EPIFANIA, Fr. Manoel da – VERDADEIRO METHODO // DE //
PREGAR, // PRATICADO EM VARIAS // Oraçoens Funebres, Sermoens Panegyri- // nos,
e Discursos Moraes de Pro- // fissoens Religiosas // POR // Fr. MANOEL DA
EPIFANIA, // Religioso de S. Francisco da
Observante // Provincia de Portugal,
e Leitor // Jubilado // LISBOA:
// Na Officina de Antonio Vicente da Silva. // Anno de MDCCLIX. // Com todas as licenças necessárias, // e
Privilegio Real. In-8º (20cm) de [8], 419, [1] p. ; E.
Obra de referência do movimento renovador, pela
simplificação do discurso moral barroco.
“A oratória sacra adquiriu na época barroca uma intensidade
retórica, seja no enquadramento paroquial ou conventual, que dimana da piedade
prevalecente. Proferida do púlpito, a pregação religiosa cumpria a dupla função
de ensinar e exortar os fiéis. Expressividade gestual e eloquência potenciavam
a mensagem. No âmbito do ministério eclesiástico, o pregador transmitia,
defendia e incitava os ouvintes aos artigos da fé, à palavra da salvação. […]
Do predomínio de delectare caminha-se
para o privilégio de docere. Os
sinais de crítica e renovação encontram-se no entender de Pinto de Castro, na Nova arte de conceitos (1718-1721),
Francisco Leitão Ferreira, que propõe uma moderação conceitual: retórica
perceptível, sóbria, equilibrada e verdadeira. Todavia, é consensual, que só
com Luís António Verney se desencadeou uma plena reacção anti-barroca.
Publicado em 1746, O Verdadeiro Método de
Estudar sugere uma renovação do sistema pedagógico nacional, em todos os
níveis de ensino, seja no domínio dos métodos ou no das matérias. […] A
propensão para o “vício do ambíguo” foi reconhecida pelo Cardeal Patriarca de
Lisboa, D. Tomás de Almeida, na pastoral de 2 de Julho de 1742, publicada nas
igrejas da vila de Santarém no domingo, 12 de Agosto. Na qual se adverte os
pregadores para a moderada aplicação engenhosa das expressões, de sorte que
“nam elejam paradoxos por assumptos, que se costumam ordenar com subtilezas,
sem fundamento de verdade”, que só “servem de ostentar vaidade do Pregador em
confuzam e detrimento das almas”. O discurso deve ter clareza e verdade. Para
isso, lê-se, façam-se “discursos moraes”, mas “despreze-se o noscivo, e
superfluo”, as “palavras exquizitas” e os “estylos affectados, e artificiozos”.
Instrução que se situa já num momento renovador do estilo parenético: pedagogia
sem teatralidade retórica. A teorização da parénese renovada é da autoria de
Frei Manuel da Epifania, com o seu Verdadeiro
Método de Pregar (1759)…” (Maria de Fátima REIS, A parenética scalabitana: piedade e estética barroca, http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/7558.pdf)
“Chegou a epoca feliz, em que Portugal se esforça para sahir
do antigo cativeiro, a que o tinha reduzido a falta do bom, e verdadeiro
methodo nas artes, e nas sciencias. Todos principiaõ a trabalhar para o bem comum
da Republica: as ideas adimraveis, que se formaõ, prometem hum Imperio
florente, e fazem utilidade á nossa Naçaõ; o aparato brilhante, que se prepara,
nos fornece os meyos para chegarmos á perfeiçaõ das bellas letras. Isto he
concorrer para o bem comum de Portugal. Neste tempo, em que tanto se zela a
prefeiçaõ dos estudos da nossa Patria, naõ he justo que o ministério sagrado do
púlpito fique no antigo estado: o bem espiritual das almas he mais necessário do
que o bem temporal da Republica. Este ministério sagrado tem duas enfermidades
inveteradas, que necessitaõ de remedio: eu naõ sou medico com as qualidades necessárias
para remediar este damno, nem reformador, que possa contribuir para formar a
estatura brilhante da eloquência do púlpito: o mais que posso fazer he debuxar
este tosco desenho, a fim de que os homens de bom caracter possaõ levar esta idéa
á sua perfeiçaõ, ficando-me a honra do desejo, que me acompanha de ver entre
nós em melhor estado a eloquência sagrada.” (excerto da introdução – “Ao Leytor”)
Encadernação coeva inteira de carneira com nervuras e ferros
a ouro na lombada.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Observam-se
alguns defeitos nas pastas; mancha de humidade antiga, marginal, no canto
inferior, com especial incidência nas folhas iniciais e finais.
Raro.
Com interesse histórico.
85€
Sem comentários:
Enviar um comentário