26 setembro, 2018

O CASTELLO D'ALBERT, OU O ESQUELETO AMBULANTE, traduzido do inglez para o francez por Mr. Cantwel, e deste para o portuguez por J. L. Vieira de Castro. Publicado por uma sociedade. Tomo I [e Tomo II]. Lisboa. Typographia de Lucas Evangelista, 1849. 2 vols in-8.º (15,5cm) de [2], 126 p. e 120, [2] p. ; E. num único tomo
1.ª edição.
Romance negro*, do género fantástico, publicado originalmente sob anonimato em Inglaterra (1798), e traduzido para o francês, um ano depois (Paris, 1799). Foi um best-seller na época. O enredo apresenta uma mistura incomum de terror e comédia sombria diferente de qualquer outro romance gótico. A acção decorre em França durante a Idade das Trevas - o bom conde Richard desaparece misteriosamente, reinando tiranicamente em seu lugar o usurpador Albert e a sua perversa mulher Brunchilda. The Animated Skeleton (Le Château d'Albert, ou le Squelette ambulant) é uma obra-prima do terror gótico, e trata-se, possivelmente, da primeira novela que com estas características literárias se publicou entre nós.
Ilustrado com 4 bonitas gravuras abertas em metal assinadas por Botelho.
*"Romance negro, ou romance gótico, é um subgénero literário nascido na Inglaterra, em meados do século XVIII, tendo como principal característica o terror, suscitado pelas situações do enredo e pela intervenção do sobrenatural. A narrativa de terror ou gótica penetra tardiamente em Portugal, já na terceira década do século XIX, altura em que se assiste ao surto do romance histórico, outro subgénero com o qual a primeira se vem confundir. É neste tipo de romance que comparecem os ingredientes habituais da literatura negra: cenários medievais, castelos e abadias geralmente em ruínas; paisagens sombrias e aterradoras; figuras de salteadores e vilões; espectros e cadáveres. Elementos do romance negro ou gótico estão, assim, presentes nos romances históricos como Eurico, o Presbítero (1844), de Alexandre Herculano, ou mesmo O Arco de Santana (1845-1851), de Almeida Garrett, mas também nas baladas em verso cujo paradigma é A Noite do Castelo (1836), de António Feliciano de Castilho."
(Fonte: infopédia)
Quanto ao tradutor francês, André-Samuel-Michel Cantwell (Paris, 1744-1802) cujo nome vem impresso no frontispício da edição portuguesa, por curiosidade, e porque a sua tradução do inglês forçosamente terá influenciado a versão portuguesa, ficam alguns dados biográficos: foi arquivista e tradutor. Serviu no exército como tenente-marechal da França, entrando mais tarde, em 1792, como bibliotecário, no hotel des Invalides. Sozinho ou em colaboração, traduziu do inglês romances, crónicas de viagem e obras literárias, históricas e políticas. De acordo com a Biographie Universelle de Michaud , "Cantwell foi um dos tradutores mais ignorantes e imprecisos que afligiram a literatura".
"Ouvia-se o sibilar dos ventos, e o bramir da tempestade. As janellas de Jaquemar, deffendidas apenas por simples canniçadas, davam facil entrada á neve violentamente impellida contra a sua choupana, cujo tecto mal construido, a distillava no interior, aonde os filhos de Jaquemar se estreitavam horrorisados contra o peito de seu pai.
Faz tanto frio, papá, lhe dis o mais velho, envolvei-nos no vosso capote. Contai-nos uma historia, diz o mais novo, em quanto esperamos que a maman nos traga algum alimento: e porque se demora ella hoje tanto, papá? [...]
Oh! é a maman, é a maman, gritaram os filhos transportados d'alegria.
Meus filhos, diz Jaquemar, se fosse ella, entraria imediatamente; mas, para vos satisfazer, eu vou examinar.
A choupana de Jaquemar tinha dous quartos, um dos quaes servia de cozinha e de alcova; e no outro, um pouco mais pequeno, alimentavam uma cabra. A porta principal conduzia a este ultimo, motivo porque elles não podiam ver a pessoa que entrava; mas aproximando-se á porta, Jaquemar reconheceu a sua cara Dunifléda, cujas forças atenuadas não lhe permittiam entrar, e ainda menos abrir a porta: o frio, o susto, e a fraqueza tinham entorpecido suas mãos!... Logo que Jaquemar abriu a porta, ella fez um esforço para entrar; mas faltando-lhe as forças, cahiu sem sentidos nos braços de seu esposo!... Jaquemar a conduziu para proximo do lume que a neve tinha já quasi apagado; a dor, e o espanto não lhe permittiram procurar-lhe outros socorros. Engolfado em uma especie de entorpecimento, elle a unia a seu coração, e suspirando contemplava as suas roupas despedaçadas, e seu rosto ensanguentado."
(Excerto do início da obra)
Encadernação coeva inteira de carneira com rótulo carmim e dourados gravados na lombada.
Exemplar em bom estado de conservação. Pasta posterior ligeiramente fendida junto da lombada.
Muito raro.
Com interesse bibliográfico.
Sem registo na Biblioteca Nacional.
60€

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