ZOLÁ, Emilio - OS ROUGON-MACQUART E A CÔRTE DE NAPOLEÃO III. Historia natural e social d'uma familia no tempo do Segundo Imperio. Por... Versão de F. M. Gomes de Sousa. Lisboa, Empreza Litteraria de Lisboa, [188-]. 2 vols In-8.º de 240 p. e 256 p. ; E. (num único tomo)
1.ª edição portuguesa.
«Os Rougon-Macquart» é o título colectivo dado a um ciclo de vinte romances escritos por Zola com o sub título: História natural e social de uma família no tempo do Segundo Império. Nesta saga, Zola acompanha as vidas dos membros dos ramos titulares de uma família ficcional que vive durante o segundo império francês (1852-1870) naquela que é considerada uma das peças literárias mais conseguidas do naturalismo francês, movimento em voga na época. Numa carta ao seu editor, Zola declarou os seus objetivos para os Rougon-Macquart: "1.° Estudar numa família as questões do sangue e dos ambientes [...]; 2.° Estudar todo o Segundo Império, do golpe de estado bonapartista até hoje." Desde sempre, o seu primeiro objetivo era mostrar como a hereditariedade pode afectar a vida dos descendentes; Zola começou a trabalhar nesta “família” desenhando a árvore genealógica dos Rougon-Macquart. Embora tenha sido modificada muitas vezes ao longo dos anos, incluindo alguns novos membros e fazendo desaparecer outros, a árvore original mostra como Zola planeou todo o ciclo antes de escrever o primeiro livro.
"O presidente estava ainda de pé, a sua entrada na sala produzira um ligeiro tumulto. Sentou-se e disse negligentemente a meia voz:
- Está aberta a sessão.
Depois classificou os projectos de lei collocados diante de si na secretária.
Do lado esquerdo, um secretario, miope, com os papeis chegados ao nariz, lia a acta da sessão antecedente, mas isto n'm balbuciar rapido, que vedava a qualquer dos deputados ouvil-o. Com o sussurro da sala esta leitura apenas chegava aos ouvidos dos continuos, cuja seriedade e imponencia contrastava com a semcerimonia dos membros da camara.
Não estavam presentes cem deputados. Uns recostavam-se indolentemente nas bancadas cobertas de veludo carmesim, e, nos seus olhares vagos, conhecia-se que estavam dormitando; outros inclinados sobre as secretárias, como que constrangidos por esta massada d'uma sessão publica, rufavam com a ponta dos dedos sobre as tampas de acajú. Pela abertura envidraçada que descrevia no espaço uma meia lua pardacenta, entrava a luz baça das tardes de maio, que reflectindo perpendicular, alumiava regularmente a pomposa severidade da sala. A claridade reflectindo na larga faxa carmesim das bancadas, produzia um espelhado sombrio amtisado de uns reverbéros côr de rosa nos angulos dos bancos vasios; por traz da presidencia, a mudez das estatuas, o alvejar das esculpturas, desenhava alvissimas paredes.
Na terceira fila dos bancos á direita ficara de pé, um deputado: tinha aspecto preoccupado, e de vez em quando levava a mão ás barbas grisalhas que esfregava rudemente. Passou-lhe ao pé um continuo, ao qual dirigiu a meia voz certa pergunta.
Este respondeu:
- Não, sr. Kahn; o sr. presidente do Conselho d'estado ainda não veio.
Então o sr. Kahn sentou-se, e voltando-se de subito para o collega que estava á esquerda, perguntou:
- Olha cá, Béjuin, viste esta manhã Rougon?"
(excerto do Cap. I, Eugene Rougon)
Émile Zola (1840-1902). “Romancista, crítico e ativista político, Zola é considerado um dos escritores mais importantes do século
XIX. Ficou conhecido pelas suas teorias acerca
do Naturalismo. Nasceu
em Paris a
2 de abril de
1840 e morreu nesta
cidade a 28 de
setembro de 1902. Passou a infância e
juventude em Aix-en-Provence,
no sul de França,
quando o pai, um engenheiro civil de
descendência italiana, esteve
envolvido na construção
do sistema municipal de água. O pai
morreu em 1847 e
Zola voltou para Paris com a mãe
para fazer o liceu.
Com a entrada na
Hachette, Zola mergulhou no mundo da literatura. Conheceu um grande número
de escritores e jornalistas. Leu Taine, Stendhal, Balzac, Flaubert. Nesta altura publicou os primeiros contos e
artigos e abandonou a sua vocação de
poeta para se tornar
romancista. Escreveu o seu primeiro romance, La Confession de Claude , uma
história autobiográfica inspirada
numa antiga e infeliz
experiência passional, publicada
em 1865. Daqui para
a frente vive ao
correr da pena, quer
como romancista, quer como jornalista. Zola publica sucessivamente Le
Voeu d'une Morte (1866) e Thérèse Raquin
(1867), um macabro
conto acerca de um assassínio, mas que
significou a entrada na estética naturalista.
La Fortune des Rougon, o primeiro
romance em série começou a ser escrito
em 1870, foi depois
interrompido devido à guerra franco-germânica e só foi publicado no
final de 1871. Na
década de 1860/70 defendeu a arte de
Cézanne, Manet e os impressionistas Claude Monet, Edgar Degas e
Auguste Renoir nos artigos que publicava em jornais. A composição
da série Les Rougons-Macquart vai ocupar-lhe
quase um quarto de século, de 1871
a 1893."
(fonte: infopedia.pt)
Encadernação simples em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Conserva as capas de brochura fontais.
Exemplar em bom estado de conservação. Capas algo oxidadas. Capa do 2.º vol. apresenta corte (sem perda de papel).
Raro.
15€
Sem comentários:
Enviar um comentário