organismo humano, e por isso mesmo, e só por isso, é social.
Em
todo o caso, a enorme frase tem ganho fóros taes que será interessante
destrinçar o que ella tem de lógico e de certo, - neste país em que o
teatro é uma blague e a crítica teatral vive à custa duma coisa que não eziste.
Quando
sobre uma fórma geral se formúla a interrogação da função social do
teatro, surgem-nos naturalmente duas respostas em estremo diferentes.
Uma atende ás conveniéncias imediatas duma obra teatral; a outra eleva-se ao horisonte mais vasto do conceito de obra de arte, e procura naturalmente seguir o conceito da obra de arte teatral atravez duma longa evolução que revestiu as maiores modalidades."
(Excerto da dissertação)
Alberto da Veiga Simões
(Arganil, 1888 - Paris, 1954). "Intelectual e historiador, pertenceu à
geração de António Sérgio (1883-1969) e Jaime Cortesão (1884-1960).
Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, entrou, cedo, para a
carreira diplomática. Entretanto, colaborou na imprensa, publicou os
primeiros livros, incluindo poesia, memórias da vida estudantil coimbrã,
teatro e os resultados dos primeiros passos dados na investigação
histórica. Entre os últimos, destaca-se um estudo sobre as recentes
tendências literárias, publicado em 1911 com o título “A nova geração:
estudo sobre as tendências actuaes da literatura portuguesa”. A sua
participação na revista “A Rajada” (1912), ao lado de Vergílio Correia e
do muito jovem Almada Negreiros, revela também a sua ativa participação
em movimentos literários e artísticos. [...] O seu prestígio como
diplomata foi reconhecido politicamente, o que lhe valeu a pasta de
ministro dos Negócios Estrangeiros (1921), durante a Primeira República,
num governo que não foi além dos cinquenta e nove dias. [...] Em 1933,
Veiga Simões foi nomeado ministro plenipotenciário em Berlim (Portugal
não tinha na Alemanha representação ao nível de embaixada). Nos seus
relatórios para Lisboa, passou a analisar a ascensão de Hitler. As
políticas de expansão imperial alemãs, conforme escreveu de Berlim em
abril 1938, assentavam no “primarismo confortável da doutrina nazista”,
recorda Lina Madeira num outro livro, “Alberto da Veiga Simões: esboço
biográfico”, de 2002. A sua oposição ao nazismo era, pois, inequívoca.
Advertiu também que Portugal se deveria demarcar da Alemanha e optar por
um alinhamento com a França e a Grã-Bretanha. A partir de 1938, a sua
correspondência com o MNE revela um envolvimento direto na concessão de
vistos a judeus que procuravam emigrar e fugir da política racista do
Reich. Porém, não se sabe quantos vistos terão sido passados por sua
iniciativa nem em que condições concretas. Em Lisboa, nos círculos do
MNE e da PVDE, existiam interpretações diferentes acerca da mesma
política de concessão dos vistos, a par de diferentes sensibilidades em
relação à figura de Veiga Simões."
(Excerto
de um notável artigo da autoria do historiador Diogo Ramada Curto,
publicado no semanário Expresso (05.11.17). Consultar no link:
http://expresso.sapo.pt/cultura/2017-11-05-O-desconhecido-Veiga-Simoes)
Exemplar
brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis com
defeitos. Capa apresenta pequena falha de papel no canto inferior direito.
Raro e muito curioso.
Sem registo na Biblioteca Nacional (BNP).
20€
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