07 fevereiro, 2017

AZEVEDO, A. J. - D. CARLOS, O DESVENTURADO. Notas intimas e noticia historica do attentado contra a Familia Real Portugueza. Lisboa, [s.n.], 1908. In-8.º (22cm) de 32 p. ; B.
1.ª edição.
Opúsculo coevo com interesse histórico. Trata-se de alguns apontamentos sobre a vida privada de D. Carlos, seguido do relato pormenorizado do regicídio.
"As carruagens partiram a trote pela rua occidental do Terreiro do Paço, e as differentes pessoas, que iam e vinham ao longo da arcada e pelos passeios, tiravam respeitosamente os chapeus, a que o rei correspondia conservando conservando nos labios um sorriso attrahente, que a rainha imitava, inclinando a cabeça com a sua proverbial amabilidade.
Nada fazia prever a imminencia da catastrophe que segundos depois teria logar.
Quando o landau ia a descrever a curva para entrar na rua do Arsenal, n'esse momento, Buiça, um dos regicidas, affastou-se d'um kiosque de refrescos, que fica dentro das arcadas, tirou debaixo do gabão que vestia, uma carabina com que se munira, e sereno, com a maior tranquilidade, visou D. Carlos á sua vontade; ninguem o via, todos os olhos se fixaram no prestito que ia desfilando. Bem certo de que o tiro não falharia puxou pelo gatilho e a bala, desfechada quasi á queima-roupa, penetrou no pescoço do monarcha e esphacelou-lhe as vertebras cervicaes.
A morte fôra instantanea.
Ao mesmo tempo, Alfredo Luiz da Costa, do lado direito da carruagem, subia á capota do landau, e, desfechava o seu revolver. Este acto, de phrenetica exasperação, tornava-se absolutamente escusado. O rei, evidentemente estava morto, pois pendia para a frente, ensopando o tapete e o couvre-pieds do sangue que, aos borbotões, lhe jorrava dos ferimentos.
A rainha, estupefacta, com o pasmo horroroso de aquelle ataque sanguinario, puzera-se de pé, de salto, e, com o mesmo ramo de flores com que pouco antes uma sua afilhada lhe desejára as boas vindas, quiz repellir o aggressor.
Buiça ajoelhára, e, com o mesmo socego da primeira vez, apontou para o principe, que se levantara, como sua mãe e seu irmão, aturdidos, desvairados, e varou-o, entrando-lhe a bala pela face, destruindo-lhe a região malar e a orelha, sahindo-lhe pelo bolbo, o que provocou a congestão a que succumbiu segundos depois.
Um policia, que voltava a si do subito assombro, correu sobre elle. Ainda de joelho no chão, alvejou este adversario e furou-lhe o capote com uma bala. Assim hostilisado, o guarda disparou-lhe por seu turno o revólver, que o attingiu no peito e o fez vacilar. Foi n'esse instante que appareceu um soldado de infantaria 12, expedicionario do Cuamato, Henrique Alves da Silva Valente, que o agarrou pelo pescoço e o derruvou, não sem que o regicida de dabatesse furiosamente e ainda disparasse a arma, ferindo-o n'uma perna. Já subjugado, com a esperamça perdida de se poder evadir, deparando-se-lhe na frente o tenente Francisco Figueira, official ás ordens d'el rei, que lhe vibrára uma cutilada na cabeça, ainda disparou novo tiro que tambem acertou n'uma perna d'este militar."
(excerto do atentado contra a Familia Real)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis, manchadas, com defeitos. Capa apresenta falha de papel no canto superior esquerdo.
Raro.
15€
Reservado

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