P. F. P. C. - NOVO MINISTRO DOS ENFERMOS, OU METHODO PRATICO DE ADMINISTRAR OS SACRAMENTOS AOS ENFERMOS, E ASSISTIR AOS MORIBUNDOS. DIRIGIDO AOS NOVOS SACERDOTES DA CONGREG. DE S. CAMILLO PELO... Da mesma Congregação. LISBOA: NA IMPRESSAO REGIA. ANNO 1815. Com Licença. In-8.º (14,5cm) de XXXIII, [1], 358 p. ; E.
1.ª edição.
Curioso "manual" oitocentista de acompanhamento espiritual aos pacientes e cuidados paliativos aos moribundos, da autoria do padre Francisco Pires da Costa, religioso da Congregação de S. Camilo de Lellis*, não identificado na obra, a não ser pelas iniciais "P. F. P. C." que constam no frontispício. Trata-se de uma obra curial, conjuntamente com As Centúrias de Curas Medicianais de Amato Lusitano (séc. XVI), para a história da assistência aos doentes terminais em Portugal.
*A Casa de São Camilo de Lélis era masculina e pertencia à Congregação dos Clérigos Regulares Ministros dos Enfermos de Portugal e dos Algarves, da qual foi sede. Também era conhecida como Convento dos Camilos da Congregação dos Clérigos Agonizantes. Cerca do ano de 1759, os padres desta congregação instalaram-se em Lisboa, numa casa no Poço do Borratém, na antiga Capela de São Mateus, depois denominada Igreja de São Camilo de Lélis. Dedicavam-se essencialmente a ajudar nos ofícios divinos e a dar assistência espiritual dos doentes do Hospital de São José."
(Fonte: http://digitarq.arquivos.pt/details?id=1379442)
Sobre o livro e a sua importância para a história dos cuidados paliativos em Portugal, recomendamos a leitura do artigo "História dos Cuidados Paliativos em Portugal: Raízes", de António Lourenço Marques, in Cuidados Paliativos, vol. 1, n.º 1 - março 2014 (pp, 7-12), acessível em http://www.apcp.com.pt/uploads/revista_cp_vol_1_n_1.pdf.
"Sendo o ultimo periodo da vida humana aquelle fatal, e critico momento de que pende para sempre huma feliz ou desgraçada sorte; o importante negocio da Salvação de huma Alma, que se acha inquieta com os horrores da morte; angustiada pela união de hum corpo, já prostrado pelos violentos choques da Enfermidade, e que em toda a parte só encontra objectos de dor, e de amargura; exige dos Sagrados Ministros da Igreja hum particular desempenho daquelles importantes deveres, a que estão obrigados pela Uncção, e Caracter do Sacerdocio, que recebêrão, e como Depositarios da jurisdição, que os Primeiros Pastores lhes confiárão.
E com effeito, se olhamos com reflexão para o estado, em que se acha hum Enfermo prostrado sobre o leito da sua dor, attenuado pela falta das forças, que a febre lhe tem consumido, e talvez rodeado de tantos objectos de ternura, de que se vê obrigado a separar-se para sempre: Que zelo, e prudencia; que luzes, e descernimento não são necessarios a hum Ministro de Jesu Christo, que por obrigação, ou caridade, vai a ser o Director de huma consciencia perturbada, vacillante, e talvez illaqueada com abominaveis, e escandalosos crimes! Que fundo de discripção para conhecer de huma causa a mais interessante, pois que se trata de condemnar, ou absolver um Réo segundo a moral certeza da sua dor, e arrependimento! Que terna, e officiosa caridade para o ajudar a examinar os seus peccados; escutallo com benevolencia, para o não desanimar; instruillo com doçura, para o persuadir; sofrello em fim com paciencia, para o não perder! [...]
O frequente exercicio do nosso caritativo, e penoso Instituto, me tem obrigado a pensar com alguma reflexão nas gravissimas difficuldades, que se offerecem no desempenho das obrigações que elle prescreve. E ainda que os muitos, e differentes Livros, que entre Nós se tem publicado para direcção dos que assistem aos Enfermos, e Moribundos, contém excellentes Práticas, Avisos e Reflexões importantes, para dispôr, e animar hum Enfermo, e excitallo á dor, e compuncção das suas culpas; com tudo, como a Arte de bem morrer sempre foi entre todas a mais difficultosa, e o acerto daquelle arriscado passo pende principalmente dos socorros da Igreja, administrados em tempo, e occasião opportuna; cheguei a persuadir-me, contribuiria de algum modo para hum fim tão interessante, e serviria ao mesmo tempo ao commodo e utilidade de Vossas RR., se lhe offerecesse neste Livro alguns uteis, e proveitosos Documentos, para se dirigirem com acerto na Administração dos Sacramentos aos Enfermos, e decidirem alguns casos mais difficultosos por meio de huma prompta e segura Resolução: e esta será a Materia da Primeira Parte.
Porém como não basta dirigir com promptidão, e segurança a consciencia de hum Enfermo; mas he tambem necessario prestar-lhe hum espiritual socorro, quando já Agonizante, e Moribundo: Constará a Segunda Parte de algumas Breves Exhortações, que se deverão regular segundo o tempo, estado, e occasião, e conforme o exigir a necessidade; ao que se ajuntão as Preces, e Orações da Igreja, e outras, que o uso, e a piedade tem adoptado para o fortalecer, e animar naquella hora contra os ataques do commum Inimigo, concluindo finalmente com alguns Actos, Jaculatorias, e Aspirações proprias para os ultimos momentos, tudo em periodos concisos, clausulas breves e terminantes; porque a experiencia tem mostrado, que naquelles ternos, e piedosos lances, hum ardente zelo, e huma caridade affectuosa pela Salvação das Almas, são bem capazes de fazerem tocante, discreta, e persuasiva e lingua mais rude, e balbuciente."
(Excerto do Prólogo)
Encadernação coeva inteira de carneira com dourados na lombada. Apresenta falhas de pele nas pastas e na lombada.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Algumas páginas com pequenas falhas de papel nos cantos. Pequeno trabalho de traça, sem afectar a mancha tipográfica, visível apenas nas duas primeiras, e derradeiras folhas do livro.
Raro.
Peça de colecção.
Indisponível
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