AMALIA, Narciza – NEBULOSAS : poesias. De… natural de S. João
da Barra, provincia do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, B. L. Garnier :
Livreiro-Editor do Instituto, [1872]. In-8.º (18 cm) de 192, [4] p. ; [1] f. il.
; E.
1.ª edição.
Raríssima edição original do único livro publicado por Narcisa Amália. Valorizada pelo extenso prefácio de Pessanha Póvoa que não se
limita a elogiar e recomendar a obra da autora, antes faz uma breve incursão
pela história da poesia universal, analisa o estado da poesia brasileira
e o papel que Amália nesta poderia desempenhar.
Livro ilustrado com formoso retrato da autora em folha separada do texto.
“Narcisa Amalia será a impulsionadora e o ornamento de uma
épocha litteraria mais auspiciosa que a presente. Hade redigir os aphorismos
poeticos, como Aristoteles escreveu os da natureza.
Na historia da nossa literatura, o seu enthusiasmo moral,
que é um culto do seu talento, terá uma consagração nos annaes do futuro desta
legião de inteligencias que está celebrando as glorias do presente.
Não a conheço, mas eu imagino que em seu rosto a tristeza
occupa o logar da alegria.
- «A funda melancolia
Não seguiu-a desde a infância,
Deus não fel-a triste assim…
Houve na sórte inconstância,
E se perdeu a alegria,
É de homens obra ruim.» -
A extremosa pureza dos seus pensamentos, o pudor da sua
imaginação, bem inculcam que os seus paes lhe anticiparam um thesouro no
abençoado curso da sua educação, no santo respeito da familia e amor da patria.
Eu penso que o écho das suas palavras é um concerto de
pezares. Ella aborrece a canalha subalterna das lettras, porque ha uma canalha
illustre que é mais fidalga que a nobreza de decreto; essa, ella estima e
applaude.
Narcisa Amalia não é um typo; é uma heroina.
Senio acaba de
pedir que não elogiem os seus livros de prosa.
Eu peço que julguem o livro de N. Amalia, livro que illumina
a grande noite da poesia brasileira.
Quando houver um Conselho d’Estado ou um Senado Litterario,
Narciza Amalia terá as honras de Princeza das letras.
Este livro ha de produzir tristezas e alegrias. É a primeira
brazileira dos nossos dias; a mais illustrada que nós conhecemos; é a primeira
poetisa desta nação.
Delphina da Cunha, Floresta Brazileira, Ermelinda da Cunha
Mattos, Maria de Carvalho, Beatriz Brandão, Maria Silvana, Violante, são
bonitos talentos. Narcisa Amalia é um talento feio, horrível, cruel, porque
mata áquelles. Foram as suas antecessoras auroras efémeras; ella é um astro com
orbitra determinada.” […] Quando neste paiz a Republica Politica galardoar os
benemeritos da Republica Litteraria, Narcisa Amalia exercerá a sua dictadura.
Não é descrente por moda, como foram os imitadores de
Musset; não é sceptica como os de Goethe, é republicana como Schiller, como
Felix da Cunha, e Landulpho; é intangivel como a fatalidade. […] Estreou-se
emancipada da poesia-piegas, do
verso-capadacio, da literatura-artezã, que a hi vivem estucando e
distillando biliosas sujidades e obscenas audacias.
Hade vir a épocha em que o sentimento de patriotismo
reinvindicará os nomes desses talentos extraordinarios.
Seu estylo vigoroso, fluente, academico; a riqueza das
rimas, tão euphonicas, tão reclamadas e necessarias ao verso lyrico, suas
convicções falando á alma e á imaginação, justificam a sua já precoce
celebridade, confirmam a sua sorprehendente e rapida aparição, precedida do respeitoso
coro da critica sincera e grave.
Não sabe fingir nem falsificar.
A sua individualidade litteraria acusa um caracter leal e
capaz de todos os sacrifícios pelas grandes causas.”
(Excerto do prefácio)
Narcisa Amália de Campos (1852-1924). “Poeta, jornalista
e feminista, nasceu em 1852. Mudou-se para Resende aos 13 anos, acompanhando os
pais. Publicou um livro de poesias «Nebulosas».
Militou na imprensa – foi a primeira jornalista brasileira – e lutou pelos
direitos das mulheres, pela libertação dos escravos e pela proclamação da
República em nosso país. Faleceu no Rio, em 1924, no dia de São João. Dois
livros foram escritos sobre sua vida e obra: “Narcisa Amália, vida e poesia”,
de João Oscar, Campos dos Goytacazes, 1994 e “Um espelho para Narcisa – reflexos
de uma voz romântica”, por Christina Ramalho, Elo Editora, Rio,1999. A
acadêmica Heloisa Crespo publicou em 2002, o poema cordel “Narcisa Amália”.”
