11 setembro, 2018

VEIGA-SIMÕES, Alberto da - A FUNÇÃO SOCIAL DO TEATRO. Tése de concurso para a 3.ª cadeira da Escola da Arte de Representar. Por... Lisboa, Typographia Mendonça, 1912. In-4.º (23 cm) de 15, [1] p. ; B.
1.ª edição.
Interessante dissertação histórica sobre a função social do teatro, e a sua expressão artística. O autor - personagem fascinante, - hoje pouco conhecido, foi figura de relevo nos meios diplomáticos, políticos e culturais do Estado Novo.
"Isso que por aí anda apregoado em críticas e papeis, a propósito de cada obra, e que se chama - a função social do teatro, constitue um vasto logar comum digno de quem desconhece o conceito da obra de arte o ignora que o princípio artístico é fonte imanente no próprio organismo humano, e por isso mesmo, e só por isso, é social.
Em todo o caso, a enorme frase tem ganho fóros taes que será interessante destrinçar o que ella tem de lógico e de certo, - neste país em que o teatro é uma blague e a crítica teatral vive à custa duma coisa que não eziste.
Quando sobre uma fórma geral se formúla a interrogação da função social do teatro, surgem-nos naturalmente duas respostas em estremo diferentes. Uma atende ás conveniéncias imediatas duma obra teatral; a outra eleva-se ao horisonte mais vasto do conceito de obra de arte, e procura naturalmente seguir o conceito da obra de arte teatral atravez duma longa evolução que revestiu as maiores modalidades."
(Excerto da dissertação)
Alberto da Veiga Simões (Arganil, 1888 - Paris, 1954). "Intelectual e historiador, pertenceu à geração de António Sérgio (1883-1969) e Jaime Cortesão (1884-1960). Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, entrou, cedo, para a carreira diplomática. Entretanto, colaborou na imprensa, publicou os primeiros livros, incluindo poesia, memórias da vida estudantil coimbrã, teatro e os resultados dos primeiros passos dados na investigação histórica. Entre os últimos, destaca-se um estudo sobre as recentes tendências literárias, publicado em 1911 com o título “A nova geração: estudo sobre as tendências actuaes da literatura portuguesa”. A sua participação na revista “A Rajada” (1912), ao lado de Vergílio Correia e do muito jovem Almada Negreiros, revela também a sua ativa participação em movimentos literários e artísticos. [...] O seu prestígio como diplomata foi reconhecido politicamente, o que lhe valeu a pasta de ministro dos Negócios Estrangeiros (1921), durante a Primeira República, num governo que não foi além dos cinquenta e nove dias. [...] Em 1933, Veiga Simões foi nomeado ministro plenipotenciário em Berlim (Portugal não tinha na Alemanha representação ao nível de embaixada). Nos seus relatórios para Lisboa, passou a analisar a ascensão de Hitler. As políticas de expansão imperial alemãs, conforme escreveu de Berlim em abril 1938, assentavam no “primarismo confortável da doutrina nazista”, recorda Lina Madeira num outro livro, “Alberto da Veiga Simões: esboço biográfico”, de 2002. A sua oposição ao nazismo era, pois, inequívoca. Advertiu também que Portugal se deveria demarcar da Alemanha e optar por um alinhamento com a França e a Grã-Bretanha. A partir de 1938, a sua correspondência com o MNE revela um envolvimento direto na concessão de vistos a judeus que procuravam emigrar e fugir da política racista do Reich. Porém, não se sabe quantos vistos terão sido passados por sua iniciativa nem em que condições concretas. Em Lisboa, nos círculos do MNE e da PVDE, existiam interpretações diferentes acerca da mesma política de concessão dos vistos, a par de diferentes sensibilidades em relação à figura de Veiga Simões."
(Excerto de um notável artigo da autoria do historiador Diogo Ramada Curto, publicado no semanário Expresso (05.11.17). Consultar no link: http://expresso.sapo.pt/cultura/2017-11-05-O-desconhecido-Veiga-Simoes)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis com defeitos. Capa apresenta pequena falha de papel no canto inferior direito.
Raro e muito curioso.
Sem registo na Biblioteca Nacional (BNP).
20€

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