QUENTAL, Antero de - PROSAS DA ÉPOCA DE COIMBRA. Obra Completa. Edição crítica organizada por António Salgado Júnior. [2.ª edição]. Lisboa, Livraria Sá da Costa Editora, 1982. In-8.º de (21cm) XXVII, [2], 363, [5] p. ; B.
Conjunto de textos de Antero - reflexões, comentários, manifestos, cartas, etc. - referentes aos tempos de estudante em Coimbra, coligidos desde 1849 até 1865. Inclui a chamada 'Questão Coimbrã', onde pontificam as cartas trocadas com António Feliciano de Castilho sobre a Questão do Bom Senso.
"Em tempo em que a força imperava, árbitro irrecusável em todas as contendas, defendiam nobres paladinos e intrépidos cavaleiros, de viseira calada e lança em riste, a honra da dama de seus pensares; e o vencedor ufano ia receber modestamente a coroa e o beijo pudico, paga de seu brio e galhardia.
Era o tempo em que a voz lacrimosa duma dona ofendida em sua honra, ou de donzela acabrunhada por desleal tirano, topava eco certo em todo o coração nobre e generoso, que batia sob um arrnês de cavaleiro, e, em seu desagravo, reunia em volta de si todos quantos braços valentes empunhavam lança ou espada.
Era o tempo em que o insulto feito às damas por orgulhosos Bretões custava caro, custava a vida àqueles que, de imprudentes, ousavam proferi-lo; porque sempre à testa duns - doze de Inglaterra se encontrava um - Magriço-aventureiro a desagravá-las. Tempos foram que jamais voltarão. [...]
Já se não peleja pela formosura da mulher, mas sim pela inocência da sua natureza pura e sem mácula; mas sim por seus direitos; mas sim pelo lugar de honra, que de jus lhe compete no banquete social. [...]
Assim também a mulher é hoje mais reverenciada, mais compreendida e mais amada; hoje a mulher, por assim dizer, fala todas as línguas, cala em todos os corações, afecta todas as formas de literatura e da ciência: a filosofia, a medicina, a poesia, o romance, tudo hoje trabalha com afã em remir a mulher da escravidão da Meia-Idade, de prostituição e embrutecimento do Oriente; e em elevá-la ao tálamo conjugal, a todos os direitos e prerrogativas, que o seu tríplice carácter de amante, esposa e mãe lhe dá jus reclamar."
(excerto de Educação das Mulheres)
"Ao Governo, aos homens desinteressados e liberais desta terra, vamos dar razão ao nosso procedimento. Oiçam-nos. Pedimos um quarto de hora de atenção: não é muito que ao prazer e ao interesse se roubem alguns minutos para atender à voz da mocidade de um país. Essa voz da alma: é a voz da eterna justiça.
Todo o facto pede uma explicação. Se o acontecimento é grave, graves devem ser os motivos que o produziram; e, mais que ninguém, homens novos, quando deliberam, podem sim enganar-se, mas a intenção é sempre generosa e nobre.
Pergunta-se hoje em Coimbra, pergunta-se por todo País: - Que querem os estudantes da Universidade de Coimbra? Que significa a evacuação da sala dos Capelos no dia 8 de Dezembro de 1862? Que protesto é esse duma corporação contra o seu chefe?
Os Estudantes não são meia dúzia de crianças turbulentas que, numa hora de galhofa, se combinem para pregar uma peça engraçada; tantos homens não se entendem, como um bando de rapazes de escola, só com o fim de se divertirem à custa de uma coisa muito séria. Não foi, pois, o prurido da infância o motor daquele acontecimento. Esta hipótese nem se discute. O bom senso da Nação rejeita-a como uma ofensa feita a si mesma na pessoa dos seus melhores filhos.
Os Estudantes não são, tão pouco, instrumentos cegos de vinganças pessoais, trabalhando à luz do dia, mas movidos por um braço oculto na sombra. São instrumentos sim, mas de própria causa. O braço que os impele não vem de cima, nem vem de baixo o impulso que os leva. Escutam a voz da consciência e obram."
(excerto de Manifesto dos Estudantes da Universidade de Coimbra, À opinião ilustrada do País)
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Invulgar.
Indisponível
Abel Acácio de Almeida Botelho (1856-1917). "Natural de
Tabuaço. Foi Oficial do Estado-Maior do Exército Português. Depois de
frequentar o Colégio Militar (1867-1872), fez o Curso de Estado Maior na Escola
do Exército (1876-1878). Aderiu ao movimento republicano, exercendo funções
como deputado e senador, depois do 5 de Outubro de 1910. A nível militar
atingiu a graduação de general e exerceu o cargo de Chefe da 1.ª Divisão do
Exército. Foi chamada para Ministro plenipotenciário de Portugal na República
Argentina, onde, aliás, veio a morrer a 24 de Abril de 1917.
Dedicou-se à vida literária, desde que publicou o primeiro
poema na Revista Literária do Porto, ainda na década de 70. Iniciou-se na
poesia, com a publicação de Lira Insubmissa (1885). Publicou obras integradas
na escola realista (segundo António José Saraiva), entre as quais o ciclo da
«Patologia Social», das quais fazem parte: O Barão de Lavos (1891), O Livro de
Alda (1898), Amanhã (1901), Fatal Dilema (1907), Próspero Fortuna (1910).
Escreveu ainda Mulheres da Beira (1898), Sem Remédio (1900), Os Lázaros (1904) e
Amor Crioulo (obra póstuma).
Pertenceu desde 1881, ao Grupo do Leão, agremiação
espontânea de pintores e artistas exteriores à Academia de Belas Artes da
cidade de Lisboa, que partilhavam entre si uma enorme irreverência contra os
poderes constituídos, lutavam pela educação artística e defendiam os seus
interesses de classe."(fonte: www.fmnf.pt)
Encadernação editorial em tela com ferros gravados a seco e a ouro e negro nas pastas e na lombada. Conserva a capa de brochura frontal.