(carlosaadesa. wordpress.com)
“Narcisa Amália, a republicana admirada pelo Imperador Dom
Pedro. Mesmo sendo defensora das ideias e dos ideais republicanos, Narcisa
Amália era admirada e chegou a ser homenageada pelo Imperador Dom Pedro II, em
reconhecimento pela qualidade da sua poesia.
“Dom Pedro II, em visita a Resende, manifestou o desejo de conhecer a escritora
pessoalmente. Contaram os cronistas que o imperador caminhou até a padaria onde
Narcisa morava e trabalhava, para ouvir de sua própria voz alguns de seus
poemas.”” (“Dicionário Mulheres do Brasil”, página 437).
Por ter sido uma personalidade muito à frente da sua época,
Narcisa Amália também sofreu perseguições, calúnias e contrariedades daqueles
que não aceitavam que uma mulher, em meados do século XIX e primeiras décadas
do século XX, pudesse ter a sua presença marcante na vida cultural do nosso
país, destacando-se como protagonista na história da literatura e, mais ainda,
como defensora da sua autoafirmação e desafiadora corajosa de todos os limites
impostos pela sociedade daqueles tempos à mulher.
(Sinvaldo do Nascimento
Souza, www.rioeduca.net)
“Primeira mulher a se profissionalizar como jornalista no
Brasil, alcançando projeção em todo o país através de seus artigos, Narcisa
Amália publica, em 1872, seu primeiro e único livro de poesias, Nebulosas, obra
que a consagrou. Moradora da cidade de Resende (RJ), casou-se por duas vezes e
por duas vezes também se separou. Porém, se a vida conjugal da poetisa não foi
das mais tranquilas, o mesmo não se pode dizer de sua vida literária, marcada
por um estilo parnaso, destacado por grandes intelectuais, como, por exemplo,
Machado de Assis. Narcisa Amália escreveu poemas para vários jornais da época
e, através do espaço que conquistou na imprensa, trabalhou intensamente em
favor das causas abolicionistas, republicanas e, destacadamente, pelos direitos
da mulher.”
Fragmento
Por que sou forte
(a Ezequiel Freire)
Dirás que é falso. Não. É certo. Desço
Ao fundo d’alma toda vez que hesito...
Cada vez que uma lágrima ou que um grito
Trai-me a angústia — ao sentir que desfaleço...
E toda assombro, toda amor, confesso,
O limiar desse país bendito
Cruzo: — aguardam-me as festas do infinito!
O horror da vida, deslumbrada, esqueço!
É que há dentro vales, céus, alturas,
Que o olhar do mundo não macula, a terna
Lua, flores, queridas criaturas,
E soa em cada moita, em cada gruta,
A sinfonia da paixão eterna!...
— E eis-me de novo forte para a luta.
Crítica
A nova geração
"As flores do campo [de Ezequiel Freire], volume de
versos dado em 1874, tiveram a boa fortuna de trazer um prefácio devido à pena
delicada e fina de D. Narcisa Amália, essa jovem e bela poetisa, que há anos
aguçou a nossa curiosidade com um livro de versos, e recolheu-se depois à
turris eburnea da vida doméstica. Resende é a pátria de ambos; além dessa
afinidade, temos a da poesia, que em suas partes mais íntimas e do coração, é a
mesma. [Naturalmente, a simpatia da escritora vai de preferência às composições
que mais lhe quadram à própria índole, e, no nosso caso, basta conhecer a que
lhe arranca maior aplauso, para adivinhar todas as delicadezas da mulher. Dona
Narcisa Amália aprova sem reserva os "Escravos no Eito", página da
roça, quadro em que o poeta lança a piedade de seus versos sobre o padecimento
dos cativos. Não se limita a aplaudi-lo, subscreve a composição. Eu, pela minha
parte, subscrevo o louvor; creio também que essa composição resume o quadro.”]
(Machado de Assis, Revista Brasileira, 1 dez. 1879).
Principais obras:
Nebulosas (1872); Nelúmbia (conto publicado no jornal Lux!,
1874); Por que sou forte (prefácio a Flores do Campo, 1874).
(in Clássicos Brasileiros: uma seleção de autores com obras
em domínio público = Brazilian classics : a selection of authors with works in
public domain / [organização, Aníbal Bragança ; versão inglesa, Iuri Lapa]. –
Rio de Janeiro : Fundação Biblioteca Nacional; São Paulo : IMESP, 2011.)
Encadernação coeva em meia de pele com ferros gravados a
ouro na lombada. Com defeitos, mormente, falhas nas extremidades da lombada e
no revestimento da pasta posterior. F. anterrosto em falta. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação, sendo que as
primeiras e últimas páginas do livro se apresentam levemente oxidadas.
Muito raro.
Com interesse para a História da literatura brasileira.
Indisponível