27 abril, 2012

FORJAZ, Augusto – PORTUGAL E BRAZIL. Apontamentos para a historia do nosso conflicto com a republica dos Estados Unidos do Brazil : por… Lisboa, Typographia Castro Irmão, 1894. In-8º (21,5cm) de 105, [5] p. ; B.
Relato documentado do conflito diplomático que opôs o Brasil a Portugal em 1894, consequência do pedido de asilo dos oficiais brasileiros revoltosos e os seus homens após a Revolta da Armada, aceite pelo Comandante das forças portuguesas fundeadas na baía de Guanabara, Augusto de Castilho*, que muito contrariou o governo brasileiro que havia pedido a sua entrega.
*Augusto de Castilho (Lx, 1841-Lx, 1912). “Contra-Almirante da marinha portuguesa. Comandava em 1893, surta no porto do Rio de Janeiro durante a revolta da armada, e recebeu a bordo o Almirante Saldanha da Gama e as guarnições dos navios insurrectos, transportando-os a Montevideo e salvando-os assim de morte certa. Por este facto, respondeu em Lisboa a um concelho de guerra, que o absolveu por unanimidade. Foi ministro da Marinha duas vezes.”
“Em 9 de fevereiro de 1894, a crise política transformou-se em conflito armado. Tropas rebeldes da Marinha desembarcaram em Niterói e tentaram cercar o Rio, mas foram derrotadas pelas forças legalistas. Saldanha da Gama e mais 525 revoltosos buscaram asilo em navios portugueses atracados na baía de Guanabara, o que provocou o rompimento das relações diplomáticas entre Brasil e Portugal, reatadas apenas em 1895, já no governo de Prudente de Morais.” (www.franklinmartins.com.br).
“A fuga dos refugiados brazileiros de bordo das corvetas portuguezas Mindello e Affonso d’Albuquerque e do vapor Pedro III foi, como se sabe, a causa das reclamações do governo argentino (felizmente já resolvidas sem desdouro para Portugal) e, também, uma das causas, talvez a principal, do nosso conflicto com a republica dos Estados Unidos de Brazil, para cuja solução o governo inglez aceitou ser o intermediário. Como consequência d’esses lamentáveis factos, o governo portuguez mandou levantar auto a fim de se conhecer da responsabilidade que possa caber aos comandantes d’aquellas corvetas, os srs, capitães de fragata Augusto de Castilho e Francisco de Paula Teves, e, principalmente, ao primeiro commandante das nossas forças navaes surtas na bahia do Rio de Janeiro, quer com relação á fuga dos refugiados de bordo do vapor Pedro III, quer com respeito ao asylo concedido ao almirante Sandanha da Gama e aos seus officiaes, ordenando mais que o sr. capitão de mar e guerra Lopes de Andrade fosse a Buenos Ayres fazer um rigoroso inquérito sobre todos esses acontecimentos.
[…] muitos dos factos ocorridos não são do dominio publico, uns, porque só d’elles se poderá saber no final do processo, outros porque ainda se não disse como os factos se tinham passado desde que as nossas corvetas sairam da bahia do Rio de Janeiro, e, ainda, porque entre uns e outros há muitas circumstancias que convém tornar conhecidas da opinião publica, para que, antecipadamente, se não façam apreciações menos justas.**
**O facto de haver em Portugal um jornal subsidiado, ou sustentado, por capitaes obtidos no território brasileiro, e de ter elle censurado asperamente o governo d’aquella republica e os actos praticados pelo seu chefe de estado, obrigou-nos também a formular este protesto que, certamente, terá o apoio da opinião sensata. Contudo, e apesar d’isso, este livro não representa antecipadamente manifestação alguma favoravel ao governo brazileiro, ou, principalmente, ao presidente d’aquella joven republica, porque, quando um dia, que necessariamente chegara, se conhecerem os actos por elle praticados durante a sua nefasta gerência, as barbaridades commettidas nos naturaes do paiz e nos extrangeiros ali estabelecidos, as vinganças mesquinhas e perseguições odiosas de que tem lançado mão, atulhando os carceres com innocentes e ordenando que, muitos, fossem passados pelas armas, esse homem há de merecer o epitheto de despota e de usurpador e, também, se não o odio, pelo menos o desprezo das populações civilizadas. Felizmente, porem, esse homem não é o Brazil, republicano ou monarchico, e, por isso, lastimaremos sempre a pouca, ou nenhuma energia,  de que démos provas evidentes, auctorizando, com essa manifestação de fraqueza, o seu insulto, e, terminado, pela falta de critério e seriedade da parte dos nossos representantes, por lhes dar azo a manifestar-nos o seu odio e, o que é mais, a desejar impor-nos a sua vontade! Podemos nós dizer isto, mas nunca os que, por simples intriga ou interesse mercenário, teem lançado mão de expedientes menos dignos, concorrendo, com a sua maneira de pensar e de proceder, para alimentar a corrente de opinião que, contra Portugal, se teem infelizmente manifestado nos Estados Unidos do Brazil e na republica Argentina.” (excerto do prólogo)
Exemplar em bom estado de conservação com falta da capa de brochura; canto superior dto do rosto apresenta mancha de humidade.
Raro, com grande interesse histórico.
45€

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