ALEGRIM, D. Heloise - ARTE DE SER FORMOSA. Preceitos, receitas e conselhos por... Lisboa, Livraria do Povo de Francisco Silva, [191-]. In-8.º (18 cm) de 144 p. ; B.
1.ª edição.
Obra publicada sob pseudónimo. Trata-se de um curiosíssimo manual de conselhos para as senhoras relativamente aos cuidados a ter com a beleza, saúde, higiene, etc., sem esquecer os aspectos morais que contribuem para a formosura feminina. Não foi em vão que o autor escolheu o nome "Heloise", que significa “saudável”, “sã” ou “de ampla saúde".
"Em algumas familias a formosura de suas mulheres é hereditaria como os castellos dos seus brazões nobres e titulos dos seus apelidos ilustres. Isto sucede em todas as partes do mundo, especialisando as mulheres da peninsula iberica.. [...]
Campoamor disse nas «suas crenças»: para um negro a formosura está no preto, para o indio no azul, para o chino no amarelo; o que um labrego considera feio, maravilha pela beleza um inglez. Considerando assim dificil se torna assignalar o feio do bonito.
A experiencia da vida que vale por quantas filosofias e praticas de grandes mestres, fez dizer a Balzac, pessoa entendida em assumptos femeninos, que no Evangelho devia gravar-se esta sentença:
«Bemaventuradas as imperfeitas que dellas é o reino do Amor.»
Apesar de tão sabia e humana sentença, qual a mulher que se resigna a ser feia, na incerteza de poder agradar e por isso de ser feliz?
Os homens variam com frequencia de ideal, umas vezes são as loiras a personificação da beleza, outras vezes são as morenas que triumpham por completo.
A moda influe bastante para isso, as damas de cabellos dourados, tanto hoje em voga, serão substituidas com vantagens pelas de cabellos negros, se a moda assim o exigir e achar conveniente.
Por isso na formosura da mulher influe e muito o gosto particular de cada um. A faculdade do bello é exclusivamente imaginaria visto que quem feio ama bonito lhe parece.
Porque não hade um homem amar e sêr amado, por uma mulher feia ou defeituosa? As mulheres feias distinguem-se pela vantagem das suas qualidades moraes; o amor que sente a mulher, que é o verdadeiro, segundo a opinião da Fisiologia do matrimonio, a misteriosa paixão desconhecida do mundo, o ardente choque de duas almas, é paixão que jámais se extingue, porque nunca chega o dia do desencanto.
Certo é que algumas damas de reconhecida belleza se conservaram fieis á sua viuvez, mas fazem-n'o por capricho glorioso e teem por vezes de sustentar luctas, das quaes nem sempre saem victoriosas."
(Excerto do Cap. I, Feias e bonitas)
"As poucas mulheres que se entregam ao sport, por paixão ou por galanteria, teem sido sugestionadas pelos homens de sua familia ou de sua intimidade, porque é dos homens que sempre parte a iniciação da mulher, nos habitos excentricos, nos vicios, nas evoluções das modas e na desenvoltura dos caprichos.
Sem que todavia me considere isento de responsabilidades, que ao meu sexo pertence, direi que nenhuma culpa tenho do ingresso da mulher nos centros desportivos. Gosto de vêr a mulher em passeios, a pé ou de carruagem, meninas correndo pelas praias ou pelos jardins, aprecio a dança moderada; as creanças n'um balouço ou brincando com os animaes - porque tudo isso é decente, hygienico e proprio do sexo. - Mas uma senhora substituindo o cocheiro, uma menina cyclista ou esgremista, ou, entre homens, arremessando bolas com as mãos e com os pés, desagrada-me e não ha medicos que me convençam de que taes excessos, taes violencias physicas possam dar energia e saude, actuando ainda beneficamente sobre o moral d'essas estravagantes creaturas."
(Excerto do Cap. XVIII, A mulher e o sport)
Matérias:
I. Formosuras - Feias e bonitas - Afortunadas as imperfeitas? - Formosuras celebres - As belezas da alma e formosura do corpo. II. A beleza e a hygiene - Manias e preocupações - Conselhos preudentes - Receitas, hygiene e beleza - Banhos. III. A beleza do corpo - Seus destruidores - A obsidade - Seus perigos - Remedios praticos - Maçagem - O cuidado da cutis - Receitas. IV. Loiras e morenas - Quais as preferidas? - Tinturas e receitas. V. O cabello e os penteados - Para conservar os cabellos - Remedios, precanções e receitas. VI. A boca - A sua hygiene e a sua importancia na belleza - Conselhos e receitas. VII. O nariz - Suas funcções e cuidados - Receitas e conselhos. VIII. Perfumes - Receitas e conselhos. IX. Como se deve caminhar. X. O veu deve usar-se? XI. Os pés e as mãos - Os cuidados precisos - O calçado. XII. O encanto de uma perna - As meias. XIII. A voz é um elemento de beleza e de atracção. XIV. As joias - Sua influencia e valor. XV. O espartilho. XVI. As impertinentes frieiras e a sua cura radical. XVII. A leucorrhea.
XVIII. A mulher e o sport. XIX. A boa alimentação é um poderoso auxiliar da formosura. XX. A beleza da pelle. XXI. As aberrações do instincto genital aniquilam a formosura [capítulo extenso onde o autor culpa o lesbianismo (a inversão), a hipertrofia clitoriana (mulheres de sexualidade confusa, as hermaphroditas) e a ninfomania, pelos desvarios femininos da época, sobretudo em Lisboa, devidamente ilustrados com casos do seu conhecimento de moças da província corrompidas - antes e depois da sua chegada à capital - de Lamego, Oliveira de Frades, Elvas, Aljezur, etc.]. XXII. Receitas de utilidade hygienica e auxiliares de formosura.
Exemplar brochado, na sua quase totalidade por abrir, em bom estado de conservação. Capas frágeis e oxidadas. Capa apresenta falha de papel no canto superior dto. Folha de anterrosto colada à capa.
Raro.
Indisponível
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